Ser um chefe “gente boa”. Isso pode se voltar contra mim?

Da Redação

Não é de hoje, o modelo autoritário de liderança já se provou ineficaz. Segundo o especialista em recursos humanos Roberto Santos, “Há 40 anos, no começo de minha carreira, apenas se começava a se criticar o estilo 'manda quem pode, obedece quem tem juízo' — sinônimo de autoritarismo que respirávamos na negra fase de nossa história dos ditadores militares. Claro que ainda hoje esses dinossauros corporativos ainda circulam pelos organogramas, mas principalmente, as empresas globais de porte, de grande visibilidade no cenário da responsabilidade social, passam a dar prioridade a um estilo de liderança participativo e princípios éticos em todas suas vertentes da responsabilidade social. Esses gestores são avaliados não apenas pelo fechamento das quotas de vendas do mês, mas pelos resultados nas pesquisas de clima, de engajamento, e de gestão, segundo seus subordinados.”    

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Ele completa: “… as pessoas não deixam as empresas, mas sim os seus chefes".    

Robert Hogan, psicólogo americano especialista em personalidade e liderança, afirma que entre 65 e 75% dos chefes são incompetentes.   

Um artigo publicado na Revista Quartz com dados da Associação de Psicologia dos Estados Unidos mostra que 75% dos trabalhadores americanos consideram seus chefes as principais fontes de estresse no trabalho, mas, ainda assim, mais da metade (59%) prefere ter um gerente ruim a sair do emprego.

Na prática, ser um chefe gente boa é estar mais próximo da equipe e deixar as pessoas felizes. Mas essa camaradagem e tentativa de agradar a todos pode se voltar contra você. Um chefe que tenta ser camarada pode não levar sua equipe a grandes desafios. Esse protecionismo pode ser encarado pela empresa e clientes como falta de pulso ao lidar com um profissional menos habilidoso por exemplo.          
 
Mas então, há um meio-termo? Qual a forma certa de aplicar pressão em minha equipe para que conquiste os resultados esperados, mas sem ficar com a famosa fama de vilão?

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Bem, já deu para notar que ser um bom gestor não é tão simples quanto parece e exige um modelo de gestão eficiente e uma boa dose de inteligência emocional.

Para o coach Alexandre Lacava, esse tão almejado patamar pode ser alcançado quando o chefe sabe delegar desafios de acordo com as habilidades de quem o executará. “É difícil encontrar um gestor de equipe que já não tenha experimentado uma situação que o enquadre como ‘vilão bem-sucedido’ ou ‘amigo fracassado”, explica.
 
É comum encontrar gestores que atingem suas metas, mas ainda assim não ficam felizes, pois os resultados são obtidos através de constantes promessas de remuneração ou benefícios extras, que nem sempre podem ser cumpridos, o que muitas vezes resulta em desmotivação e perda de confiança da equipe. Ou então aquela equipe se mantém unida, porém, não é mais bem-sucedida em conquistar os resultados esperados.
 
Alexandre lista prós e contras de ser um chefe ‘gente boa’ e dá dicas para o gestor encontrar seu ponto de equilíbrio:
 
Pró: possui conexão com a equipe

Um líder que está em sintonia com a equipe comemora junto quando as metas são alcançadas, mas também assume a responsabilidade junto aos demais quando isso não acontece. "Acompanhe, aconselhe e oriente. Esteja em sintonia com o que passa ao seu redor todos os dias, isso aumentará a segurança e os resultados almejados", afirma o especialista.
 
Contra: pega para si as tarefas que deveria delegar

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Com medo que seu liderado cometa erros, deixa de delegar por achar que o resultado não atingirá o padrão de qualidade esperado. Isso resulta na perda de tempo e na sobrecarga de suas atividades, além de não estimular o desenvolvimento de seus liderados.
 
Pró: aponta soluções e sabe dar feedbacks  

Um gestor "gente boa" acredita que é necessário alocar tempo à sua equipe, seja para ouvir ou para comunicar. De nada adianta o chefe ter um bom relacionamento com a equipe se não for capaz de ajudá-los nas questões que os impedem de conquistar melhores resultados. É preciso ter um método, saber conduzir e buscar soluções eficazes para aumentar a performance da equipe.
 
Além disso, o líder coach oferece feedbacks construtivos e assertivos que visam aprimorar a comunicação entre a equipe. Ele busca saber a opinião da equipe, faz perguntas e quanto mais oferece espaço ao liderado para se expressar, promove que o conhecimento do caminho a seguir por ele possa ser encontrado através das próprias respostas.
 
Contra: põe a mão na massa quando não deveria

É interessante ter um líder que participa dos processos com interesse de contribuir para o alcance dos resultados. Porém, ao fazer isso, acaba por desprover sua equipe de técnicas e orientações adequadas, além de consumir tempo que poderia ser aplicado para a realização de novos projetos, levando assim a equipe ao fracasso. Isso torna-se um círculo vicioso, cada vez mais o gestor sentirá a necessidade de se envolver nas realizações da sua equipe à medida em que a deixará, por falta de tempo, desprovida de orientações e estratégia para seguir seu rumo de forma independente.
 
Pró: permite a atuação individual dos membros da equipe

O líder “gente boa” não está preocupado em atuar sozinho com medo de que alguém o supere. Ele sabe encorajar o desenvolvimento de soluções criativas e potencializar o poder individual de seus liderados dando espaço para que atuem de forma mais independente. Um dos segredos que levam um gestor a obter bons resultados, é focar nos pontos fortes da sua equipe, desenvolvendo-os e aprimorando-os para que passem a usá-los com maestria e excelência.
 
Pró: conhece as habilidades de seus liderados e sabe o que cada um faz  

Quanto mais você estiver ciente das forças e fraquezas, assim como os talentos e habilidades da sua equipe, mais efetivo será sua gestão. Por isso, conhecer cada liderado e saber como funciona o desenvolvimento de suas habilidades permite regular a pressão necessária a ser imposta. Isso irá ajudá-los a conquistar mais e melhores resultados, a manter a motivação e a estarem felizes com suas conquistas.
 
Fonte: Alexandre Lacava: especialista em liderança e pós-graduado em psicologia organizacional.