por Alex Botsaris
Conta uma lenda que há 6 mil anos um povo desceu das montanhas trazendo os Vedas, livros sagrados dos indus. Alguns pesquisadores acreditam que essas pessoas eram provenientes do Tibet e que a data real seria 1.500 a.C.. Um dos Vedas era dedicado à medicina, e deu origem à medicina ayurveda.
Na tradição chinesa, vários indícios da influência da cultura tibetana também podem ser identificados. É interessante notar que a medicina tibetana parece uma mistura da medicina chinesa com a indiana. Os dados coletados por pesquisadores até o momento, indicam que a medicina chinesa e a ayurveda são mais antigas que a tibetana, sugerindo que ela seja uma fusão. Mas isso ainda não está totalmente definido. Enquanto não se chega a uma conclusão definitiva de qual é a mais antiga, e quem deu origem a quem, a medicina tibetana é a nova coqueluche dos amantes da cultura oriental, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa.
Um ponto onde a medicina tibetana tem um forte diferencial é na sua grande relação com o budismo tibetano. Pode-se entender a medicina tibetana como a visão que o budismo tem do organismo humano, das relações entre os seres vivos e as doenças. É possível que o sucesso que a medicina tibetana alcançou nos últimos anos, deve-se em parte à visibilidade que o Dalai Lama conquistou nas últimas décadas. Por isso muitas pessoas que foram se tratar com medicina tibetana, também se tornaram budistas, ou foram fortemente influenciadas pelo budismo.
Na visão da medicina tibetana existem cinco elementos (terra, água, fogo, ar/vento e vácuo/éter) na natureza, que criam os três humores, que são os responsáveis por todas as funções do organismo. O primeiro é pneuma ou ar (rLung), que se localiza na pelve e é formado pelo elemento ar/vento. Pneuma (rLung) é o responsável pelos movimentos do corpo, como pensamento, respiração e movimentos do parto.
O segundo é a Bile (mKris-pa), formada pelo fogo e pela terra, se localiza no abdome e sua função é aquecer o organismo, promover a digestão e assimilação de alimentos, e é a fonte da coragem e da determinação.
O terceiro humor é a fleuma (Bad-kan) formada pela água. É de natureza fria, consistente e pegajosa, e localiza-se no tórax. A fleuma é responsável pela lubrificação do corpo, pelas articulações, pela firmeza da pele, promove o sono, umidifica os tecidos e é a fonte da calma e da tolerância.
Os três humores se combinam para formar os sete tecidos e fluidos corporais que são: a essência nutritiva dos alimentos, sangue, músculos, gordura, ossos, as medulas (incluindo o cérebro) e o fluido corporal. Os fluidos e tecidos geram as três eliminações: as fezes, a urina e o suor. O diagnóstico da medicina tibetana é feito pela história (interrogatório), palpação (do pulso, dos órgãos), e pela observação (das eliminações – principalmente da urina, da língua, e da face).
O tratamento começa pelo espírito, já que a medicina tibetana entende que sua perturbação é um das principais causas de doença. Isso é feito com meditação, que pode ser isolada ou se a pessoa quiser, durante orações num templo budista. Na tradição tibetana mantras (palavras especiais para meditação) são indicadas pelo médico ao paciente, para serem repetidas durante a meditação e, em geral, retiradas de textos tradicionais. A medicina tibetana também indica exercícios de yoga e outros exercícios respiratórios para harmonizar os humores no corpo.
Como a medicina chinesa e ayurveda, a tibetana tem um mapa de pontos de energia no corpo, e os pontos pode ser estimulados por moxas – que são as mesmas folhas secas e masseradas de artemísia usadas na acupuntura – que são queimadas no local.
Outra grande arma terapêutica são as plantas medicinais, muitas comuns à medicina chinesa ou ayurveda. Os tibetanos combinam suas plantas em fórmulas tradicionais que são indicadas para eliminar os venenos do corpo, harmonizar os humores e reforçar a função dos órgãos e tecidos.
A medicina tibetana ainda tem princípios para alimentação equilibrada, combinando os alimentos de forma a buscar o equilíbrio conforme a constituição de cada indivíduo. Sem dúvida, é uma tradição muito interessante e atraente, mas sua disponibilidade no Brasil ainda é muito restrita. Vamos fazer votos, que o mais breve possível, possamos também ter acesso a esse conhecimento milenar.
Atenção! Esse texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento