por Rosemeire Zago
A maneira como pai e mãe enfrentam a separação pode influir de maneira negativa na vida futura dos filhos, principalmente na vida afetiva.
O que está sendo vivido no ambiente familiar ficará registrado no inconsciente da criança, independente da idade. Pense na maneira como você está se relacionando com sua esposa ou seu marido nos últimos meses ou anos. Existe alguma demonstração de carinho? Há brigas, discussões, agressões verbais ou físicas? Pode não haver nada disso, mas há indiferença, o casal não fala um com o outro? É preciso entender que tudo que acontece no ambiente familiar está sendo percebido pelos filhos e esses podem daqui alguns anos repetirem exatamente o que estão vivenciando, pois será a referência que irão ter do que seja um relacionamento afetivo.
Há muitas dúvidas se devem ou não falar para os filhos sobre a separação. Algumas mães tendem a dizer que o pai está viajando a negócios, ou dar alguma justificativa, porém muito distante da realidade, acreditando assim evitar fazê-los sofrer. Negar o que se passa e mais ainda, o que se sente, pode gerar muitas sequelas. Pior ainda é dar espaço para que a criança saiba por outra pessoa sobre a separação dos pais, o que poderá provocar a sensação de ter sido traída, perdendo toda a confiança nos pais. Com certeza os filhos têm o direito de saber e o melhor caminho é sempre a verdade. O impacto gerado pela separação dos pais, se for bem conduzida, pode ser menos grave que as consequências produzidas por uma família em conflitos.
O passo-a-passo:
1º) Como contar aos filhos
Ao conversar com os filhos sobre a separação é importante lembrar-se de algumas regras básicas:
– explicar o motivo da separação;
– informar quando e como será;
– explicar o que acontecerá com eles, ouvindo sempre seus desejos;
– ouvir todos seus sentimentos, dúvidas e medos e tranquilizá-los;
– reforçar o fato de que o casal está se separando, mas que continuam sendo pai e mãe;
– lembrar-lhes sempre o quanto são amados.
2º) Qual o momento certo para falar com os filhos?
Depois da decisão ser definitiva e assumida pelo casal. Isso porque em muitos casos, ambos ou um dos pais pode desejar compartilhar suas angústias com os filhos e dizer-lhe sobre a separação e, depois de alguns dias a decisão não é tomada, a rotina se instala e nada mais é comunicado à criança, causando um desgaste desnecessário.
3º) Quem deve contar aos filhos?
É indicado que a conversa seja feita por ambos os pais e com todos os filhos para evitar que cada um receba a notícia de maneira diferente. Se cada um resolver falar separadamente com os filhos é preciso tomar o cuidado para não acusar o outro que está ausente, seja xingando ou desabafando toda sua ira.
4º) Qual o melhor lugar para essa conversa?
O melhor lugar para essa conversa é a própria casa, sem interrupções e com bastante tempo para que os filhos sejam ouvidos, suas dúvidas sanadas e as emoções expressas, incentivando-os a dizer tudo que pensam, porém fazendo com que sintam acima de tudo que são amados. Conversar fora de casa também pode ser uma opção, mas nem sempre os filhos se sentirão à vontade para expor seus sentimentos. Algumas vezes, ao receberem a notícia da separação, aceitam sem reação alguma, mas com o passar dos dias poderão surgir reações inesperadas como queda no rendimento escolar, agressividade, apatia, insônia, tristeza, pesadelos e até mesmo somatizações como dores de cabeça, estômago e mau funcionamento intestinal. Nem sempre a tristeza aparecerá em forma de lágrimas, mas o corpo pode chorar as lágrimas reprimidas de outras maneiras.
5º) Filhos não têm “poder” de unir ou separar o casal
É importante deixar bem claro que os filhos não têm culpa nem poder de separar ou unir o casal. É comum as crianças menores pensarem que os pais resolveram separar-se por algo errado que elas fizeram. Quanto menores forem as crianças mais necessário se torna tranquilizá-las, evitando assim que vivenciem a separação dos pais como uma punição por alguma falta cometida. Os pais devem repetir com frequência o fato de que essa escolha não depende deles e que eles não são de forma alguma a causa da separação.
Depois da separação e dentro das possibilidades do casal é importante que seja mantido o ambiente que rodeia a criança, como escola, casa, bairro, amigos, pois isso poderá ajudá-la a dar continuidade à sua própria vida. E independente com quem fique a guarda das crianças, a presença constante por parte de quem se foi é imprescindível.
Quando os pais conseguem resolver juntos seus problemas, participando aos filhos de suas decisões, eles tendem a aceitar com mais naturalidade esse momento, lembrando que em geral, os filhos agem muitas vezes como reflexo dos pais, por isso é importante que ambos tenham muita certeza da decisão que tomaram para que possam transmitir essa segurança para os filhos que com certeza será refletida em suas vidas.
6º) Com quem deve ficar a guarda?
Com quem tiver melhor estrutura emocional para criar as crianças. Lembre-se que acima de 12 anos elas têm o direito de escolha perante à Justiça.
7º) Já tenho outra pessoa, devo apresentar ao meu filho?
Tudo no seu devido tempo. O mais indicado é respeitar o processo de elaboração da criança diante dessa nova situação e permitir que ela possa elaborar uma situação de cada vez. Controle sua ansiedade e espere alguns meses até que a apresentação possa ser feita de maneira natural.
Pais que amam seus filhos desejam o melhor para eles, e o mesmo acontece com os filhos, que também desejam que seus pais sejam felizes!