por Flávio Gikovate
“Ser admirado por pessoas emocionalmente significativas conta mais do que a admiração vinda de pessoas indiscriminadas”
Receber exclamações de admiração, significa ser amado pelos pais. Assim, a intromissão da vaidade no processo amoroso está inserida de modo definitivo.
Ser admirado por pessoas emocionalmente significativas conta mais do que a admiração vinda de pessoas indiscriminadas, pois nos gratifica também do ponto de vista sentimental; satisfaz, dessa forma, dois anseios simultaneamente: o de, por si só, ser admirado, como o de experimentar esse sentimento a mais, despertado por pessoas queridas.
Não é de se estranhar, pois, a afirmação de Platão em “O Banquete” (385-380 a.C) de que o amor deriva da admiração.
Quando na vida adulta tratamos de substituir nossos objetivos afetivos infantis por outros mais de acordo com nossas normas sociais, qual o critério que usaremos para a escolha, senão o da admiração? A pessoa só despertará meu amor se for capaz de despertar minha admiração, pois as experiências anteriores já acoplaram estes dois processos: a ânsia amorosa é instintiva e o critério de escolha é racional, derivado da intromissão da vaidade neste setor da nossa subjetividade.
Desse modo, o homem que ama mulher terá que se orgulhar dela, ter prazer em desfilar socialmente ao seu lado – como sofrem os amantes clandestinos diante dessa impossibilidade. A recíproca terá que ser verdadeira: a mulher em nossa cultura terá que se bela e atraente e o homem um vencedor; embora, hoje, a mulher já tenha ascendido profissionalmente e já ocupe cargos de liderança nas organizações.
As pessoas apaixonadas tenderão à troca de frases, todas ligadas, mais do que tudo, à vaidade:
– Você é o máximo!
– Eu sou a pessoa mais feliz do mundo por ter sido escolhida por você!
– Não conheço ninguém que chegue aos teus pés.
– Nosso amor e o amor que já me aconteceu.
E assim por diante… É como se houvesse uma importante concentração de vaidade em torno da relação afetiva. Ser admirado em geral continua a ser importante, mas ser admirado pela pessoa eleita, passa a ser tão ou mais importante do que todo o resto.