por Flávio Gikovate
“A vaidade inunda a nossa razão e, a partir de um ponto impreciso de nossas vidas, não há mais nenhuma reflexão ou interpretação dos fatos e de nossa condição que não esteja contaminada com esta vontade de nos atribuirmos significado especial e ímpar”
Não me parece difícil imaginar que a razão através de sua capacidade de correlacionar e interpretar, encontre suas próprias explicações – nem sempre muito de acordo com os fatos – para perceber as tristezas da vida como algo que nos faz sentir por baixo e os prazeres exibicionistas como algo que nos coloque para cima.
A nossa real insignificância fica momentaneamente atenuada pela sensação positiva de sermos admirados por outras pessoas.
Nosso desamparo e a sensação de menos valor – derivada de desafetos supostos ou reais – são recompensados pelo prazer que sentimos ao sermos objeto de olhares que nos fazem sentir especiais. Esquecemos por alguns instantes que somos perecíveis e que estamos permanentemente ameaçados, quando a nossa chegada é tratada pelos outros como algo que lhes impressiona.
Em uma frase podemos dizer que os sentimentos de inferioridade pedem destaques compensatórios e que o prazer de se exibir rapidamente passa a estar a serviço dessa função.
A vaidade inunda a nossa razão e, a partir de um ponto impreciso de nossas vidas, não há mais nenhuma reflexão ou interpretação dos fatos e de nossa condição que não esteja contaminada com esta vontade de nos atribuirmos significado especial e ímpar.