por Samanta Obadia
Quando penso no processo social da pressão em que a mulher se colocou, penso no reflexo social provocado. Os filhos dessa mulher dividida, pressionada e mutilada estão solitários e carentes, sem religião, sem filosofia e sem sentido de vida.
A mulher queimou os sutiãs, deixou os seios à mostra, e esqueceu que assim ficou sem sustentação. Afinal, eles são os símbolos, antes de tudo, da maternidade e do acolhimento. Os seios saíram desse lugar simbólico e foram expostos nas revistas masculinas, nas propagandas de televisão, cheios de silicone, inchados, alienados e artificiais, com um único significado: a sedução sexual. Esvaziaram-nos.
Que mensagem é essa que está sendo transmitida às próximas gerações?
A mulher não queria mais o lugar da colheita, da esposa e da mãe. Sentindo-se incompleta, e inferior ao homem, rebelou-se contra sua própria natureza, não atentando para o fato de que esta faz parte de sua essência feminina.
A busca de um novo lugar a remeteu ao lugar do outro. Ela deveria buscar um novo lugar na sociedade, um novo lugar dentro do feminino, e não um lugar competitivo com o masculino.
Não nego que a mulher sofreu e sofre ainda, em muitas sociedades, discriminação e subordinação a um mundo machista. Todavia, não podemos esquecer que a mulher tem uma enorme participação na transmissão dos conceitos na cabeça de seus filhos homens e mulheres.
O tempo afetivo não caminha junto ao tempo cronológico. Talvez, por isso, *Cronos tenha engolido seus filhos. As mães perdem a noção do tempo percorrido ao cuidarem de sua prole. Talvez porque o tempo afetivo dedicado seja tanto e tão intenso que se torne imensurável.
E, de repente, não mais que de repente, os filhos crescem e desprendem-se delas. Mas quem as prepara para isso?
Quando eles nascem, o cordão umbilical é cortado pelo médico, que as avisa que, a partir daquele instante, o bebê terá um corpo próprio, mas ainda muito dependente delas. As mães cuidam da pequena criatura durante anos a fio, e enquanto sua psique acostuma-se a essa ligação intrínseca, o cordão imaginário mantém-se ali, unindo-os.
O tempo não para e a cria continua crescendo. O cordão torna-se um fio cada dia mais fino. Os fatos e o mundo não cansam de invadir essa relação, lembrando-lhes de que estão perdendo o controle e que, na verdade, nunca o tiveram, pois a vida do filho independe da mãe.
Quando essa ficha cai é uma questão de desespero. Cadê o cordão umbilical? Cadê o fio imaginário? Cadê a minha outra parte? A mãe percebe-se fraca porque não pode manter a cria intacta e livre do mal que há no mundo.
Além disso, a perda do poder é uma das piores vertigens que uma mãe pode sentir.
Adquirir a consciência de que não tem a capacidade de proteger sua cria de todos os obstáculos e predadores é uma das tarefas mais árduas da maternidade.
E assim segue a mulher da atualidade, forte, frágil, insegura, esposa e mãe, por um caminho tortuoso e incerto. Mas segue sem medo em busca do seu verdadeiro lugar. Feliz dia das Mães!
1 Cronos, titã da mitologia grega que, por medo de ser destronado por um de seus filhos, engolia-os ao nascerem.