por Dr. Joel Rennó Jr.
É comum na minha prática clínica receber pacientes amantes do "cybering", ou seja, da relação amorosa online. Por uma série de fatores, tais relações amorosas virtuais vêm crescendo de forma assustadora.
A Internet permite comunicarmo-nos com um incontável número de pessoas que não têm rosto. As crianças de gerações anteriores costumavam escrever um segredo em um papel, colocá-lo em uma garrafa e jogá-lo ao mar, sem nunca saber se alguém encontraria. Em nossa cultura informatizada, um membro de um casal pode enviar uma mensagem a um número infinito de possíveis receptores anônimos, e muitos deles enviarão respostas. A comunicação pela Internet com um outro cria um ambiente de segredo.
Alguns são tímidos adolescentes com dificuldades na abordagem inicial de suas "paqueras". Outros são pessoas casadas com sentimento de solidão ou então buscando emoções novas e incessantes.
Relacionamentos, via Internet, dependendo da dosagem e do nível de integração com os relacionamentos pessoais, offline ou concretos, podem ser positivos ou negativos. Não podemos adotar uma postura rígida ou única.
A interatividade absoluta com a utilização de vídeo, Internet, tela interativa (inclusive pelo toque), dentre outros, construiu a realidade virtual que nos cerca por toda parte. Na frente do computador a pessoa mergulha numa realidade diversa, virtual, na qual não há mais separação entre o ator, a platéia e o palco: tudo se confunde, nada/tudo existe. Os papéis não são mais individuais. Estamos todos juntos e separados ao mesmo tempo: formamos o paradoxo virtual da convivência imediata e do isolamento eterno. A frieza dos contatos mantidos somente por aparelhos cibernéticos afasta, sonega e simula o calor humano. Perde-se a referência de quem é o outro. Não se sabe o que é real ou virtual. Chega-se a ser o outro de ninguém: da máquina, desse avanço tecnológico performático desconectando de qualquer alteridade.
O filósofo israelita Aaron Ben-Ze´Ev, autor do livro "Love On Line", um estudo pioneiro sobre os relacionamentos amorosos na Internet, defende que a tendência deve ser expandida até impondo uma nova ética à sociedade, nas suas estruturas tradicionais como namoros, casamentos e relacionamentos casuais.
Honestamente, não acredito em tal magnitude transformadora, desde que as pessoas possam ser orientadas, informadas e alertadas de todos os possíveis riscos envolvidos.
A imaginação é muito estimulada nas interações "on line". Pessoas imaturas psicologicamente podem ter uma necessidade cada vez maior de doses elevadas de tal imaginação e prazer gerado pela mesma.
O acesso fácil ao prazer, baseado em realidades virtuais, pode ser comparado ao uso de drogas. Os centros do prazer cerebral, à base de dopamina, um mensageiro químico cerebral, são estimulados em tais contatos virtuais. O problema é que o abismo entre o mundo da fantasia e o real pode se afunilar e não haver mais retorno em algumas mentes humanas mais vulneráveis. É com este "nicho" de pessoas predispostas às conseqüências negativas que devemos nos preocupar e alertar a sociedade.
Outras questões sedutoras são o anonimato gerado e as diferenças no campo das interações pessoais. Há predomínio de várias contradições, nas interações "on line". As pessoas podem oscilar entre pólos diametralmente opostos como a falsidade e a sinceridade. Isso, por si só, tem grande poder de excitação para alguns, tornando-se um jogo individualista, fechado em um "mundinho" particular.
Portanto, aprender a integrar o ciberespaço e o espaço real, no domínio romântico, será o grande desafio para a nossa sociedade, conforme prevê o filósofo citado.
Quando encontrarmos as medidas equilibradas, tais relacionamentos até podem ter um significado psicológico positivo. Educadores, psicólogos e familiares devem estar atentos a estas e outras questões, a fim de planejarem medidas sócio-educativas eficazes no longo prazo.