por Renato Miranda
Semana passada participei de um programa de televisão cujo tema era o medo no esporte. No programa, atletas de surfe, ginástica olímpica, escalada e outros relataram suas diversas experiências em relação ao medo e suas maneiras de conviver com esse fenômeno tão comum ao homem, seja na vida esportiva ou em qualquer momento.
Minha participação se resumiu em explicar de alguma forma, como o medo faz parte do cenário do esporte e suas correlações no desempenho do atleta e por extensão em outras situações.
Primeiramente é possível aceitar o medo como algo natural e, portanto, criar resistências perante o medo é perda de tempo e infrutífero, pois se não houvesse o medo para que serviria a coragem. Lutar contra o medo só serve para criar resistência, produzir ansiedade, nervosismo e insegurança, e com isso diminuir a qualidade da nossa tarefa.
Portanto, o medo deve ser absorvido com naturalidade e transformá-lo em algo positivo. Assim sendo, o medo nos servirá para mantermos em alerta e mostrar o quanto devemos ser precavidos e nos preparar. Além disso, o medo nos ajuda a autoavaliar treinamentos e competências, checar estratégias, equipamentos e procedimentos. Sem medo, podemos ficar impulsivos, arrogantes e negligentes. Como consequência, experimentar derrotas e, em alguns casos, tragédias inesperadas.
Em muitas situações é o medo que nos faz aprender e pesquisar informações e com isso absorvemos e o dominamos naturalmente. Sem informações adequadas o desconhecido ganha forças ilusórias e potencializa o medo.
O medo é o amigo silencioso que nos faz planejar ações e preparar nosso corpo e mente para o enfrentamento. Veja o caso de bons escaladores de montanha, antes de iniciarem qualquer expedição, planejam cada estratégia, movimento e tudo o mais.
Nós temos no esporte muitos casos frustrantes e tristes em função de atletas e treinadores não terem escutado a “voz do medo”. Derrotas que vieram porque não temeram o adversário e por isso não se prepararam adequadamente. Desastres na montanha, em situações de pouco risco por que atletas não checaram o equipamento de segurança ou dispensaram o “back-up” (um segundo equipamento de segurança, ou simplesmente uma reserva de segurança).
Enfim, ao aceitar o medo o atleta vai em frente, porque ele se prepara para o desafio, ao desprezá-lo ele fracassa porque negligencia a realidade.
Uma dica que sempre dou aos atletas que sentem medo por algo e não conseguem transcendê-lo é responder algumas perguntas:
Tenho medo por quê…?
Será que estou realmente preparado?
O desafio é proporcional às minhas habilidades psicofísicas?
Tenho um bom plano de ações?
Meus equipamentos são adequados?
Conheço bem as adversidades que enfrentarei?
Sob risco, consigo vislumbrar o sucesso?
Quando o atleta responder positivamente a essas perguntas o medo será um grande aliado e deixará de ser um obstáculo.
Por fim, lembre-se, todos os atletas sentem medo, os mais corajosos, aceitam o medo como parte integrante da vida, aliam-se a ele e, por conseguinte preparam-se disciplinadamente para o desafio e com ímpeto vão em frente. Como resultado esses atletas conhecem o outro lado do medo: a liberdade!