Por Edson Toledo
Depois do lançamento do Manual diagnóstico e estatístico dos Transtornos mentais, conhecido como DSM-5 lançado em 2013 pela Associação Psiquiátrica Americana (APA), agora é a vez da Organização Mundial da Saúde (OMS) lançar a CID-11, a nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde que irá substituir a CID-10, fato que ocorreu em 18 de junho passado.
A principal característica da CID é que ela é a base para identificar tendências e estatísticas de saúde em todo o mundo e contém aproximadamente 55 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte. O documento fornece uma linguagem comum que permite aos profissionais de saúde compartilhar informações de saúde em nível mundial. Ou seja, quando um profissional da saúde falar sobre uma determinada doença todos os outros profissionais da saúde vão entender da mesma forma.
Segundo o diretor-geral da OMS Tedros Adhanom Ghebreyesus: "a CID é um produto do qual a OMS realmente se orgulha. Ela nos permite entender muito sobre o que faz as pessoas adoecerem e morrerem e agir para evitar sofrimento e salvar vidas."
Foram mais de 10 anos gastos na elaboração do documento, e ela traz uma inovação já que a CID-11 será a primeira versão totalmente eletrônica. A ferramenta foi projetada para uso em vários idiomas: uma plataforma de tradução central garante que suas características e resultados estejam disponíveis em todas as línguas traduzidas.
O novo documento reflete o progresso da medicina e os avanços na compreensão científica. Os códigos relativos à resistência antimicrobiana, por exemplo, estão mais alinhados ao GLASS, sigla em inglês para o Sistema Global de Vigilância da Resistência Antimicrobiana. A CID-11 também reflete melhor os dados sobre segurança na assistência à saúde. Isso significa que eventos desnecessários que podem prejudicar a saúde – como fluxos de trabalho inseguros em hospitais – podem ser identificados e reduzidos.
A 11ª versão da CID também conta com novos capítulos, um deles sobre medicina tradicional; embora milhões de pessoas utilizem a medicina tradicional em todo o mundo, ela nunca havia sido classificada nesse sistema.
De acordo com a OMS, existem claras evidências de que a transexualidade não se trata de uma doença mental, por isso ela foi retirada da categoria de "distúrbios mentais", respeitando à diversidade sexual dos seres humanos. No entanto, a transexualidade continuará na CID, mas agora em uma nova categoria, denominada "saúde sexual".
Outra mudança significativa é a inclusão do vício em jogos (games) na lista, como transtorno de comportamento. Essa alteração já havia sido anunciada em janeiro.
O vício nos jogos eletrônicos também foi adicionado à seção de transtornos que podem causar dependência. Trata-se de um tipo de vício comportamental em que a pessoa deixa de fazer suas atividades diárias para ficar jogando, o que compromete atividades básicas do cotidiano, como higiene pessoal, alimentação, trabalho e/ou estudos, vida social entre outras. Esse descontrole do ato de jogar deve ser recorrente por mais de 12 meses.
A CID também é utilizada por seguradoras de saúde cujos reembolsos dependem da codificação de doenças; gestores nacionais de programas de saúde; especialistas em coleta de dados; e outros profissionais que acompanham o progresso na saúde global e determinam a alocação de recursos de saúde.
A adoção da CID-11 depende de cada país. A versão lançada agora é uma pré-visualização e permitirá aos países planejar seu uso, preparar traduções e treinar profissionais de saúde. A CID-11 será apresentada para a adoção pelos países membros em maio de 2019, durante a Assembleia Mundial da Saúde. A entrada em vigor do documento está prevista somente para 1º de janeiro de 2022.