Sentido à vida: dê uma pausa

Respeite seu ritmo interno: “Falta-nos, por muitas vezes, o tempo das esperas, o tempo dos preparos. O tempo que nos leva a ver o que está além do que é possível enxergar!”

Sinto-me muito confortável para falar a respeito desse tema, já que é fruto de minha própria imersão à solitude.

Ao ser acometida por esse vírus tão criativo, que vem fazendo o mundo se debruçar sobre seus efeitos, fiquei internada por longos dias, longe de tudo e de todos…tão perto de mim mesma.

Naqueles mesmos dias, tive a constatação de que a urgência está nos roubando de nós mesmos e inviabilizando a profundidade da experiência de estarmos simplesmente presentes.

São tantas as especulações, que nos perdemos no excesso de movimento da nossa própria visão periférica, embaçamos os vidros e, assim, acreditamos na visão comprometida.

Gastamos tempo e fôlego com aquilo que não podemos, de fato, mudar, com o que deveríamos deixar seguir em frente, com a exacerbação do autocentrismo.

Não raro, a rotina do trabalho somada aos descompassos do cotidiano, contribuem para o comprometimento do olhar sobre uma vida com mais significado. Uma vida que não esteja calcada somente na busca por conquistas materiais, títulos ou instrumentos que têm meramente a função de engrandecer o ego.

Transcenda a percepção de tudo que lhe chega pelos 5 sentidos

Falta-nos, por muitas vezes, o tempo das esperas, o tempo dos preparos. O tempo que nos leva a ver o que está além do que é possível enxergar. A vida é rara e sem descanso ela nos escapa pelos vãos do vazio.

Se o trabalho é essencial, o descanso o é da mesma forma, se não, mais ainda. Se você caminha, todos os dias, com a sensação de estar sempre no limite, então está indo na contramão de uma vida com sentido.

Quase nunca nos dedicamos inteiramente a uma determinada ação, pois temos de fazer tudo ao mesmo tempo. Os dias parecem estar sempre com as horas contadas e essa crença nos sabota, nos carrega para longe do que realmente somos.

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Sentido à vida: respeite seu ritmo interno

E quando somos convidados a viver com pressa, mais rápido nos distanciamos dos verdadeiros significados de uma vida com sentido. Há uma mensagem implícita (e muitas vezes, explícita) em nosso cotidiano, nos avisando para não “sermos lerdos” e, assim, corrermos o risco de perder alguma oportunidade. Não podemos perder nenhuma.

Nessa toada, o vazio vem a reboque. Porque independentemente do quanto se consiga adquirir, parece que sempre haverá algo a ser oferecido e do qual não podemos escapar.

Essa sociedade que sacraliza o progresso acaba tirando do meio da estrada qualquer coisa que o atravanque. Sob essa perspectiva, a ética é um dos aspectos que descansa na gaveta.

A vida pautada pela cibercultura convoca os caminhantes a correr e o corredor a aumentar a velocidade, num frenesi sem fim, descompensado pela lógica da urgência. A expressão “em tempo real” foi introduzida na sociedade não apenas pelos meios digitais, mas também, pela necessidade de buscarmos por uma plenitude jamais alcançada. Não dessa forma.

É necessário aprendermos a dar o devido tempo às circunstâncias e às pessoas, a se posicionar na contramão do viver correndo contra o tempo.

Caso contrário, nos perderemos de nós e de nossa essência. Para salvá-la, recomendo pausar o tempo e se dar a chance de gerir novas delicadezas, novos encontros, outros encantos.

Maria do Céu Formiga é psicóloga, escritora Membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, (ocupando a cadeira de Mario Quintana) e aquarelista. É pós-graduada em Psicologia Social, Mestre em Ciências da Religião. É consultora autônoma, coordena cursos e workshops. Realiza palestras e trabalhos em simpósios e congressos nos seguintes países: França, Inglaterra, Cuba, Israel, Chile e Estados Unidos. Mais informações: www.mariadoceuformiga.com.br