por Roberto A. Santos
Uma das canções mais lindas de nossa música popular, escrita por Vinícius de Moraes, começava com a idealização de como seria maravilhoso viver num mundo onde todos fosse iguais à sua musa. Outros, mais narcisistas, certamente, cantam como a vida na Terra seria perfeita se todos fossem iguais a eles mesmos.
Poesia e música de lado, por que nos é tão difícil convivermos com as diferenças entre as pessoas, principalmente, quando comparadas conosco? Por mais que retoricamente perguntemos: "O que seria do vermelho se todos gostassem do azul?" No fundo, não nos lixamos para a cor preferida pelo outro. Se você ainda duvida dessa idéia, pergunte para um Corintiano sobre o rival Palmeiras e vice-versa…
Aquilo que é diferente de mim e de minhas crenças, obriga-me a sair de minha zona de conforto para tentar entender ou, dependendo de quem vier o diferente, para eu ter que engolir. Nós estamos o tempo inteiro tentando restabelecer a ordem em nosso mundo interior. Por isso, tentamos encaixar novas aprendizagens, opiniões sobre pessoas e idéias, em nosso sistema de valores. Dependendo do nível de blindagem que eu tiver criado a meu redor, vai haver um curto-circuito a cada vez que uma nova experiência for dissonante.
As pessoas continuam nascendo com seus diferentes genomas e a cada segundo de vida formam infinitas combinações que as distanciam, ainda mais, umas das outras. De outro ângulo, os dias em que vivemos são cada vez mais diferentes uns dos outros, pela velocidade das mudanças em todos setores da vida. Sem dúvida, esses dois elementos estão absolutamente fora de nosso controle. Nem o poeta Vinícius ou os clones conseguirão alterar essa realidade. O que nos resta a fazer para que seja uma maravilha (ou pelo menos, viável) viver nesse mundo, hoje bem mais maluco do que quando a canção foi composta?
Aprender a desaprender
Se as mudanças são tão turbulentas, eu preciso reciclar minhas visões do mundo numa velocidade proporcional. Se as águas de uma represa se tornam violentas por um temporal inesperado, precisamos ter uma comporta para que elas possam passar e assim dar espaço à enxurrada que chegou. O mais belo disso tudo é que, se usarmos de uma boa engenharia, ainda aproveitamos para gerar energia com essa vazão do velho para dar lugar ao novo. Nos dias de hoje talvez seja mais importante estar disposto a desaprender alguns hábitos e se despir de certos preconceitos para poder absorver o novo para gerar uma energia renovadora.
Admirar as diferenças
Não suportar as diferenças, mas tentar aproveitar delas, admirá-las, como tão freqüentemente fazemos com exemplos dos reinos Vegetal e Mineral, e certamente, de outras espécies do Reino Animal. É verdade, não é nada fácil para nós. Uma lei da Psicologia Social diz que nós gostamos de quem compartilha com nossos valores e interesses, e desgostamos de quem não tem a famosa "química" conosco. Nossos valores refletem nossa identidade, e quando eles são ameaçados ou questionados, sentimo-nos desafiados em nosso íntimo. O perigo dessa lei nas organizações é se passar da heterogeneidade para a homogeneidade de idéias, pensamentos, visões e, logo, se terá uma tremenda dificuldade organizacional de se enfrentar as mudanças no ambiente. Não podemos vetar essa lei. Ela está gravada em nosso DNA. Entretanto, podemos fazer um esforço consciente de avaliar as opiniões e propostas de nossos semelhantes, isolando as diferenças de "química" pessoal e procurando o valor intrínseco do que ouvimos ou lemos.
Tenho que contrariar o poeta da Garota de Ipanema. Se todos fossem iguais a qualquer pessoa, provavelmente o mundo seria muito chato e burro, mesmo que fossem aquela garota que o inspirou. As mudanças cessariam e diferentemente das pedras rolantes, criaríamos limo em nossa capacidade de imaginar e sonhar um mundo diferente.