por Samanta Obadia
A história da humanidade vive das diferenças e alterna seus ciclos entre os excessos e as ausências. Até mesmo quando buscamos o equilíbrio, caímos no extremo. Por que é tão difícil para o ser humano harmonizar? Por que nos atraem tanto a catarse, o drama e a tragédia?
O universo é fruto do caos e ao que parecemos nós também. Somos atraídos pela guerra, pela competição e pelo poder. O exagero é interessante, e dentro dos parâmetros estabelecidos, buscamos padrões estagnados de ideais que nos enquadram de forma torturante.
A aparência, a fama, o poder, os bens, as classes sociais, os amigos, tudo coopera para aumentar as diferenças entre nós.
As leis são criadas para aproximar ou afastar os seres humanos?
As informações veiculadas têm intenções humanistas ou capitalistas?
Até mesmo a solidariedade parece estar sendo comercializada.
Observamos nos noticiários a decadência e pobreza da maior parte da população mundial em detrimento de um reduzido grupo de privilegiados. Fico atônita com o discurso generoso e sensível de pessoas extremamente ricas e poderosas diante de uma população que convive com carências tão profundas. É fácil falar de um lugar que não é o seu. Contradição das desigualdades provocadas.
A humanidade caminha a passos largos, mas vazios. Postam muitas fotos e vídeos dos ideais que almejam ser ou ter, enquanto deixam de lidar com a realidade; trocam textos e imagens nas redes sociais enquanto desaprendem o diálogo; criam nomes diversos para se rotularem distanciando-se cada vez mais uns dos outros.
Ledo engano achar que comunicação imediata aproxima. Até quando vamos continuar a nos destruir compulsivamente?
O que deve mudar é o olhar que temos sobre nós mesmos. Como dizia o filósofo Santo Agostinho, a verdade não está no cérebro, mas na alma. E é com essa que em nosso princípio e em nosso fim, crianças e velhos expressam suas semelhanças, ainda que aparentemente sejam tão diferentes.
Esquecer as diferenças e ver a semelhança entre nós é a dica para um novo olhar realmente mais humano.