por Renato Miranda
No texto anterior (veja aqui), comentei sobre nos sentirmos motivados, felizes e com sentimento de recompensa após praticar qualquer atividade física.
Agora abordarei a relação entre sistema de treinamento e fisioterapia. Como disse no artigo anterior, sistema de treinamento é a tentativa de integrar, de maneira sofisticada e funcional, as intervenções específicas de cada elemento do treinamento (preparação física, técnica, tática, psicológica e teórica) do atleta, considerando o contexto geral, harmonioso e sistêmico (daí o nome sistema de treinamento) do ser humano.
Bem… vamos à segunda e última parte deste artigo.
Há uma integração sistêmica constante entre o conjunto corpo/mente e a dualidade desses dois sistemas não existe, o que há é apenas um elo (ou polo) mais denso (corpo) e outro menos denso (mente). Por isso a prevalência da ideia sistêmica do corpo serve para o treinamento: a soma das partes nunca é maior do que o todo.
Sendo assim se não há uma integração harmoniosa entre os elementos do treinamento, não haverá repercussão funcional na vida (inclusive na vida interior) do atleta.
Refletir sobre a estrutura de um ótimo sistema de treinamento é antes de tudo entender essa relação simultânea entre corpo e mente resumidamente descrita acima.
Talvez isso explique porque recentemente em uma palestra sobre psicologia do esporte e treinamento, algumas pessoas participantes estavam surpresas com a presença de um número considerável de fisioterapeutas.
Quando me perguntaram o que eu pensava a respeito (da presença dos fisioterapeutas) eu simplesmente falei sobre o que escrevi acima, com ênfase na ideia sistêmica do ser (muito bem dita pelo filósofo e psicólogo do esporte Olavo Feijó nos anos 90).
Na prática todo fisioterapeuta sabe que sua intervenção na reabilitação e prevenção de lesões nos ossos, articulações, ligamentos, músculos e outros não se resumem apenas em uma ação de cuidados e manipulação corporal. Elementos mentais e emocionais, como concentração, percepção, motivação e confiança interagem constantemente e simultaneamente nas sessões de treinamento e tratamento.
Perceba a dificuldade que um atleta tem em se motivar e ter autoconfiança, por exemplo, quando ele mesmo percebe que há alguma dor o incomodando. Técnicas psicológicas aplicadas neste caso, em exemplo, podem ajudar o atleta, mas isoladamente, e sem a intervenção do fisioterapeuta, se torna uma tarefa inglória.
É comum escutarmos dos próprios atletas (principalmente os profissionais) que é quase impossível viver sem dor. Seja devido à microlesões, como dores musculares, sejam dores mais agudas por choque com o adversário ou ainda as dores crônicas que acompanham a vida de muitos atletas e só conseguem seguir em frente em função da fisioterapia.
Observe que preparar o corpo (forma física), ensinar, treinar e aperfeiçoar movimentos (técnica), atuar pensando com propósito (tática) entender o jogo (teoria) e harmonizar a mente (pensamentos e emoções) só é possível se protegermos o mesmo corpo/mente (prevenção e reabilitação).
Recuperar o atleta de uma contusão o mais rápido possível, prevenir futuras possíveis lesões e fortalecer o corpo é antes de tudo uma contribuição sistêmica para o treinamento esportivo e consequentemente para uma carreira frutífera e perene.