por Angelo Medina

Se você busca a transcendência através da música ou do som. Já pode ampliar suas fronteiras além da new age. Nesta entrevista ao Vya Estelar, a atriz Silvia Poggetti  revela por que a música de Stevie Wonder faz bem à alma. Especializada em sons sagrados, ela desvenda o poder do som através do ar, da respiração, da voz, do ritmo e dos harmônicos. Silvia sugere mantras e foge do óbvio ao apontar estilos musicais, indo do pop ao erudito, na hora de escolher música para relaxar..

Vya Estelar – De onde vem o poder do som?

Silvia – Do ar e da respiração. Toda vez que você canta uma música, que tenha uma estrutura mântrica, seja um mantra ou simplesmente uma música, onde a repetição da frase melódica se repete durante algum tempo, você entra numa respiração ritmada e encontra um padrão respiratório, que a frase melódica te pede. Isto vai te acalmar.

Vya Estelar – Por quê?

Silvia – Porque a nossa ansiedade está diretamente ligada ao nosso padrão respiratório. Quando você muda este padrão, você atinge um estado meditativo de calma e serenidade .

Preste atenção como as notas batem no teu corpo, como ressoam, preste atenção como ajudam a te acalmar.

Vya Estelar – O som pode curar no plano físico?

Silvia – Sim. Porque o som é físico. Você pode curar dores de cabeça e reumatismo. Porém, não tenho muito familiaridade com este aspecto.

Vya Estelar – A pessoa só ouvindo música atinge um estado meditativo e transcendente?

Silvia – Sim. O Stevie Wonder tem um álbum duplo que se chama Journey Through the Secret Life of Plants – Viagem através da Vida Secreta das Plantas – que é maravilhoso!!! (enfatiza). As músicas deste álbum fazem bem para a alma, pois te remetem imagens de um contexto espiritualizado. Além do mais, Steve tem o dom de construir frases exremamente melódicas e, células ritmicas, que induzem à mudança do padrão respiratório. Como é a própria tradução da palavra soul, música para a alma.

Por Silvia Poggetti

A escolha: em primeiro lugar use seu gosto pessoal. Seja eclético, escolha músicas bem melódicas ou que tenham um forte aspecto ritmico. Perceba se a música te traz imagens que te levem a um outro nível de consciência. Não precisa ser um som necessariamente calmo, mas também não precisa ser um trash explosivo. Se a música tiver uma estrutura mântrica ou uma repetição da frase melódica, durante algum tempo, melhor ainda. Estilos: world music, samba, MPB, pop, instrumental, erudito, celta, new age, ethno, tecno, dance, shamânica, mantras e o que você considerar boa música.

Sepultura explosiva

Mas tenho alguns "senões", o som do Sepultura, por exemplo, já acho muito explosivo e pode detonar mais explosão.

Mozart é bacana e te leva a um estado meditativo

Qualquer música erudita é uma boa

São músicas que te propõem um outro padrão respiratório. A música não precisa ser necessariamente calma, uma roda de samba pode ser magnífica. Por exemplo, uma vez eu vi uma entrevista do Caetano, onde ele falava de um samba de roda, que me deixou absolutamene tocada.

"Prendê a lê prá ensinar meus camaradas/ Prendê a lê prá ensinar meus camaradas/ Ô prendê a lê/ Ô prendê a lê… "

Esta canção traz o conteúdo do mantra, traz uma generosidade, de passar conhecimento, de estar a disposição do outro e de ensinar.

Revolução

Sou tiete dos Beatles. A música Revolution 9, do Álbum Branco abriu a minha cabeça e é mântrica e quente.

Meditação pura

O Guliherme Arantes tem letras que são pura meditação

"Tudo é uma questão de manter, a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo"

Vya Estelar – Qual é o papel do ritmo e da percussão como efeito relaxante?

Silvia – Os tambores têm um poder muito grande de ressonância dentro do nosso corpo. Existe uma relação muito grande, do ritmo dos tambores, com o ritmo da batida do coração. Não é à toa que os xamãs utilizam tambores para entrar em estado meditativo. Naná Vasconcelos faz isto com maestria.

Naná Vasconcelos: som xamânico

João Bosco é magnífico. É o percussionista da palavra.

Ouvir boa música sempre vai te fazer bem. Acalma, pode te deixar mais alegre, pode mudar um pouquinho o ritmo do teu dia, porque a música vai te propor um ritmo. Se você levantou meio devagar, pode ouvir um som mais swingado e se acordou agitado pode ouvir algo mais calmo.

Vya Estelar – Você acredita que a música é capaz de levar o ser humano a um estágio de transcendência?

Silvia – Acredito mesmo. Porque a transcendência é você chegar a estados onde você ganha uma nova consciência, sobre uma coisa que você achava que já conhecia. Acho que a música pode mudar e ampliar radicalmente a forma da gente ver as coisas.

Vya Estelar – O que provoca a ausência do canto?

Silvia – A gente vive num mundo onde a imagem é super valorizada. Existe um marketing muito pesado em relação à auto-imagem que você vende. Acho que isto emudece as pessoas e faz com que elas não cantem mais.

O harmônico é uma meditação sonora.  É uma forma de meditar com o som.

Vya Estelar – O que são os harmônicos?

Silvia – Nós percebemos o som como uma única vibração audível, mas a cada som produzido, naturalmente, surgem outros, que soam ao mesmo tempo de forma suave, são os harmônicos.

Vya Estelar – Por que a utilização dos harmônicos?

Silvia – No geral, são notas entoadas de forma prolongada. Quanto mais lenta e profunda a respiração mais calmo você fica. O ritmo cardíaco tem uma conexão direta com o ritmo respiratório.

A mecânica do som

Os harmônicos têm a capacidade de mover a matéria. Se você emite harmônicos, perto de uma placa de metal, coberta de areia, cria-se um desenho com uma estrutura quase mandálica. Todo som movimenta matéria, é assim que as pessoas quebram taças. O exame de ultra som é isso, o som "bate" numa matéria e te dá um desenho compondo um outro corpo: um bebê ou uma pedra no rim.

Vya Estelar – Quais são os efeitos do som ao mover a matéria?

Silvia – Com o movimento da matéria, através dos harmônicos, você cria uma massagem muito sutil em toda a região cerebral.

Vya Estelar – Quais são os benefícios de se entoar os harmônicos?

Silvia – A entoação dos harmônicos te traz um grande benefício, que é a percepção refinada da tua própria respiração, só com está respiração, ao entoar os harmônicos, o teu diafragma massageia todos os órgãos vitais, exceto o cérebro. A pele das pessoas que produzem harmônicos com uma certa frequência muda, pois a circulação é ativada. O nível de stress baixa bastante, você entra num estado meditativo com muita facilidade e uma serenidade se instala. Os harmônicos não vibram só na região do cérebro, todo o seu corpo vai vibrar.

Vya Estelar – Com quais harmônicos você trabalha?

Silvia – Com os emitidos pela voz humana. Eles estão presentes mais claramente nas vogais. Porém, em algumas consoantes, como o "m", você encontra alguma sonoridade harmônica. A ordem das vogais ao entoar os harmônicos não é (a, e, i, o, u). Começa numa escala ascendente, indo do "u" a mais grave até o "i" a mais aguda.

Chacras

As cinco vogais estão relacionadas aos chacras. Ao entoar harmônicos das vogais, você coloca todos os chacras em harmonia e movimento.

Vya Estelar – Você sugere algum mantra?

Silvia – Sim, sugiro dois mantras que possuem harmônicos. O mantra OM é bem legal. A pronuncia é AUM. Esse mantra possui o "a" que é o som médio, o "u" que é o som grave e o "m" que tem uma boa ressonância corporal. Om Namah Shivaya também é um mantra recheado de harmônicos.

Shiva a maior deidade da cultura hindu

On Namah Shivaya: mantra recheado de harmônicos

Vya Estelar – Quanto tempo a pessoa deve entoar os mantras ou os harmônicos?

Silvia – Vinte minutos, na posição de lotus, de olho fechado e, de preferência, recostado. Isto traz uma mudança significativa na qualidade geral de vida.

Vya Estelar – Ao simplesmente falar uma pessoa está emitindo harmônicos?

Silvia – Sim, mas de uma forma menos audível, pois as vogais não são tão alongadas. Os harmônicos estão presentes em qualquer produção sonora, mas não de uma forma tão nítida. Você encontra harmônicos na serra, na geladeira e até na máquina de lavar roupa.

Vya Estelar – Porque praticar os harmônicos em grupo?

Silvia – Porque os harmônicos têm uma capacidade multiplicadora quando feito em grupo. Um coral de harmônicos vocal, parece uma orquestra ou um som sintetizado.