por Cybele Russi
Como os pais devem agir quando o filho chega em casa trazendo um problema acontecido com ele na escola? A atitude dos pais deve ser a de ir até a escola e apurar o que, de fato, aconteceu. Além de ter uma visão real e verdadeira do fato, os pais demonstram com essa atitude que estão ouvindo as duas partes envolvidas na história. Problemas nunca são unilaterais, sempre envolvem duas partes. Portanto, o correto é que as duas partes sejam ouvidas e possam ter o direito de expor suas versões. Não é benéfico para os filhos que os pais estejam sempre e incondicionalmente a seu favor, até porque o respeito à democracia começa em casa, quando demonstramos, por meio de nossas atitudes, o respeito à igualdade de direitos de todos. Uma vez constatada a razão do filho, aí sim, os pais deverão tomar todas as atitudes necessárias para defendê-lo e protegê-lo.
Um fato muito comum na escola é o problema dos apelidos. A escola deve tomar uma atitude quanto a isso. E os pais, o que eles podem fazer para que o filho não se sinta discriminado pelos próprios colegas?
A questão dos apelidos é um problema sério nas escolas, principalmente no Brasil, onde os apelidos fazem fama; brasileiro adora pôr apelidos em tudo e em todos. É rara a pessoa que não tenha um. Acontece que na escola, algumas vezes, os apelidos acabam assumindo um caráter maldoso e discriminatório, criando na criança e no adolescente um desconforto enorme em relação ao grupo.
É papel da escola coibir e até impedir o uso dos apelidos, mas controlar essa situação é quase impossível, pois eles continuam a aparecer, como se brotassem por geração espontânea, independente dos esforços da escola de suprimi-los. Os alunos sempre encontram um momento para apelidar os colegas, e como sabemos, apelidos pegam mais do que sarampo. O papel dos pais, por sua vez, deve ser o de reforçar a autoestima do filho, no sentido de lhe fazer ver que ele é muito mais e maior do que o apelido ou a alcunha que lhe possam dar.
Não é fácil para uma criança ou adolescente lidar com um apelido, ainda mais se este for pejorativo. Mas se ele tiver seu amor-próprio, sua auto-imagem e sua autoestima reforçados positivamente pela família, a questão do apelido acaba se tornando secundária. Na realidade, apelidos só pegam em pessoas com baixa autoestima. Crianças e adolescentes autoconfiantes tiram os apelidos de letra. E ainda acabam fazendo brincadeiras sobre ele, de modo que o apelido acaba se tornando um nome de referência, uma marca registrada, no sentido positivo.
O que os pais nunca deveriam fazer na presença dos filhos são críticas à escola e aos professores, pois eles levam muito a sério a opinião dos pais. Fazer críticas negativas à escola e aos professores só gera insegurança nos filhos, que afinal, acreditam nas escolhas dos pais. Se o próprio pai escolhe a escola e depois critica, o que a criança não irá pensar? Que tudo o que acontece lá dentro é passível de dúvida e de questionamento, até a segurança e o conhecimento do professor. Então, a melhor atitude dos pais, quando se sentem insatisfeitos com algum fato ocorrido dentro da escola, é procurar diretamente a escola ou o professor, e não fazer críticas negativas na presença dos filhos. Em contrapartida, fazer elogios à escola e aos professores só reforça a imagem positiva que o aluno tem da escola e dos professores, aumentando assim o interesse e o respeito por eles.
A melhor maneira de ajudar o filho na escola, em qualquer situação que aconteça, é estando ao seu lado e tentando encontrar soluções conjuntas para os problemas. É importante para a formação da criança, não só observar como se resolvem os problemas interpessoais, mas aprender que estes são os mais comuns na vida das pessoas. Dificuldades de relacionamento entre as pessoas é o que mais ocorre no mundo atual, paradoxalmente, pois que nunca se falou tanto em aceitação das diferenças. Entretanto, até o discurso chegar à prática, leva uns bons anos.
A escola é, sem dúvida, o espaço privilegiado onde todas as experiências e vivências sociais acontecem na vida do indivíduo. É por meio dessas experiências e vivências que a criança vai se desenvolvendo e se percebendo como cidadão pertencente a um grupo social. Todavia, é impossível para escola e para os professores terem o controle de todas as situações que ocorrem dentro do seu espaço, principalmente das questões de relacionamento entre alunos, visto que estas são, na grande maioria das vezes, questões subliminares, que escapam ao olhar, mas que ocorrem de forma subjacente. Muitas vezes são pequenos gestos, pequenas palavras, pequenos olhares que escapam para quem está próximo, mas que ferem imensamente a quem os recebeu. Nessas situações é que se faz importante a presença dos pais, não só para irem até a escola tirar satisfação do que realmente acontece, mas no sentido de mostrar ao filho que a vida é isso mesmo: algumas vezes engolir sapos; outras sentir-se injustiçado; outras ainda, apanhar e não conseguir revidar e na grande maioria das vezes, levar o desaforo para casa. E fazer o filho perceber que, independentemente do ocorrido, ele tem o seu valor e seu caráter, mas que disputas interpessoais são comuns e muito mais freqüentes na vida do que se gostaria.
De todas as vivências que temos na escola, com certeza absoluta, as que nos marcam indelevelmente para o resto de nossas vidas, são as sociais. Na verdade, são as experiências sociais bem ou mal sucedidas que nos farão ter prazer ou desprazer em ir para a escola. É por esta razão que dizemos que a autoestima e a auto-imagem são fundamentais nesse momento, pois são elas que garantirão à criança sobreviver de forma equilibrada num mundo onde a crueldade humana impera, ainda que de forma subliminar e disfarçada.
Nesse sentido, a união de pais e escola nunca foi tão importante, pois se há um momento histórico em que o respeito ao outro, com todas as suas características e diversidade se faz necessário, o momento é agora.