por Ana Luiza Moreira Mano – psicóloga componente do NPPI
“Como posso garantir a privacidade das informações que publico nas redes sociais, e na Internet como um todo?”.
Essa é uma pergunta que não se ouve tanto quanto se gostaria, mas que tem uma importância muito grande. Para exemplificar as implicações de nossa exposição online, falaremos de um aplicativo chamado “Girls Around Me” que criou polêmica algum tempo atrás, sendo inclusive excluído da iOS App Store posteriormente.
O aplicativo é relativamente simples: um mapa do Google baseado na geolocalização do usuário, que tem o propósito de notificar locais de interesse ao redor. Neste caso, o que se notifica não são apenas locais, mas também pessoas. O usuário pode selecionar o gênero que lhe interessa (masculino, feminino ou ambos), e pronto! A partir daí é possível ver quais pessoas estão naquela região, e em quais estabelecimentos, de acordo com a preferência de gênero.
O interessante é que ninguém precisa cadastrar-se para que o programa funcione. Os dados que o “Girls Around Me” utiliza são do Foursquare e de uma interligação deste com o Facebook. Portanto, todos os perfis com dados públicos nessas redes sociais são apresentados nos resultados da busca no mapa. Se há mais de uma pessoa num determinado estabelecimento, aparece um aviso com um número indicativo de quantas pessoas (do gênero selecionado pela busca do usuário) estão ali. Ao clicar neste número, é possível ver as fotos de perfil de cada uma dessas pessoas, e cada imagem corresponde à foto do perfil delas nas redes sociais em que estão inseridas.
Isso acontece porque a configuração padrão (default) de muitas redes sociais é justamente a “pública”. Dessa forma, muitos usuários acabam tendo seus dados expostos, devido à não alteração das configurações de privacidade. É sabido que, na maioria dos casos, as pessoas aceitam os termos de uso de diversos sites sem ao menos fazerem uma leitura dos mesmos. Da mesma forma, muitas pessoas não se interessam por verificar o nível de exposição a que estão submetidas nas redes sociais. Assim, um aplicativo pode facilmente assinalá-las numa rede pública, sem que elas tenham o menor consentimento. Vale lembrar que, nos resultados que o “Girls Around Me” apresenta, não há nada que vá contra as políticas da Apple, uma vez que as informações utilizadas são públicas.
Para se ter uma ideia de que tipo de dados estamos falando, aqui estão algumas informações que costumamos publicar nas redes sociais: nome e sobrenome; data do aniversário e/ou idade; estado civil; nomes da escola, universidade, local de trabalho; livros, artistas, grupos de interesse; nomes de membros da família e amigos; visão política e religiosa, fotos de hobbies, viagens, parentes, amigos, etc. Todas essas são informações que nós mesmos escolhemos publicar. Todos os usuários de redes sociais têm o poder de optar pela não divulgação de seus dados publicamente, porém o desconhecimento – ou até uma simples preguiça – podem induzir que essa ação preventiva não ocorra.
Uma exposição desse nível – não só nas redes sociais, mas na Internet como um todo – sem as devidas precauções, pode gerar sérias consequências, pois perde-se facilmente a noção de público e privado. Uma pessoa mal intencionada consegue facilmente saber onde estamos, nosso nome completo (bem como os nomes de nossas famílias e amigos), nossa aparência, quais os nossos interesses, onde estudamos/trabalhamos… imaginemos o que seria possível fazer com todas essas informações!
Infelizmente, o “Girls Around Me” não é um exemplo isolado, mas sim a demonstração prática da urgência de educação para o uso da Internet. Tão importante quanto, é o diálogo entre pais e filhos sobre os cuidados a serem tomados para um uso mais seguro e benéfico da ferramenta mais revolucionária de nossos tempos: a Internet.
O texto completo sobre a ocorrência com o aplicativo “Girls Around Me” pode ser encontrado em: http://www.cultofmac.com/157641/this-creepy-app-isnt-just-stalking-women-without-their-knowledge-its-a-wake-up-call-about-facebook-privacy