por Karina Simões
Li recentemente em uma reportagem que mulheres bem-sucedidas e poderosas sentem-se como "impostoras", a exemplo da atriz americana Jodie Foster, que já ganhou duas estatuetas do Oscar. Segundo a matéria, a atriz afirma sentir uma sensação de fraude, como se não merecesse os reconhecimentos e premiações por ela alcançadas.
Ao analisar essa fala, pude perceber que em várias oportunidades ouvi relatos, em minha clínica, de pessoas que tinham a mesma impressão e pude perceber que se trata de pessoas com o mesmo perfil de sucesso, empenho e angústia.
Essas pessoas, como a atriz, têm constantes pensamentos de que podem perder tudo a qualquer momento, diante da crença de que não merecidamente conquistaram algo. Em meus estudos e análises dos fatos, pude perceber traços coincidentes nos vários casos que estudei e acompanhei.
Com efeito, percebi traços de personalidades que se impunham obrigatoriedades e empenho excessivos para se alcançar a meta que se situavam bem próxima da perfeição ou do quase impossível. Imagino que o sonho foi construído com a concepção de uma distância quase inalcançável. Por outras palavras, a pessoa acredita que jamais será possível alcançar o que se pretende e mesmo se imprimindo um ritmo e exigência sobre-humano, guardam a ideia de ser inalcançável a meta, mesmo sem dela desistir.
É nessa ambivalência entre a descrença de se chegar ao lugar pretendido e a imposição de permanecer no esforço para conquistá-lo, que se estabelece a realidade psicológica de sofrimento. Nessas condições, o sujeito mesmo alcançando o seu objetivo, continua a imaginar que não teria condições de atingir o que sonhou e assim julga que tudo não passa de uma "farsa". É justamente diante dessa realidade que surge a insegurança e com ela a angústia e até mesmo a ansiedade com o medo de perder o que conquistou.
O mundo competitivo que submete tantas pessoas a provas que não permite grandes erros como certos concursos públicos ou mesmo uma vaga em universidades em cursos de elevadas concorrência, sujeitam os candidatos a um esforço e dedicação desumanos. Estes passam anos estudando por até 15 horas diárias, e quando obtém êxito, muitos deles entram em crises, imaginando ter sido uma farsa ou mesmo com o medo de perderem o que com o seu esforço conquistaram. A fantasia de serem "impostores" precisa ser desfeita e o trabalho psicoterápico tem como desafio o trabalho com os pensamentos causadores desse sofrimento até a reformulação da crença de incapacidade. Daí se dá a importância e relevância de um acompanhamento psicológico para se desfazer essas crenças disfuncionais.
Tudo isso me leva a um conceito que precisa ser melhor refletido nos tempos atuais: não basta alcançar o que tanto se deseja, pois muito além de uma conquista está o modo como se conquistou. Não adianta chegar apenas, mas fundamentalmente é preciso cuidar do modo como se chega. Fica a dica para quem sonha alto e se impõe a exercícios que vão além de seus limites. E para aqueles que sofrem com esses pensamentos de serem "impostores", fica o convite para que procurem o quanto antes um psicólogo que o ajudem a se livrarem desse sofrimento. A descoberta de seu merecimento e a compreensão de todo o esforço dedicado será um caminho seguro para o entendimento e o sentimento de que: "você fez por merecer"!