por Roberto Goldkorn
Nessa semana uma cliente sofreu um assédio perverso, de alguém que agiu assim, sob o pretexto de amá-la. Ele a ameaçou, chantageou, e colocou a estabilidade emocional e familiar dela em risco. Infelizmente não foi a primeira vez que me deparei com uma situação dessas, envolvendo amigos ou clientes. A figura do perseguidor ou em inglês que é mais chique – stalker, é antiga e talvez esteja se tornando mais comum.
Existem casos ontológicos que envolvem fãs (abreviatura para fanático) perseguindo seus ídolos, e até assassinando-os, como aconteceu com o ex-beatle John Lennon. Mas é no dia-a-dia que esses seres aparentados com carrapatos por parte de pai e com pernilongos por parte de mãe fazem o seu nefasto trabalho.
O que motiva o stalker a perseguir?
Hoje se discute muito em círculos científicos o que move e do que é feito o stalker. Como e por que uma pessoa dedica parte de sua vida, de seu tempo e de seu dinheiro para criar constrangimentos, medo e caos na vida de quem supostamente ama ou admira? Apesar de não portar crachá de cientista, dou as minhas pesquisadas por aí, ao longo desses quase trinta anos.
Tipos de assediadores
Acho que podem haver vários tipos de assediadores ativos.
O circunstancial
Os circunstanciais, que perdem o rumo por algum impacto emocional, combinado com fragilidades momentâneas. Esse tipo comete algumas loucuras, mas depois cai em si, coloca as duas mãos na cabeça e diz: Meu Deus o que foi que eu fiz? Que mancada! Apesar disso dependendo da gravidade de sua investida pode ter consequência por muito tempo (no caso do assassino de John Lennon, pela vida toda). É mais ou menos o que diz aquela figura prevista no Código Penal, que se refere a “privação temporária dos sentidos”.
O sociopata ou psicopata
Existe o segundo tipo, que está bem confortável na categoria do psicopata ou sociopata, que vem dar quase no mesmo. Esse vai passar a vida assediando os infelizes que cruzam o seu caminho. Só vai variar aqui a intensidade da perseguição e os métodos utilizados. Esses são os mais perigosos, pois quando entram em modo persecutório, ficam praticamente em estado de transe, não conseguem ser práticos, não raciocinam de forma lógica e não estão nem aí se transgredirem regras sociais escritas ou não.
O fixador
Um terceiro tipo chamo de Fixador. O Fixador “cisma” com uma pessoa específica e faz dessa pessoa a razão de sua existência, passando a viver em função de impor a sua presença a ela. Não adianta propor-lhe uma troca, colocar outra vítima no lugar de sua eleita ou eleito, ele não aceita troca, sua vítima é pessoal e intransferível.
Em minha opinião o comportamento do stalker é tão bizarro, que deve estar relacionado a alguma disfunção no funcionamento em certas áreas do cérebro. Se isso for verdade, nesses casos a terapia seria inútil. Indo para o extremo oposto também vejo em alguns casos de obsessão pelo outro um componente espiritual. Nesses casos específicos uma relação Cármica com componentes densamente emocionais, como traição, abandono, paixões impossíveis podem estar no comando motivacional do assediador.
Como se livrar do stalker?
Mas para quem está desse lado do balcão, o que fazer para escapar do perseguidor?
Como sair ileso dessa armadilha?
Não existe uma fórmula genérica, pois cada caso tem a sua particularidade. Na maioria dos casos o corte radical das comunicações com o stalker pode ajudar. Aqui vale o velho ditado: “Longe dos olhos, longe do coração.” O famoso chá de sumiço pode ser eficaz no tratamento dessa doença. Nem sempre isso é possível, e nem sempre funciona, mas não alimentar de qualquer forma a piração do assediador é uma forma muito eficaz. Se puder lançar mão de algum tipo de intimidação se o assédio for do tipo brando, também pode ajudar.
Já dispensei um assediador que ligava várias vezes por dia para a minha mulher, pegando o telefone e falando com ele num tom mais que ameaçador que pude encontrar. Usei o mesmo tom que se usa em alguns rituais místicos para colocar entidades barra-pesada ou obsessoras em seu lugar. O melhor mesmo, é a atitude profilática, ou seja, detectar com antecedência o assediador e não permitir que ele ou ela crie o vínculo que mais tarde vai virar assédio.
Os sinais precoces do assediador
Ciúmes manifestados muito cedo na relação, aquela sensação de posse, de ser o dono ou responsável pela existência do outro ou vice-versa. Desconfie imediatamente do amor de quem diz: A minha vida não tem sentido sem você, depois de uma semana de relacionamento. Mudanças bruscas de humor, flagrar o parceiro (a) espionando o seu celular para ver quem deixa recados, ou “jogar verde” para pegar você em contradições, tudo isso indica que deve acender a luz amarela.
Porém, o que mais perturba nessa relação não é a constatação de que em sua maioria os assediadores são “doentes”. Isso é meio que óbvio ululante. O mais intrigante é quando nos damos conta de que a pessoa supostamente assediada de uma forma ou de outra alimenta esse processo. Esse complicador vai dar mais trabalho aos cientistas, mas para mim, é mais um capítulo da grande comédia humana.