por Dulce Magalhães
Lamento informar que o caminho vocacional, por não possuir fórmula ou método universal, também nos deixa sempre com o sentimento de andar na corda bamba, entre agradar aos outros, atendendo expectativas ou romper com as convenções e vivenciar uma trajetória única.
Imagine como deve ter sido difícil para os pioneiros de todas as profissões do mundo. Aquele filho de comerciantes que resolveu viver de sua arte. A menina de uma família de camponeses que decidiu dançar para viver. O filho do ferreiro que quis ser um tira-dentes.
Enfim, os cirurgiões, os pintores, os menestréis, os herbalistas… todas as profissões em algum momento foram fruto do pioneirismo e vieram romper, por vezes, com seculares tradições de família.
Graças a isso, hoje temos uma imensa diversidade de atividades, que ainda não está esgotada e se encontra distante do limite de novas possibilidades. Viver a vocação não significa que devemos, necessariamente, romper com a tradição ou inovar como pioneiros, contudo, é preciso abertura para ser capaz disso, se for o caso.
Sentimento move caminho vocacional
Aqui vale dizer que o caminho vocacional não é rebeldia ou revolução, mas está intimamente ligado a um núcleo original e íntimo que só o indivíduo possui a chave para acessar. Assim, não é aquilo que fazemos, mas o sentimento que nos move a fazer aquilo, que realmente define se estamos num caminho vocacionado ou não.
É mais fácil definir o que não é vocação
Por tudo isso é difícil definir o que seja nossa vocação, pois ela é tão variável como são os indivíduos. O que podemos definir com mais tranquilidade é o que, decididamente, não é vocação: a busca de segurança, a manutenção da tradição, atender às expectativas alheias, seguir os passos de outro, herdar a estrutura de um negócio ou carreira… Enfim, todos os processos de caráter externo e alienados da essência ou chamado essencial, que é a própria tradução de vocação.
Essa definição por exclusão talvez não resolva nossas dúvidas, mas pode nos ajudar a perceber o próximo passo na corda bamba do caminho de escolhas em que nos encontramos. Se estamos entre o que devemos e o que queremos, entender o dever como parte do processo, mas não como seu fim último pode ser o meio mais inteligente de percorrer a corda sem perder o equilíbrio. No mais, o jeito é aprender os passos para novas e vibrantes acrobacias.
Visão ampliada
Agora que já compreendemos um pouco melhor o jogo do equilíbrio para o caminho da vocação, definimos o que não é e já podemos evitar as armadilhas do cenário exterior, então é tempo de ampliar nossos sensores para adentrar na investigação mais precisa do que pode ser nossa vocação.
Para nos liberarmos para a busca vocacional, precisamos exercitar o rompimento das fronteiras que limitam nossa visão de mundo, porque o que vemos é a expressão do estado em que nossa consciência se encontra. Não vemos o mundo como ele é, vemos o mundo como nós somos.
Encontrar o caminho vocacional exige um alargamento da visão de mundo. Estabelecer perguntas é a forma mais precisa de romper com padrões e encontrar novas respostas. Assim, a fórmula para o autoconhecimento é a dúvida, a formulação de questões que nos levem a analisar a realidade através de um olhar expandido.
Dez perguntas para te guiar no seu caminho vocacional:
1. O que eu sei sobre mim?
2. O que preciso aprender a meu respeito para encontrar minha vocação?
3. Quais valores pratico e por que os elegi?
4. O que tem prioridade em minha vida?
5. O que gosto de fazer e por quê?
6. O que não gosto de fazer e por que não?
7. O que é fácil para eu fazer?
8. O que é difícil para eu fazer?
9. O que esperam de mim?
10. Como atendo as expectativas que as pessoas têm a meu respeito?
Essas e outras perguntas poderão contribuir e guiar nossa percepção para além dos modelos aprendidos e nos liberar para decisões menos equivocadas e mais orientadas para os desejos e aspirações interiores. O importante é formular as perguntas e, consciente e perseverantemente, buscar e pensar sobre as respostas. Esse processo irá canalizar as energias necessárias para o rompimento de padrões de conduta que foram condicionados e insistentemente treinados e não refletem quem somos. Continuaremos o assunto no próximo artigo. Por enquanto, vai refletindo sobre isso. Suerte!