por Carlos Hilsdorf
Quando pensamos no Natal, sentimos no ar uma atmosfera especial. Não é pelas festas, não é pelos presentes… É pelo Aniversariante.
Nos aniversários costumamos dar presentes aos aniversariantes… Mas que presente dar a Jesus?
Mesmo que você não seja cristão, esta reflexão também se aplica, afinal a mensagem de Jesus não se dirige apenas aos cristãos, ela é universal.
Uma prova disso é que um dia, Mahatma Ghandi, cuja religião era o hinduísmo, disse:
“Se perdêssemos todos os livros sagrados do mundo e salvássemos apenas as doze linhas do Sermão da Montanha, não teríamos perdido nada. Mesmo não sendo cristão eu admiro muito a Jesus!”
Quando damos presentes a um aniversariante querido, um amigo, uma amiga, não nos importamos se ele possui a mesma religião, a mesma etnia ou a mesma preferência sexual que nós manifestamos. Se a pessoa em questão é nossa amiga, isso basta.
Jesus é o Divino Amigo de todos nós, Ghandi foi advogado da causa da humanidade e a sua proposta de não-violência (ahimsa) beneficiou a todos.
Se fôssemos dar um presente de aniversário a Ghandi, provavelmente lhe ofereceríamos um presente que representasse a não-violência. E para Jesus? Que presente de aniversário ofereceríamos?
Os recentes acontecimentos climáticos que abalaram Santa Catarina talvez nos ofereçam a resposta. Muito mais rápido que o governo e as demais autoridades, muito mais rápido que as redes de rádio e televisão, agiram as pessoas comuns, pessoas que na linguagem cristã denominaríamos de “os semelhantes” e o “próximo”.
Há vários tipos de “semelhantes” e de “próximos”…
Há os semelhantes que se assemelham e, por estarem vivendo a mesma situação, manifestam uma solidariedade quase que espontânea, fruto da empatia de estarem vivendo dores e traumas profundamente similares. Mas, mesmo nesse primeiro caso, vale observar que essas pessoas agiram baseadas na fraternidade e não motivadas por egoístas reações do tipo “primeiro eu, minha família e minhas coisas”. Presenciamos casos de pessoas que perderam muitos de seus bens, exatamente enquanto ajudavam seus vizinhos a salvarem os deles! Esse é um exemplo maravilhoso de desprendimento, de amor incondicional ao próximo.
Há os semelhantes que mesmo sem estarem vivendo uma situação idêntica ou parecida já treinaram a mente e o coração nas disciplinas da empatia, do amor e da solidariedade e “entendem” a dor do outro, mesmo sem terem vivenciado algo parecido. Para as pessoas de bom ânimo (outra expressão cristã) bastam as pequenas dores para compreenderem e se solidarizarem com outras menores e maiores que as suas.
Há o fisicamente próximo, o vizinho e há o espiritualmente próximo, que pode estar em qualquer parte do mundo e se mobiliza procurando maneiras de ajudar e ser útil.
Da mesma maneira há semelhantes “desassemelhados” e próximos distantes, pessoas que sejam quais forem as circunstâncias envolvem-se apenas com o que é de seu interesse imediato: interesse interesseiro.
Felizmente, o que vimos em Santa Catarina foi solidariedade, empatia, gratidão, união em proporção suficiente para desconsiderarmos os casos egoístas que não faltariam na expressão humana no planeta.
Solidariedade é um amor que não é solitário, nem egoísta, é um amor que se importa. Não é o amor do ciúme, da posse e do controle, que não deveria sequer ser categorizado como amor, mas é tratado como se fosse.
Fraternidade é um sentimento e uma atitude de irmãos (frater em grego é ao mesmo tempo uma denominação de amor e de irmandade).
Jesus convidou-nos incessantemente à solidariedade e à fraternidade. O Divino Amigo foi solidário e fraterno em todas as narrativas que a tradição nos trouxe através dos evangelhos.
Encontramos o presente que podemos oferecer ao aniversariante, vamos chamá-lo de “efeito Santa Catarina”. Este presente é o exemplo vivido e sentido de todos os seres humanos que imediatamente se identificam com seus irmãos de caminhada humana e se movem, saem de suas zonas de conforto e vão imediatamente em direção daqueles que sofrem e precisam de auxílio. Aquelas senhoras que deixavam suas casas para ir cozinhar para a multidão de desabrigados, os bombeiros que infatigavelmente participavam das buscas, os voluntários que descarregavam centenas de caminhões de donativos, enquanto outros tantos faziam o trabalho de triagem do que chegava, sem nunca ter tido essa experiência antes.
O ocorrido em Santa Catarina, só não vê quem não quer, possui, ao menos, duas grandes causas, a ingenuidade de construir casas nas encostas, acreditando que nunca haverá novamente tanta chuva ao ponto de que elas desabem de novo e, a falta de respeito com que a humanidade vem agredindo o equilíbrio do planeta, mudando o clima e o equilíbrio das forças da natureza. Estamos destruindo o Jardim do menino Jesus…
Neste Natal, como presente ao Menino Jesus, podemos nos propor a reconstruir o seu jardim, mudando nossas mínimas atitudes com relação ao consumismo e a maneira como usamos os recursos não renováveis e, ofertarmos a ele a fraternidade e a solidariedade que Ele Próprio nos ensinou, não apenas com sangue, suor e lágrimas, mas, sobretudo, com imenso amor.
Feliz aniversário Jesus, nós vamos reconstruir o seu jardim e copiar e multiplicar o efeito Santa Catarina em todas as situações do dia-a-dia, fazendo uma verdadeira corrente do bem, uma corrente que não aprisiona, somente liberta!
Jesus, rega o jardim que começamos a replantar, regando primeiro o solo do nosso coração para que nele floresçam as árvores da fraternidade e da solidariedade, as flores da paz e da compreensão e, sobretudo, os frutos doces do amor com que nos educaste!