Seja você!

por Cristina Balieiro

Nesse mês do Papai Noel uma história para a criança que vive em cada um de nós.

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Sempre achei a “moral da história” das fábulas bem furadas. Desde pequena desconfiava que a vida não era bem assim.

Então, quando minha filha nasceu, há 30 anos atrás, resolvi reescrever uma delas, a famosa A cigarra e a formiga, na minha versão e com a minha “moral da história” para contar para ela:

As formigas e a formiga ou Araci

Araci era seu nome. Pequenininha, magrinha, tinha cara igual a todas as outras formigas. Mas ela não era igual, não era mesmo!

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Araci era uma formiga que queria ser cigarra. Ou melhor, não era bem isso, o que a Araci queria era cantar e dançar.

Não gostava de trabalhar como as outras formigas, não gostava daquele trabalho – fazia porque tinha que fazer. Achava tudo muito chato.

As outras formigas viviam apressadas, atarefadas, na maior seriedade e a Araci se arrastando. Aliás, se a Araci se metia a fazer qualquer coisa no formigueiro, alguma besteira já se sabia que iria acontecer.

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Uma hora esquecia da vida, ou melhor, da atividade que tinha que fazer e cantava e dançava cantigas de roda com as flores do jardim, outra hora ficava batucando um sambinha com as lagartas e outras maluquices. E aí adeus trabalho sério, como deve ser o trabalho de uma formiga que se preze!

As outras formigas começaram a ficar danadas da vida com a Araci. Onde já se viu uma formiga preguiçosa desse jeito? Só quer saber de dançar e cantar?

Resolveram dar um grande gelo em Araci: não mais falar ou olhar para ela e não chamá-la pra mais nada. Afinal, uma formiga que não quer trabalhar, que só quer bancar a cigarra, não serve para nada mesmo, é um desrespeito a dignidade formigal!

Então, a Araci muito abatida e tristinha, resolveu ir embora. Se ninguém no formigueiro gostava dela e das suas cantorias, ia buscar o seu lugar na vida. Pôs sua guitarra na mochila (esqueci de dizer que a Araci era uma excelente guitarrista), umas roupinhas, um sanduíche se sentisse fome no caminho e saiu mundo afora.

E o tempo se passou…
E SURPRESA, as formigas começaram a sentir a falta de Araci.

Ninguém mais acordava as formigas cantando, ninguém mais adormecia as bebês formigas com canções de ninar, ninguém mais alegrava o trabalho com solos de guitarra … tudo tinha ficado mais quieto, mais triste, mais chato.

Estavam com muitas saudades de Araci e de sua música. Nunca tinham percebido o quanto aquele formigueiro era mais legal que qualquer outro por causa de Araci.

Resolveram, então, pedir para ela voltar. Mas ninguém sabia onde ela estava. Começaram a procurá-la: perguntaram a todos os bichos se alguém tinha notícias dela. Foi então que a pulga Alice Maria disse ter ouvido que lá na lagoa, morava junto com os sapos, uma formiga muito boa de canto.

Escreveram então uma carta para Araci dizendo como estavam se sentindo e pediram a sua volta. A própria Alice Maria levou a carta.

E Araci, que morava mesmo lá na Saparia, resolveu voltar – ela gostava muito de suas irmãs. Despediu-se dos sapos prometendo voltar para animar o próximo baile e lá se foi para o formigueiro.

Mora lá até hoje. Inclusive montou uma banda de rock que toca em todos os bailes da floresta. E sabem o que mais? Está formando com toda a bicharada uma escola de samba para sair no próximo carnaval.

MORAL DA HISTÓRIA: são duas complementares e podem ser duas, pois afinal, a fábula é minha:

A coisa mais importante da vida é a gente ser a gente mesma!
 
A melhor coisa que a gente pode fazer para o mundo é trazer para ele a plenitude de nós mesmos!