por Patricia Davidson Haiat
Dores de cabeça constantes não são uma doença, mas sim um sintoma de que há um problema orgânico que necessita de investigação.
Dor de cabeça é definida como a presença de sensação dolorosa na cabeça, pescoço e face. As cefaleias, nome científico dado às dores de cabeça, podem ser primárias (causadas por distúrbios bioquímicos no próprio cérebro) ou secundárias (causadas por problemas em qualquer região do corpo como problemas dos olhos, ouvidos, garganta), totalizando mais de 150 tipos diferentes.
O cérebro não possui receptores para dor, mas as veias cerebrais e as meninges podem sentir dor e isso produz a cefaleia.
As cefaleias mais intensas e incapacitantes chamam-se enxaquecas, caracterizadas por dor aguda que dura de 4 a 72 horas, normalmente de um só lado da cabeça associada a náuseas, vômitos, sensibilidade aumentada à luz e a ruídos e em algumas pessoas aura visual. Ocorrem duas fases distintas na enxaqueca, sendo a primeira de vasoconstrição das veias cerebrais devido à liberação de serotonina pelas plaquetas, seguidas de uma **vasodilatação de rebote, o que causa justamente a dor. Sabe-se que a tiramina e a feniletilamina são algumas das substâncias responsáveis por essa síntese de serotonina aumentada.
Embora as cefaleias anteriormente citadas sejam entidades diferentes, elas guardam alguma semelhança no que diz respeito às inúmeras causas: estresse (50% dos casos), ansiedade, depressão, distúrbio de sono, exercício e trabalhos excessivos. Podem ser ainda causadas por sinusites, infecção auditiva, abscesso dentário, disfunção têmporo-mandibular, tensão muscular, má digestão, hipoglicemia, constipação, hipotireoidismo e tensão pré-menstrual (60-70% dos casos de enxaqueca em mulheres está relacionado ao ciclo menstrual podendo ser pré-menstruais ou menstruais).
A disbiose, ou desequilíbrio da flora intestinal pode ser, indiretamente, causa de enxaqueca. Quando a flora intestinal fica desbalanceada pode ocorrer crescimento excessivo de fungos que normalmente são habitantes naturais do intestino. Um exemplo comum de fungos que todos conhecem é a cândida, que ao estar presente em grande numero, produz toxinas que são absorvidas pela circulação e podem causar dores de cabeça além de sobrecarregarem o fígado. Nesse contexto, se faz necessário otimizar o equilíbrio da microbiota intestinal com o uso de lactobacilus na forma de sachês ou cápsulas.
Quanto mais toxinas são produzidas no intestino, maior é a irritação do mesmo predispondo as pessoas ao desenvolvimento de processos de alergia/intolerância alimentar. Hoje sabe-se que a cefaleia e enxaqueca podem ser um sintoma delas. A alergia alimentar pode ser um fator contribuinte para a enxaqueca de até 80% dos indivíduos, por isso uma avaliação criteriosa deve ser feita a fim de se identificar o(s) alimento(s) mais envolvido(s) na etiologia (causa) da enxaqueca de cada indivíduo.
Alimentos que podem causar enxaqueca
Saiba agora quais alimentos podem provocar alergias alimentares e como consequência a dor de cabeça ou enxaqueca.
De uma maneira geral, os alimentos tidos como "culpados" são: leite e seus derivados, milho, frutas oleaginosas em especial a castanha de caju, produtos à base de soja (leite, tofu, molho de soja), trigo, frutas cítricas, maçã, alimentos fermentados com leveduras, batata, tomate, berinjela, pimentão e pimenta.
Outras substâncias envolvidas na enxaqueca são aditivos alimentares ou naturais presentes nos alimentos: os nitratos (salsichas, salame, presunto), o ácido benzóico (utilizado em geleias, frutas desidratadas, margarinas), a tartrazina (corante amarelo), o glutamato monossódico (presente em muitos produtos industrializados), o aspartame, o metabissulfito (preservativo), e as aminas vasoativas feniletilamina (encontrada no chocolate ou álcool) e a tiramina.
Os alimentos contendo tiramina são responsáveis por 15% dos casos de enxaqueca, portanto, indivíduos com enxaqueca devem evitar o seu consumo caso tenham observado piora dos seus sintomas quando ingerem queijos envelhecidos, banana, ameixa vermelha, abacate, berinjela, tomate, vinagre, bebidas fermentadas como a cerveja, o vinho e a champagne. Evitando o consumo desses alimentos, pode-se experimentar uma completa melhora do quadro sem uso de medicação.
Chá preto ou verde, assim como bebidas contendo cafeína podem ser iniciadores de enxaqueca também, uma vez que ocorre vasodilatação como um efeito rebote da vasoconstrição que provocam ao serem tomados. Alguns estudos apontam a alta ingestão de cafeína como sendo responsável por intensificar os casos de cefaleia, perpetuar o seu ciclo e ainda provocar um aumento temporário nos níveis pressóricos.
Uma vez que a maior parte das cefaleias tem um componente de estresse e de hipersensibilidade alimentar associada, indicam-se os seguintes nutrientes com atividade benéfica: vitamina C, bioflavonóides, complexo B (com ênfase no ácido pantotênico), cálcio e magnésio.
Vários estudos já verificaram concentrações baixas de magnésio no cérebro e em outros tecidos em pacientes com enxaqueca, indicando a necessidade de suplementação. Uma das funções mais importantes do magnésio é a de manter o tônus das veias. Com a finalidade de recuperar a integridade da barreira intestinal, pode ser útil suplementar L-glutamina, e nutrientes como ácido fólico, zinco, selênio, vitamina A e E. O manganês também tem sua indicação no tratamento das cefaleias, uma vez que inibe a degranulação dos mastócitos, agindo como um anti-histamínico natural, ou seja, uma substância que tem potencial de reduzir os sintomas alergicos. Alguns estudos atuais também apontam para a utilização dos ácidos graxos Omega 3, gorduras essenciais para redução da frequência e intensidade das enxaquecas. A suplementação deve ser mantida por mais de três semanas, uma vez que é o tempo necessário para haver modificação da membrana que reveste as celulas com novos ácidos graxos.
* Aura é uma sensação que algumas pessoas sentem antes da dor propriamente se manifestar como se fosse um prenúncio e envolve: distúrbios visuais do tipo cegueira parcial, visão de pontos luminosos semelhantes a lanterninhas, vagalumes ou "flashes". Existem enxaquecas com ou sem aura.
**A vasodilataçao de rebote ocorre após a vasoconstrição. A vasoconstrição é o estreitamento dos vasos fruto da liberação de histamina e depois o vaso tende a voltar ao seu tamanho original por mecanismo de vasodilataçao (dilatação das veias) logo após o estreitamento da mesma e isso que provoca a dor.