por Flávio Gikovate
À medida que crescemos, percebemos que fomos abandonados pelos deuses.
Não só nossos pais nos rejeitaram – segundo nossa interpretação para o fato de não terem sido mais onipresentes – mas também parece que fomos rejeitados também pelos deuses. Justamente quando nos preparamos para aceitar melhor o desamparo físico – infantil – somos forçados a nos deparar com o desamparo metafísico. E assim teremos que nos familiarizar com a consciência clara de nossa insignificância cósmica.
Nós que temos nome, que somos reconhecidos pelos nossos parentes, amigos e vizinhos não somos nada além de um grão de areia. Se pensarmos em nossa posição no universo, somos tanto quanto a formiga que distraidamente massacramos ao andar.
De uma forma geral, podemos dizer que durante os anos de crescimento físico e de abastecimento da razão, experimentamos vários reveses, várias interpretações que nos levam a uma visão negativa sobre nós e a vida.
Por causa dos desamparos, todos nós sentimos menos amados do que gostaríamos de ter sido, o que nos faz sentirmos inferiorizados em valor absoluto.
Além disso, à medida que somos capazes de fazer comparações, a inferioridade também se reforça por esta via. Ao percebermos que fomos desamparados pelos deuses, percebemos que nosso papel no universo é insignificante e que nossa existência em termos absolutos é irrelevante. E mais, percebemos a incerteza e a insegurança de nossa condição e a impossibilidade de nos defendermos de riscos futuros de dor e também da morte.
Somos e seremos sempre inseguros e impotentes diante das coisas que mais nos são relevantes. Em paralelo com essas constatações, fruto da inter-relação e combinação das informações que acumulamos até os 8-10 anos de idade, percebemos cada vez mais claramente como nos sentimos excitados, alegres e gratificados, quando nos exibimos, quando chamamos a atenção de outras pessoas, quando atraímos olhares para nós…
Isso é vaidade!