por Roberto Goldkorn
Um amigo no Facebook manifestou em público a sua prostração e desencanto diante do fim de mais um romance. Ele estava arrasado e emitia sinais de desistência, de quem estava de saco cheio de viver dessa forma.
Eu, intrometido como sempre, lhe disse: “Fique triste, faça o luto, mas coloque o despertador para tocar quando o prazo que você determinou acabar. E depois? Depois é bola pra frente, passado pra trás, e olhar o céu azul.
Outro amigo diante da queixa de sua mulher de que ele é um reclamador contumaz, também lhe receitei: “Fique triste, a reclamação constante é neurotizante, e esconde uma raiva de tudo e de todos. Melhor ficar triste, fazer o luto pela perda da qualidade das pessoas, pelas quebras de contratos, mas há de se determinar a hora de erguer a tule negra e sair por aí tocando pandeiro ou castanhola dependendo do seu gênero sexual.
Há um enorme preconceito contra a tristeza, muitos a confundem com melancolia ou depressão. A tristeza, principalmente quando nós a escolhemos (e não somos escolhidos por ela), pode ser um caminho de regeneração, de autocura.
Não há nada de errado em ficar triste, “dar um tempo”, recolher-se. A tristeza tem um quê de autenticidade, de coisa verdadeira, que a maioria de nós perdeu para fazer o jogo do contente, do “Tá tudo bem? TUDO ÓTIMO!”
Quantos de nós temos a coragem de confessar numa roda de amigos diante de copos de cerveja que estamos tristes?
Mas para que a tristeza cumpra o seu papel regenerador precisa ter dia e hora para recolher-se ela própria à sua morada na periferia do nosso corpo emocional. Senão ela vira bicho-papão, vira aquele caixão confortável, onde morremos antes de morrer. Esse é o grande “truque”, o pulo do gato. Deixar a tristeza vir, chegar e se acomodar pode ser um ato de rendição temporária. Certamente é um gesto corajoso e de profunda sinceridade conosco mesmo. Porém, estabelcer quando essa convidada nebulosa vai ter de desocupar a moita, é um valiosíssimo ato de Vontade e pode ser uma daquelas raras ocasiões onde (aquilo que pode se chamar de) a nossa Consciência se manifesta.
Camimho do guerreiro
Quando era jovem busquei com afinco o caminho do guerreiro. Achava, por exemplo, que diante de uma perda dolorosa, deveria botar o peito pra fora, a barriga pra dentro, colocar o sorriso (Deus sabe o quanto me custaram esses sorrisos) na cara e dizer: “Não, está tudo bem”. Claro que a frase anterior ficaria muito mais verdadeira sem a vírgula. Mas achava que deveria dar ao mundo um exemplo de fortaleza: enganos de juventude, energia gasta sem necessidade e com efeitos colaterais.
O custo de se manter a tristeza do lado de fora é imenso, impossível de ser medido. Já o custo de preservá-la do lado de dentro, bem, esse nem é preciso falar.
Hoje minha receita é simples: diante de perdas e “mortes” assumo a atitude passiva, faço uma reverência e deixo a tristeza entrar. Mas escondido nas minhas costas seguro uma placa dizendo o dia e a hora dela ir embora.
Assim me identifico com o refrão daquela música popular: “deixa a vida te levar”… mas nem tanto.