por Cristina Balieiro
“Não é demonstração de saúde ser bem ajustado a uma sociedade profundamente doente”
Quem trabalha como psicoterapeuta – e tem uma visão que a vida das pessoas deve ser tão ampla quanto as suas possibilidades – sabe que muitas vezes o sofrimento do paciente, além das questões pessoais, está entranhado em suas dificuldades de se ajustar às demandas e crenças da cultura.
A pessoa sofre por se sentir diferente do esperado, por não conseguir alcançar o “sucesso” que se espera dela, por não se ajustar aos modelos preconizados como os ideais, por não se sentir feliz e plena com aquilo que dizem que a fará se sentir feliz e plena.
Ela tende então a se sentir um fracasso e sua autoestima vai para o fundo do poço. Pode até chegar a se deprimir, fora o estresse causado por essa sensação de inadequação.
Ao mesmo tempo em que sofre por se sentir incompetente, pode existir uma parte da pessoa que resiste a se ajustar a essas expectativas sociais/culturais. É como se essa parte não quisesse “fazer o jogo” de ser um sucesso aos olhos dos outros à custa de tanto sofrimento interno pessoal. É como se a pessoa ansiasse por algo diferente do que é oferecido pela cultura dominante.
Muitos chegam à terapia para entender essa recusa ao padrão coletivo. Querem calar essa parte rebelde de si mesmo para melhor se ajustar às demandas do seu meio. Sentem que essa é a sua parte errada.
Mas, no maior número de vezes, é essa parte que se rebela e que não se ajusta, que é a mais saudável, apesar da pessoa não ter consciência disso.
Numa sociedade com uma cultura dominante como a que vivemos, de uma competição desenfreada e sem ética, materialista e consumista, sem mitos e ritos e sem a dimensão do sagrado, infantilizada e unilateralmente extrovertida, onde o se dar bem é à custa dos outros e não com os outros, onde gentileza, delicadeza e ternura são vistos como fraqueza, quem se ajusta bem é que é BEM doente!
Como diz o filósofo indiano Jiddu Krishnamurt (1895-1986):
“Não é demonstração de saúde ser bem ajustado a uma sociedade profundamente doente”
Algum ajuste é necessário, claro, pois vivemos nessa sociedade, nessa cultura. Mas certa dose de desajuste, apesar de gerar sofrimento e implicar em ter que estar o tempo todo ampliando a consciência, remar contra a maré e trabalhar consigo mesmo, é um movimento interno a favor da saúde e da expansão da alma.