Por Dulce Magalhães
A neurociência, que se dedica a estudar como o cérebro humano funciona e aprende, tem demonstrado que temos a tendência a repetir as experiências e, por conta disso, dificuldade de experimentar o novo. Isso explica porque repetimos hábitos, métodos, modelos e atitudes infinitamente.
Muitos teóricos do comportamento têm falado sobre nossa “zona de conforto”, que é uma cristalização de um comportamento conhecido e consolidado; a expressão exata do conjunto de práticas que nos acostumamos a viver e a repetir; e que também é a representação mais contundente de nossa dificuldade de mudar; é necessária pouca energia mental e física para reproduzir uma ação.
Na zona de conforto estão todas as técnicas que dominamos, as experiências de vida e as crenças a respeito do possível e do inviável. É uma área elástica do nosso comportamento, mas não muito. Ou seja, somos capazes de mudar alguma coisa, como a marca da pasta de dentes ou o caminho para o trabalho, porém não estamos dispostos a mudar hábitos arraigados, como a alimentação ou atividade física, nem a mudar nossa crença, como ser ou não ser capazes de dominar um idioma.
Mesmo que as evidências e a lógica provem a sensatez da mudança, nosso modelo de comportamento nos pressiona a nos ater ao conhecido.
Porém, quando pensamos em termos do que sonhamos, dos objetivos que temos, da vida que almejamos, podemos perceber que essa zona é de verdadeiro desconforto. Há uma frustração constante em relação ao que estamos alcançando na vida. Isso se dá em virtude da diferença entre o que fazemos e o que pretendemos.
De um modo geral, temos uma tendência a fazer o que é mais simples, ou seja, o que estamos mais habituados e não exige nenhum esforço. A fazer o que é considerado normal, dentro dos padrões, sem oferecer grandes surpresas nem resultados acima da média, pois isso exigiria uma outra forma de pensar e agir.
Também fazemos o que é automático, ativamos nosso programa básico e quase sem pensar, agimos. Às vezes nos pegamos fazendo coisas que criticávamos em nossos pais ou amigos, todavia é tão automático que repetimos sem pensar. E, por fim, fazemos o que é absolutamente previsível, pois o surpreendente exige um esforço inovador que está distante de nossa zona de (des)conforto.
Definitivamente, a gente precisa se liberar dessas amarras. Deixar o simples, o normal, o automático e o previsível de lado. Não nos deixar guiar pela cegueira das repetições tão profundamente aprendidas. É preciso arejar a alma, olhar o mundo com olhos bem abertos, trocar o simples, que é o básico, pela simplicidade, que é a retirada de camadas inúteis de nosso comportamento. É preciso parar de fazer o normal, para fazer o melhor, o que faz real diferença. É preciso sair do automatismo e ir em direção ao presencial, que é estar presente de corpo e alma no momento, não só passar pelo tempo, mas usufruí-lo. Deixar de ser previsível para ser verdadeiramente único. Fazer diferença no mundo dá muito mais trabalho, porém é só isso que faz com que nossa vida valha realmente a pena. Reflita sobre isto. Suerte!