por Alex Botsaris
Imagine se você pudesse guiar seu cérebro para que ele curasse as suas doenças sem precisar tomar remédio? Parece pura ficção científica, uma tecnologia que ainda levará anos para ser desenvolvida, não é verdade? Negativo, essa técnica já está ficando disponível para as pessoas, inclusive aqui no Brasil: chama-se biofeedback.
Biofeedback é um termo criado na década de 60 por vários neurocientistas da época, que estudavam respostas do sistema nervoso a diferentes tipos de estímulo. O termo foi criado através da fusão de "bio" – vida em grego – e "feedback", que significa "retroalimentar" em inglês. Esse nome foi proposto porque os neurocientistas concluíram que os animais, em especial os mamíferos, possuem um sistema de modulação das suas funções, que funciona através de uma retroalimentação. Ou seja: os comandos feitos pelo sistema nervoso, que se convertem em respostas funcionais do organismo, também são percebidos pelas terminações nervosas sensitivas, gerando novos estímulos nervosos, que podem modificar essas mesmas respostas funcionais. Assim o nome biofeedback significa os "sistemas de retroalimentação dos seres vivos", e particularmente os do homem.
As pesquisas que culminaram no conceito de bioffedback começaram na Alemanha e nos Estados Unidos nas décadas de 30 e 40. J.H. Schultz, na Alemanha, criou o conceito de "treinamento autogênico" ao demonstrar que animais de laboratório e seres humanos podiam ter suas reações a estímulos moduladas através de um tipo de treinamento de repetição. O médico Edmund Jacobson desenvolveu uma técnica semelhante que ele chamou de "relaxamento progressivo" onde obtinha mudanças no tônus muscular, ritmo cardíaco e pressão arterial através de estímulos relaxantes repetidos.
Esses estudos foram resgatados por W Luther, que conseguiu produzir vários modelos de modulação das respostas endógenas em animais de laboratório. Ao mesmo tempo alguns neurocientistas se puseram a estudar o controle que praticantes de yoga possuíam sobre a fisiologia do seu corpo, que permitia resistir a condições consideradas incompatíveis com a vida. A conclusão dos cientistas na época foi que existam formas de modificar as respostas do chamado "sistema nervoso autônomo".
O sistema nervoso autônomo – como diz o nome – é uma parte do sistema nervoso que controla funções vegetativas do organismo, e até então consideradas totalmente independentes do controle voluntário das pessoas e dos animais. Essas pesquisas começaram a revelar que havia, sim, uma forma de modificar as reações do sistema nervoso autônomo. No começo a dificuldade foi desenvolver técnicas e metodologias que tornassem as respostas uniformes, porque diferentes pessoas regiam cada uma de uma maneira, muitas vezes de forma totalmente inesperada.
Ao longo dos anos cientistas têm investido em desenvolver metodologias que tornem os tratamentos viáveis para aplicação na saúde. Mais de mil trabalhos científicos nessa área foram publicados nos últimos 20 anos. Foram desenvolvidos aparelhos que permitem a aplicação da técnica do biofeedback na clínica, que com isso deixou de ser meramente experimental para se tornar um tratamento de fato.
Existem vários tipos de biofeedback, de acordo com a aparelhagem utilizada e o parâmetro fisiológico que é monitorado. A eletroneuromiografia é uma técnica que mede a atividade muscular. Quando a pessoa está tensa ela retesa a musculatura, e isso pode causar muitos problemas como dores nas costas e dores de cabeça. Essa tensão pode ser captada pela eletroneuromiografia, permitindo acompanhar as sua modificações.
Também é utilizada a resposta galvânica da pele, que monitora a condutividade elétrica local. Essa condutividade tem relação direta com a produção de suor. Quando a pessoa está tensa há um aumento da produção de suor em alguns pontos do corpo como nas mãos. Isso pode ser usado para ajudar a pessoa a controlar seu próprio estresse. Uma terceira técnica de biofeedback é através do eletroencefalograma (EEG), um exame que mede as ondas cerebrais. A presença de ondas alfa no EEG relaciona-se com relaxamento e bem-estar. Com isso é possível prevenir o estresse e reduzir a freqüência de crises de enxaqueca, e a pressão sanguínea por exemplo.
Pesquisadores que estudam biofeedback desenvolveram um sistema de transformação dos estímulos captados pelos aparelhos em cores e ruídos que facilitam o paciente a saber o momento que consegue relaxar e melhorar seus parâmetros fisiológicos. Durante a sessão de biofeedback o médico ainda ensina técnicas de relaxamento ao paciente e vai ajudando-o a avançar no controle do seu estresse.
O biofeedback tem sido usado com sucesso no tratamento de várias condições como dor crônica, fibromialgia, hipertensão arterial, enxaqueca, epilepsia, ansiedade, distúrbios alimentares (anorexia e bulimia), arritmias cardíacas, doença de Raynaud*, descontrole de esfíncteres (incontinência urinária ou fecal), insônia, bruxismo, cervicalgia, alcoolismo, prisão de ventre e seqüelas neurológicas de lesão na medula espinhal.
* Doença de Raynaud é um problema dos vasos periféricos que se contraem dificultando a passagem do sangue. Com isso as extremidades (mãos, pés, ponta do nariz e orelhas) ficam arroxeadas e pode causar dor no local. A causa dessa doença ainda não está esclarecida.