por Roberto Goldkorn
Um das cenas de violência mais impactantes que assisti foi num filme onde o vingador psicótico prendeu o bandido e o manteve amarrado (braços e pernas) numa cama; sendo alimentado por uma sonda apenas o suficiente para manter seus batimentos cardíacos. Absolutamente imobilizado, ele a tudo assistia em completa impotência dia após dia.
“Sempre há uma alternativa” costumo dizer para mim mesmo e para os poucos que se dispõe a me ouvir, ainda que essa seja sair de cena de forma digna como em algumas culturas orientais.
Por isso que a cena onde o indivíduo é privado de sua última alternativa possível, escapando pela porta dos fundos da vida, por obra de suas próprias mãos, me é tão dilacerante.
Claro está que não sou obtuso em achar que até as crianças de colo podem ser responsabilizadas pelas atitudes que tomam. Mas como tento ver a vida como espiritual e material, entendo que a criança é apenas um corpo não desenvolvido habitado por um espírito mais ou menos desenvolvido. Isso implica em aceitar que até as crianças são o resultado (incompleto é claro) de decisões do espírito que anima seu veículo físico. Se essas decisões são certas ou não, se são baseadas na consciência ou na mais lamacenta ignorância isso são outros quinhentos. Percebo isso quando faço “Manuais de Funcionamento” para crianças recém-nascidas, baseadas na Numerologia Aplicada. Vejo ali a maioria dos programas que irão se combinar para criar aquilo que poderíamos chamar de história de vida daquele ser. Quase sempre consigo pescar uma história, na verdade varias histórias entretecidas. Mas em cada programa existe embutido um delta de alternativas, que sou obrigado a descrever para os pais, como ou isso ou aquilo. Alguns ficam chateados, outros perplexos com a minha imprecisão em determinados momentos, mas são essas justamente as encruzilhadas onde seus filhos terão de parar e decidir.
Ás vezes diante de momentos de estagnação, pensamos que a vida nos trouxe até ali à nossa revelia. Nada mais equivocado, nós construímos o caminho e seu resultado através das nossas escolhas, mesmo quando nem percebemos que estávamos escolhendo. Alguns de vocês podem discordar ou até escarnecer de minhas ideias achando que são muito místicas ou reducionistas.
Um senhor me disse que eu assim coloco o ser humano no mesmo patamar dos animais, que já vêm com circuitos impressos com os programas inevitáveis que eles terão de executar para propagar a espécie. Respondi-lhe que mesmo se assim fosse, não deveria haver tanta surpresa, pois que somos animais e partilhamos com o resto da criação de mais passado que presente. Apesar de acreditar pelos atuais estudos que alguns animais também possam aprender e evoluir, nós somos essencialmente animais evoluentes (termo meu para significar que está sempre incorporando conhecimento para alterar o traçado original).
Por isso ao contrário do sapo que pode morrer de fome, se não tiver insetos voando ou se movendo diante dele, nós somos essencialmente seres que aprendem e evoluem. Por isso temos programas neuroespirituais do tipo ou/ou, ou e ou, nem isso nem aquilo, etc. Infelizmente, grande parte dos seres humanos considera penoso e dificultoso aprender, preferindo comprar pronto o pensamento, a escolha e o produto final. Isso não contribui muito para a evolução da espécie, na verdade atrasa bastante. Talvez seja essa a razão de estarmos atolados em pequenos e grandes males medievais, ou pior ainda, pré-históricos.
Às vezes preciso me beliscar quando ouço que tantas pessoas morreram num conflito religioso! Infelizmente, estou acordado e essa notícia é atual e não um jornal do ano de 1245. Isso acontece sempre que escolhemos como indivíduos seguir a cultura da boiada. Como dizia Jung: “Cinco ou seis cabeças geniais quando se juntam viram uma só cabeça de bagre”.
Quando cedemos o nosso livre-arbítrio ao coletivo, seja ele religioso ou ideológico (ou até mesmo futebolístico), estamos abdicando de tomar resoluções próprias em favor de seguirmos (o que já é uma decisão) as decisões da manada.
A História nos ensina que isso costuma trazer apenas dor e atraso. Da mesma forma que a criança é imatura para tomar decisões conscientes, o indivíduo coletivizado se torna criança e esvazia parte de seu ser que deveria ser ocupado no processo de evoluir via decisões erros, acertos, correções de curso. Admito que entrar para a manada nos dá uma sensação reconfortante de poder. A manada também é uma alternativa para sobrevivência. Mas me pergunto vale a pena sobreviver apenas como apêndice de um corpo coletivo, quando o nosso destino superior deveria ser alcançar os picos do desenvolvimento individual?
Confesso que uma multidão avançando, brandindo símbolos religiosos e mantras “sagrados” de guerra é uma visão atemorizadora, tanto quando uma manada de milhares de gnus arremetendo pela savana africana. Só que somos humanos.
Comparo o meu pior medo de estar amarrado e não ter alternativa a se render ao domínio do coletivo, isso é apostar no retrocesso, renunciar ao crescimento e deixar de ser humano. Nesse ano de 2016 espero que algumas pessoas despertem de seus transes coletivos, e acordem para encararem a verdade do desafio da evolução individual.