por Roberto Goldkorn
É o texto eloquente e personal de sempre… munido daquele dom de tocar profundamente à nossa alma. Assim é o novo livro do escritor, conferencista e orientador pessoal Roberto Goldkorn – Assédio por Sedução (Bertrand Brasil).
Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre o livro, que trata do uso da linguagem para manipular os sentimentos alheios e mostra como certas pessoas aprimoram a excelência verbal com o objetivo de transformar palavras em armadilhas para conquistar, constranger, humilhar, aprisionar e seduzir – no mau sentido – outros indivíduos. Goldkorn orienta o leitor para que olhe com mais atenção para todos os lados e perceba quais as verdadeiras intenções das pessoas que o cercam.
Vya Estelar – Como surgiu a ideia de escrever um livro sobre o uso da linguagem para manipular sentimentos alheios?
Roberto Goldkorn – Veio da minha editora Rosemary Alves. Ela me falou sobre a covardia das pessoas que usam a sua expertise com as palavras para seduzir e enganar outras e como as palavras podem produzir ou simular sentimentos que enganam, aprisionam e frustram. Na hora fiquei “seduzido” pelo tema e aceitei o desafio.
Vya Estelar – O que separa o assédio da sedução?
Roberto Goldkorn – O assédio é sempre perverso. É em geral uma ação contínua e orquestrada, com finalidades sempre lesivas para o “alvo”. A sedução positiva é sempre um caminho de mão dupla. O sedutor está verdadeiramente interessado no seduzido e deve também ser seduzido por ele. Na sedução positiva há reciprocidade, não é uma armação para tirar proveito e depois cair fora quando a fonte seca
Assédio por sedução
Vya Estelar – O que vem a ser o assédio por sedução?
Roberto Goldkorn – Se configura assédio por sedução quando o assediador usa suas competências sedutoras para sujeitar a vítima aos seus caprichos e vontades, mas sem que haja um verdadeiro comprometimento de sua parte.
Vya Estelar – O senhor colocaria os sedutores numa categoria mais light em relação aos assediadores? Ou o ponto é o referido no livro, de que o perigo mesmo está em relação ao assédio por sedução?
Todos nós posamos de sedutores
Roberto Goldkorn – Os sedutores se distribuem em uma gama variada de estilos, propósitos e intensidades. Todos nós posamos de sedutores uma vez ou outra, seja para conseguir um atendimento mais rápido na padaria, ou para levar alguém para sair. O livro trata mais especificamente do assédio, da forma mais perversa e nociva da sedução.
Vya Estelar – Pode-se dizer que assediador e assediado criam uma relação doentia de co-dependência? Por quê?
Roberto Goldkorn – Exatamente. Da mesma forma que a vítima de um golpe é co-autora, só caiu por querer tirar vantagem da situação, muitas vezes o assediado abre as portas para as falsidades do assediador, também visando algum lucro seja ele, sentimental, ou sexual. Mas na maioria das vezes a vítima cai por solidão, ingenuidade, ou é pega num momento de extrema fraqueza. Como bons predadores os assediadores tem um faro afinado para perceber qual o “animal” mais fraco da manada.
Vya Estelar – Uma criança de dois ou três anos que faz birra para conseguir o que quer, está assediando os pais? Como se desvencilhar dessa armadilha, se ela já estiver introjetada na relação?
Roberto Goldkorn – A criança tem uma inteligência primitiva, quase instintiva como dos animais. Ela também aprende a conseguir o que precisa, ou acha que precisa usando as suas competências. Mas cabe aos pais que se supõe sejam seres racionais, controlar e dar as respostas adequadas a essas manifestações infantis. Sempre aconselho aos pais cujo filho se joga no chão num shopping berrando e esperneando, que quer esse ou aquele brinquedo, que não tentem interagir naquela cena. Sugiro que se afastem e que se escondam, observando a criança de longe. A coisa toda vira um cabo de guerra, quem ceder vai reforçar essa programação. Além disso, os pais têm de estar unidos no processo, porque a criança sabe bem como dividir para conquistar.
Vya Estelar – Quais são os tipos de assediadores mais recorrentes e como lidar com cada um deles? Como detectar um tipo desses logo de cara?
Roberto Goldkorn – O livro elenca alguns tipos, não todos porque nem eu conheço todo o potencial humano para a criação dessas máscaras. Mas o mais comum é o assediador sentimental que tenta ganhar o outro (seja para vender um carro, seja para conseguir um assento no avião lotado) pela via da sedução amorosa, de promessas veladas e de futuros romances.
Vya Estelar – Existiria um tipo de assediador mais perigoso? Por quê?
Roberto Goldkorn – Sem dúvida é o profissional. Desse é difícil escapar, até porque ele só está na ativa por ser competente. O profissional estuda a sua presa, e só dá o bote com 99% de certeza de que vai ter sucesso. Quando ele escolhe a vítima, e ataca o enredo da peça já está na ponta da língua, ele vai com tudo desde o figurino, até as falas, os gestos, tudo ensaiadinho para não ter erro. Mas os amadores complexados (sofrem de um crônico complexo de inferioridade) são perigosos também, até porque eles têm ódio do mundo por tê-los feitos assim tão malacabados, que a sua sedução tem sempre um componente raivoso, mórbido. Todos os dias rezo para que as pessoas que amo não cruzem o caminho de um desses.
Vya Estelar – A sedução é mais uma arte ou uma técnica?
Roberto Goldkorn – As duas. Muitos meninos que foram extremamente mimados e paparicados pelas mães, se tornam naturalmente sedutores, afinal tiveram a melhor escola que poderiam ter. A sensualidade é um atributo básico da sedução e isso na maioria das vezes é natural. As vezes vejo um grupinho de meninas e uma delas se desataca pelo andar, pala maneira de balançar os cabelos e até de sorrir. Sei que aquela vai dar trabalho. Mas a sedução também é uma técnica e como tal pode ser aprendida e desenvolvida. No homem a sedução é construída principalmente na linguagem, com a capacidade de manipular as palavras, isso é o Graal para as mulheres. Nas mulheres o visual a imagem projetada é o ponto forte. Os homens em geral são muito visuais. Quando se fala de voyeurismo se pensa logo na figura masculina. Mas tanto uns como outros são susceptíveis às várias fórmulas de sedução.
Vya Estelar – Qualquer simples mortal pode se tornar uma pessoa sedutora? Quais seriam os caminhos?
Roberto Goldkorn – Em principio sim. Basta saber em que águas vai pescar. Um sujeito com uma varinha de pesca, linha fina e anzolzinho, se quiser fazer pesca oceânica vai se dar mal. O importante é saber qual é a sua praia, até onde a sua competência pode lhe levar. Cada macaco no seu galho.
Vya Estelar – Quais são os tipos de sedutores mais comuns no nosso dia a dia ?
Roberto Goldkorn – Os vendedores. Todos os tipos de vendedores, desde os professores, aos publicitários, aos pregadores religiosos, todos que têm alguma coisa ou mensagem ou serviço para vender.
Vya Estelar – Manipular e ser manipulado é uma característica inerente à natureza humana. Até nas relações mais equilibradas e saudáveis existe esse jogo? Ou seria uma utopia pensar num relacionamento livre dessa mácula?
Roberto Goldkorn – Seria uma utopia sim. Como já disse até os bebês manipulam seus pais. O meu cachorro me manipula com seus agrados, seu olhar pidão, e suas lambidas, difícil resistir a ele. Minha mulher está sempre me manipulando e vice-versa, sempre precisamos de algo do outro que não vem se não for por caminhos enviesados, sinuosos. Isso é antigo, universal e vai continuar. O forte seduz usando a sua força, a sua aura de poder. O fraco usa os seus meios sussurrantes, contorcionistas de atingir suas metas, nunca se expondo demais, sempre nas sombras. Vamos dançando nesse gigantesco baile do me engana que eu te engano, mas isso só passa a ser ruim quando fere, aprisiona e não dá o direito de defesa ao outro. Como dizem os criminalistas, o crime é pior quando o motivo é torpe, e a vítima não teve chances de se defender. O livro é isso uma tentativa de mostra esses predadores, suas armas, seus modus operandi, e as defesas possíveis.