por Rosa Fonseca
A criança do filme recusava-se a comer. O psicólogo sugere à tia: “Por que não prepara palitinhos de peixe pra ela? Crianças adoram peixe”
É claro que o filme não se passa em São Paulo. Ou no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, muito menos Porto Alegre. Por alguma razão desconhecida, parte do Brasil simplesmente está deixando de consumir peixe. Que criança dessas cidades afirmaria amar peixe? Pior: qual percentagem dos adultos o faria?
Nego o argumento de que a alimentação baseada em carne e frango seja característica cultural do brasileiro. Em verdade, em algumas regiões, pescados são a maior fonte de proteína, como na região Amazônica, cidades litorâneas e populações ribeirinhas.
Pergunto a mulheres que afirmam gostar de peixe, por que não preparam em casa? A resposta mais comum é: “Não sei bem como escolher e preparar…”
Registro aqui que argumentos como “peixe não é muito flexível, só dá pra fazer empanado” doem meu ouvido. Peixes são muito flexíveis, rápidos de preparar e há uma infinidade deles em preços, sabores e receitas distintas. Sem desculpas.
Se você tem dificuldade em incluir peixes na alimentação, saiba que:
– Peixe fresco não tem cheiro ruim – tem cheiro de mar, e só. Ou quem aguentaria comer sashimi? Na hora de comprar, é essencial que cheire a sal, maresia, praia. Isso garantirá que tenha o melhor dos sabores, sem amargor ou retrogosto de amônia (arght). Nenhuma criança gosta e nenhum adulto deveria gostar.
– Ao comprar, verifique sempre os olhos e as escamas – devem estar firmes e brilhantes, como vivos. Olho murcho e opaco ou leitoso e escamas que se desprendem facilmente são sinal de peixe antigo.
– Apesar de haver boas técnicas de congelamento, nada como pescado fresco – nas versões congeladas, a carne acaba absorvendo água e fica mais molenga, com sabor e aroma diluídos e cor mais pálida.
– Certa vez, o chef Cloude Troigros mostrou na TV uma receita de picadinho de atum. O intuito era convencer um aficionado por carne que peixes também são ótimos. O que aconteceu? Ele achou que era filé mignon! Permita se surpreender também.
– Quando criança, mamãe fazia para mim macarrão com atum em lata. Para quem não acostumou o paladar, essa é uma boníssima estratégia: comece misturando peixe com massas. Vale macarrão com salmão, empadinha de camarão, pastel de bacalhau, pizza de atum, pão de aliche. Até a sua criança interior vai aprovar.
– Gosta da facilidade de comprar em posta ou filé? O peixeiro está lá para isso!!! Peça ao atendente do mercado ou feira para limpar o peixe inteiro (tirar cabeça, barriga, guelras e escamas) e cortar como preferir. Eles fazem isso na compra de qualquer peso (não precisa comprar o peixe todo!), sem custo adicional.
– Não sabe que tipo de peixe comprar? Pergunte ao peixeiro! No Brasil, comercializa-se infinidades de tipos. Não há quem conheça todos, portanto não se envergonhe. Diga “Quero fazer ensopado (ou frito, assado, na brasa etc), qual você me recomenda?”. Simples: o vendedor indicará.
– Se for aventureiro ou versado na cozinha, apenas pergunte: “Qual é o mais fresco?”. Anote o nome para não esquecer, procure uma receita com esse peixe nos livros ou na internet e faça. Nenhum peixe é tão bom como o superfresco.
– Se você tem zero conhecimento sobre peixes – saiba que a cor pode dizer muito. Peixes de carne avermelhada costumam apresentar sabor mais forte e peixes claros serem mais delicados. Outras pistas são tamanho e consistência. Os grandes e de textura mais dura (como salmão e atum) tendem a ter sabor mais pronunciado e resistir a manipulação, podendo ser cortados em cubinhos e mexidos, como em um picadinho, por exemplo. Peixes menores (como linguado ou pescada branca), cuja carne cede facilmente ao ser apertada, tendem a ser mais suaves, devendo também ser manipulados o mínimo possível. Sugiro dar umas férias ao filezinho de frango e experimentá-los grelhados.
– Pessoalmente, acho moqueca um prato incrível, rico em aroma e sabor e tão fácil de fazer, que repito muito.
Moqueca de peixe para quatro pessoas
– Numa panela grande e fria, coloque em camadas, sem se preocupar muito com as quantidades: cebola, pimentões de cores variadas e tomate, tudo em rodelas (não se preocupe em cortar finamente). Termine com 4 postas de badejo ou cação. Leve ao fogo brando. Verta 1 vidrinho de leite de coco e fios generosos de azeite ou óleo de dendê. Tampe e deixe cozer por 15 minutos.
Quando abrir a tampa, verá que um lindo caldo amarelo se formou. Prove o caldo e tempere ao seu gosto. Gosto de incluir uma camada de azeitona verde fatiada e temperar com um toque de limão, pimenta, sal, páprica e coentro (se detestar, pode trocar por salsinha).
Sirva borbulhando, sobre arroz. Para dar crocância ao prato, sirva com farofa ou despeje uma colher de farinha de mandioca torrada sobre a moqueca, já no prato.