por Patrícia Gebrim
A vida é uma mistura de deliciosos momentos de beleza com as inevitáveis batalhas que precisamos enfrentar para nos tornarmos tudo o que podemos ser. Assim, não há como viver sem que aprendamos também a lutar.
A questão aqui é:
– Você sabe escolher suas batalhas?
Enquanto algumas pessoas evitam conflitos a qualquer custo, mesmo quando seria importante que lutassem por algo justo e necessário, outras entram cegamente em toda e qualquer disputa que se apresente. Muitas vezes nem sabem pelo que estão lutando.
Não existe uma regra que possa ser aplicada a todas as situações, por isso é preciso que você seja capaz de avaliar com cuidado o que se apresenta em cada momento de sua vida. Suas escolhas irão dar andamento a uma série de eventos que terão sua própria vida como ponto de retorno.
O que você envia na direção do mundo, um dia retornará para você. Assim, é muito importante que aprendamos a identificar as batalhas necessárias.
A decisão de lutar, bem como a escolha e emprego das armas utilizadas, deve estar nas mãos da sua alma, nunca do seu ego. O ego deve ser como um soldado, obedecendo aos comandos da alma. Se você fizer isso, estará sempre seguro. Quando o ego se torna o comandante, não há sabedoria ou compaixão. Apenas a afirmação de si mesmo e a busca pelo poder. Sob seu comando, partimos para a vida atacando as pessoas, com a justificativa ilusória de que temos que defender nossa posição e vencer. Não nos colocamos no lugar do outro, pois isso não importa para o ego. Eis a raiz da maioria dos desentendimentos familiares, das discórdias nos ambientes de trabalho, das injustiças e das guerras.
A alma, por sua vez, livre da limitação da dualidade egóica, sabe que existe uma força invisível aos olhos humanos, uma força misteriosa que nos conecta a tudo o que existe.
Cada pessoa, cada ser vivo, cada folha, cada gota de água de uma geleira a milhares de quilômetros de distância está, de alguma forma, ligada a nós. A alma sabe que quando prejudicamos alguém, estamos prejudicando a nós mesmos. O ego não sabe de nada disso. O ego é essa parte cega de nós que se crê isolada, separada. E é por ele que aprendemos a lutar. Ah sim, sabemos fazer isso muito bem. Aprendemos nas escolas, aprendemos nas organizações. Aprendemos que temos que ser melhores do que os outros, competir, abocanhar nosso pedaço antes que o levem de nós. Aprendemos a gritar com as pessoas, aprendemos a discutir para fazer com que nossas ideias sejam mais fortes do que a de outros. Aprendemos a debater, polemizar, a diminuir as pessoas, a enganar, iludir, sabotar. Aprendemos a nos sentir vitoriosos quando vencemos alguém, como se isso nos desse uma espécie poder.
Certamente não é essa a luta lícita a que me refiro. Se for lutar, lute sob o comando da sua alma. Sua alma está intimamente ligada ao conceito de unidade, o que quer que venha dela nunca irá desconsiderar ou prejudicar outro alguém. Quando seguimos nossa alma, acabamos por voltar ao lugar original que gera paz. Não só para nós, mas também para os que nos cercam. Lutar pela alma significa honrar a nossa essência divina. É a divindade em nós guiando o caminho. Não há forma mais segura de se mover por este mundo.
Compreenda. O verdadeiro poder não precisa de agressividade para ser exercido. Existe dentro de nós um lugar feito de pura sabedoria. Quando o acessamos, nossa voz soa limpa e fresca, como as águas que brotam de uma nascente. Quando falamos com essa qualidade de vibração, as nossas palavras ganham o poder de tocar e transformar o mundo. Palavras assim, dotadas de asas, não precisam ser gritadas para ser ouvidas. Podem ser sussurradas na maciez da nossa delicadeza, como asas de borboleta, e todas as flores ao redor são capazes de senti-las e honrar sua presença. Por outro lado, quando carecem de alma, as palavras podem ser gritadas, impostas, forçadas e ainda assim perecerão, antes mesmo de chegar a um ouvido sequer. Palavras assim podem no máximo ser momentaneamente aceitas, por medo, mas jamais, e repito, jamais, terão o poder de transformar um único coração.
O mal brota da nossa incapacidade de sentir a dor, seja a nossa, seja a de outros.
Extraído do livro de Patrícia Gebrim “Deixe a Selva para os leões – Inspirações para bem viver nos dias de hoje”