Sempre fui muito tímida, mas agora está muito pior. O que faço?

por Anette Lewin

"Eu tenho medo de pessoas, vergonha por me achar menos que algumas delas, me boto pra baixo direto. Não saio mais pra festa, tenho vergonha de ir nos parentes. Não sei o que é isso, mas é muito triste e vivo estressada."

Continua após publicidade

Resposta: Seus comportamentos sinalizam que você, provavelmente, apresenta um quadro de fobia social. Esse quadro caracteriza-se por uma ansiedade bastante acentuada frente à perspectiva de estar no meio de pessoas. Não é um quadro raro.

De uma forma ou de outra, todos nós sentimos um certo grau de preocupação no que diz respeito à opinião dos outros sobre nós. O que, porém, diferencia uma preocupação saudável de uma patológica, é o grau de ansiedade envolvida. No seu caso, boa parte de sua vida social é prejudicada por essa ansiedade, o que significa que é necessário interferir nesse quadro para que você consiga viver melhor.

A origem desses sintomas é multifatorial, ou seja, algumas características em conjunto contribuem para a formação do quadro. Pessoas tímidas, em geral, têm mais propensão à fobia social, assim como pessoas que sofreram bullying na infância; pessoas muito preocupadas em acertar sempre, assim como aquelas com julgamentos muito rígidos ou as extremamente pessimistas, apresentam uma maior propensão ao quadro. Assim, o mais importante frente à constatação dos sintomas, é reconhecer o problema e tentar modificar pensamentos negativos que invadem a cabeça frente à perspectiva de qualquer encontro social.

Refletindo-se um pouco sobre o que significa ser tímido, ou ter medo de pessoas, podemos dizer que, no fundo, uma pessoa que apresenta esses sintomas acredita que todo mundo vai estar olhando para ela e julgando suas atitudes o tempo todo. Na verdade, isso é o que, no fundo, ela gostaria que acontecesse. O medo, portanto, seria uma projeção de seus desejos e não uma realidade. Afinal, se ser notado fosse uma coisa tão fácil, as pessoas não viveriam se estapeando por um mínimo de atenção, não é? Assim, você que escreve, tente entender que as pessoas não estarão de fato olhando ou dando tanta atenção ao que você faz ou fala. Pessoas costumam estar muito mais preocupadas consigo mesmas do que com os outros. Mesmo que você quisesse, você não conseguiria ser tão importante para elas num único encontro social. Assim tente encarar encontros sociais como circunstâncias que, isoladamente, pouca importância terão na sua vida.

Continua após publicidade

Entenda que as verdadeiras relações que construímos envolvem uma seleção e um trabalho constante. Festas, encontros familiares ou comemorações são eventos que começam e terminam em poucas horas. Sua importância na formação de vínculos é, em geral, bem limitada e circunstancial.

Convívio social

Apesar disso, o convívio social é necessário, em certo grau, para todos nós. Assim, é importante que você faça um esforço para comparecer aos eventos por mais terrível que isso possa parecer. Afinal, é convivendo com as pessoas que se aprende a conhecê-las, entendê-las e domá-las.

Continua após publicidade

Num primeiro momento, tente estar perto de pessoas com quem você se sinta mais à vontade. Você deve ter uma amiga, uma tia, uma conhecida com quem costuma conversar. Aproveite quando estiver com essas pessoas para expressar suas opiniões, suas ideias, seus sentimentos. Fale bastante, solte-se. Num diálogo, o encadeamento de ideias costuma surpreender até quem está falando, não só quem está ouvindo. Muitas vezes conseguimos conhecer muito sobre nós mesmos numa tentativa de argumentar para defender uma ideia frente ao outro.

Tente também conversar com pessoas com quem você cruza no seu cotidiano: o caixa do supermercado, a atendente da farmácia, por exemplo. Ao invés de pegar seus produtos, pagar e ir embora, tente, por exemplo, fazer um pequeno comentário sobre o produto que está comprando: está caro, barato, a marca é boa etc. É uma forma de você iniciar uma conversa em um ambiente do qual você sairá em pouco tempo e, talvez, não volte tão cedo. Pode funcionar como uma preparação para quando você estiver em situações mais significativas como, por exemplo, aquela festa interessante para a qual você foi convidada.

Quanto à questão de se sentir " menos" do que outras pessoas, tente entender que todo mundo, sem exceção, tem suas qualidades e seus defeitos; todos, sem exceção serão admirados por alguns, mas ignorados por outros. Assim, tente se aproximar das pessoas com quem você se identifica mais. Evite ficar idealizando os " populares", que conseguem chamar muita atenção e almejar ser como eles. Seja você mesma. Se seu estilo é mais de observar do que falar, assuma-o e tente perceber que é importante se expor para que as pessoas conheçam você, mas não é necessário fazer isso o tempo todo. Às vezes, uma única ideia colocada no momento certo vale mais do que mil bobagens faladas apenas para chamar atenção.

Finalmente, caso depois dessa reflexão você ainda sinta dificuldades no convívio social, procure uma terapia que poderá ajudá-la a encontrar outros pontos de apoio para que você encare as pessoas de forma mais realista e deixe de enxergá-las como sinais de perigo e desconforto. Conviver com os outros pode ser agradável, é só saber quando levá-los a sério e quando ignorar o que dizem ou fazem.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.