por Patricia Gebrim
Quando nos unimos a alguém é sempre com a melhor das intenções. Queremos trocar alegria e felicidade. Mas às vezes a relação acaba tomando rumos inesperados.
Às vezes culmina em uma separação. Às vezes acontece e – por incrível que pareça – é possível enxergar, mesmo no meio de tantas emoções, que não existem culpados, que não existem vítimas, que a dor do momento é a dor de parto de uma nova vida ainda desconhecida. Mesmo assim assusta… assusta porque somos condicionados a temer o que não conhecemos.
Quando acabam as intermináveis conversas, quando se esgotam as tentativas e esperanças de recomeço, quando alguém entrega ao outro a cópia da chave de casa e, de repente, se vê só, imerso em sua própria respiração… esse é um momento sagrado.
De repente fechamos uma porta e nos vemos em um imenso corredor branco. As lágrimas turvam a visão e mal enxergamos a ponta de nossos pés, quanto mais as inúmeras portas à espera de serem abertas. Esse é um momento de uma profundidade indescritível e, para que sigamos adiante, é preciso enfrentá-lo com consciência, sem negar a dor, sem fugir, sem anestesiá-la, sem aumentá-la a ponto que se torne insuportável. Em um momento assim, é de muita ajuda encontrar um espaço seguro para acolher o que quer que se passe em nosso íntimo, e lembrar… isso também irá passar!
Muitas coisas acontecem dentro de nós nesse período que acontece logo após uma separação e ajudará muito se você souber reconhecer esse movimento. Para ajudar você, vou tentar lhe mostrar o que acontece com cada um de seus "eus interiores" em um momento assim.
Vou começar pelo Eu Criança. A criança dentro de você talvez se sinta fragilizada, desprotegida. De repente parece que tudo se torna grande demais, ou somos nós que encolhemos, como ocorreu com "Alice no País das Maravilhas", e nos tornamos tão pequenos que o mínimo desafio nos faz ter vontade de chorar, nos esconder, ou ter um ataque de raiva, totalmente inútil para o momento. Se isso lhe acontecer, saiba que esse não é você inteiro, é só a criança assustada dentro de você.
Então tranquilize-a, pegue-a no colo, converse com ela, lembre-a de tantos desafios que você já foi capaz de enfrentar, lembre-a da sua força que é tão real, lembre-a de que ela não está só (essa é a maior armadilha… a criança se sente abandonada e só!). Ela não está só! Ela tem a você. Dê-lhe essa garantia. Seja firme, presente. Deixe que ela chore, se precisar, mas não a perca no sofrimento.
O seu Eu Inferior, por outro lado, encontra nesse período pós-separação, um terreno fértil para lançar suas sementes de maldade. Algumas vezes essas sementes tentam agredir o outro, acusando-o, odiando-o, culpando-o pela dor que estamos vivendo. Mas na maioria das vezes, o Eu Inferior faz o extremo oposto. Faz com que só nos lembremos do quanto o outro era maravilhoso, e repete que não fomos capazes de "fazer aquela relacionamento dar certo" (como se isso fosse algo que alguém pudesse fazer sozinho)… E ficamos repetindo mentalmente pensamentos que só nos fazem mal. Ficamos nos sentindo rejeitados, não amados, imaginando um futuro seco e estéril, como se nada de bom pudesse surgir em nosso caminho.
O Eu Inferior é extremamente hábil em encontrar suas fraquezas e ativá-las com maestria. Se você se perceber nesse diálogo interno autodestrutivo, pare! Pare imediatamente. Imagine uma chuva dourada caindo sobre se Eu Inferior, e peça que essa luz cure essa parte sombria e maldosa de você.
O Eu Mascarado, por sua vez, tenta fingir que nada está acontecendo. A máscara sempre tenta evitar os seus próprios sentimentos. Talvez você fique criando coisas para fazer, para manter-se ocupado o tempo todo e não ter tempo de pensar ou sentir nada. Talvez mergulhe no trabalho, em "baladas", na comida, no álcool… Ouça,nada disso irá ajudá-lo. O momento de sentir as coisas é agora. Não tenha medo de seus sentimentos… os seus sentimentos são sempre bons, mesmo os sentimentos de dor.
Eu não estou dizendo que você deva entregar-se à dor e passar dias e dias fechado em seu quarto chorando. Mas quando a dor vier, deixe que venha, não se amorteça. Ela atravessará você como um raio, e irá embora. E um dia ela já não precisará vir. Não existe nenhuma sabedoria em negarmos a nós mesmos. Em um momento de separação, a pior coisa que você poderia fazer é se separar de você mesmo, entende? Então, fique a seu lado, não importa o que esteja sentindo. Não se abandone, nunca!
E lembre-se de que você possui também um Eu Superior, sábio, amoroso e iluminado. Busque ativamente reforçar seu contato com essa parte divina de você. Quanto mais você se aproximar dele, mais saberá que está tudo certo, tudo bem. Saberá que você está protegido e que a vida irá mostrar a você para onde seguir daqui para frente. Quando estamos em contato com o nosso Eu Superior nos sentimos abraçados por todo o Universo, nos sentimos parte de tudo o que existe, e não há como sentir-se só assim. Quando estamos em contato com o nosso Eu Superior confiamos na vida, confiamos que merecemos receber amor, confiamos que merecemos sempre o melhor.
Tudo se torna mais claro e enfim encontramos paz, mesmo em meio à dor de uma separação. É possível viver esse momento de uma maneira amorosa, basta que sejamos amorosos com nosso próprio eu. Assim, antes de esperar que o amor venha de fora, permitimos que essa energia flua de dentro de nós, e acredite, somos capazes de curar até mesmo a maior das feridas de nosso coração se o envolvermos nessa onda rosa de acolhimento, amor e aceitação.