por Emilce Shrividya Starling
Todos nós temos a necessidade espiritual de amar e ser amado.
A necessidade de ser amado deve ser suprida pela habilidade de amar. Sentir-se capaz de gerar e expandir afeição, tanto para nosso próprio crescimento, como para transmiti-la aos outros com a intenção de deixá-los felizes.
Muitas crianças desenvolvem ideias errôneas sobre essa habilidade de amar. E como disse Tarthang Tulku, no livro A Mente Oculta da Liberdade: "À maioria de nós foi ensinado que o amor se acha fora de nós mesmos – é algo a ser obtido. Por isso, quando o encontramos nós o agarramos firmemente, como se não houvesse o suficiente para todos. No entanto, na medida em que o amor se torna apego egoísta nós nos isolamos da verdadeira intimidade".
O amor egoísta é decorrente de não se compreender as necessidades alheias. Geralmente, quando crianças aprendemos que para expressar amor bastava fazer a nossa parte, cumprindo nossas obrigações amorosas com que aqueles que nos amavam. Porém, não exercitamos como perceber e incluir no amor as necessidades afetivas das pessoas que nos amam.
Muitos consideram a submissão e a dependência como regras do amor, tanto para dar como para receber afeto. Muitos filhos pensam que se agradarem aos pais, estarão seguros e serão amados, e acham que é melhor não decepcioná-los. Por causa disso, ocultam seus problemas ou a verdade sobre o que acontece com eles. Desse modo, os filhos se distanciam dos pais, sem aprender a amá-los ou conhecer as suas necessidades afetivas.
Às vezes, os filhos somente aprendem a amar e valorizar os pais quando têm os próprios filhos ou precisam cuidar e proteger os pais.
Muitos filhos não aprenderam a retribuir o amor que receberam e se afastam dos pais quando adultos, nem os convidando para um almoço em casa ou se lembrando de datas importantes com um cartão afetuoso ou um presente dado com amor.
Nossa capacidade de amar, zelar e proteger mostra nosso amadurecimento afetivo. Desse modo, para nos tornarmos adultos emocionalmente saudáveis, precisamos abandonar o hábito de pensar que somente amaremos se formos amados. Precisamos acreditar em nossa capacidade de amar, independente de sermos amados.
Se ficarmos presos à necessidade de receber amor para sermos capazes de amar, nos tornaremos dependentes dos outros, vulneráveis e sempre carentes.
Se nossa busca pelo amor for apenas para nos proteger da solidão ou preencher nosso vazio, estaremos apenas em busca de sermos amados e não de amar. Isso gera mais carência afetiva que não será superada, se continuarmos apenas desejando sermos amados.
Como disse John Ruskan, no livro Purificação Emocional: "Quando você procura o outro para satisfazer suas necessidades, haverá vezes em que ele falhará, às vezes, sem querer. Se você estiver condicionado a se sentir contente quando suas necessidades são satisfeitas pelo parceiro, sentirá também descontentamento quando essas não forem. A não ser que consiga liberar a insatisfação, rapidamente você poderá ficar ressentido, dando início à síndrome dualista amor-ódio".
De acordo com a filosofia do yoga, o amor nasce da intenção de que os outros sejam felizes. E para isso, o yoga nos aconselha a começar por aprender a amar a nós mesmos.
Baba Muktananda, um mestre yogue, disse em seu livro Encontrei a Vida: "Se você quer experimentar amor, precisa começar por amar a si próprio. Primeiro tem de amar seu corpo, depois aqueles que estão relacionados com seu corpo e depois o senhor do corpo, o Ser interior. Você deve compreender o valor desse corpo, e então, fazê-lo forte através da hatha yoga, meditação e cantando o nome de Deus. Esse corpo é seu maior amigo e deslealdade com um amigo não é bom. Alimente-o regularmente e com autodomínio. Tome muito cuidado com ele; faça dele uma morada adequada para Deus habitá-lo. Assim, ame a todos aqueles que estão relacionados com seu corpo; sua mãe, pai, irmãos, irmãs, amigos, parentes, marido ou mulher e filhos. É assim que o amor se expande.".
Lama Gangchen Rinpoche disse: "A maior parte de nosso desconforto e doenças mentais vem de não amarmos a nós mesmos e aos outros. Primeiro, precisamos aprender a nos amar e a dizer a nós mesmos: "Eu sou bonito'; "Eu sou uma pessoa boa, tenho valor". Depois, devemos tentar desenvolver em nosso coração o mesmo sentimento especial de amor por todos os seres, o mesmo sentimento que temos por nossos filhos e parentes próximos. Amor não é o mesmo que apego".
Uma forma de armazenar o amor sem apego é sentir gratidão, pois esse sentimento amplia a dimensão do quão profundo pode ser nosso amor por alguém. A gratidão é um antídoto contra o amor egoísta.
Cultive gratidão a lembre-se dos momentos que sentiu o amor verdadeiro e das boas ações que lhe fizeram.
Tudo que fizer, faça com a intenção de experimentar amor. Reconheça as necessidades afetivas das outras pessoas. Expanda amor através da gentileza, amabilidade, paciência, generosidade, compreensão. "Perdoe como você gostaria de ser perdoado, ame como gostaria de ser amado, faça somente o que você gostaria que fizessem com você".
Fique em paz!