por Roberto Goldkorn
A pesquisadora francesa Niède Guidon fez uma importantíssima descoberta arqueológica: desenhos em paredes de pedra e em cavernas na Serra da Capivara no Piauí, indicam a passagem por terras pré-brasileiras de grupos de homens e mulheres já há cinqüenta mil anos! Esse achado pictográfico veio se juntar a outros como os das cavernas européias de Altamira e Santander.
Em geral esses desenhos representam cenas de caça, e os personagens principais são os animais como não podia deixar de ser. Assim muito antes de construir a linguagem escrita (alguns povos extremamente evoluídos simplesmente não desenvolveram escrita, como os Celtas e os Incas), nossos ancestrais desenvolveram a linguagem pictórica.
Hoje não desenhamos mais a nossa marca e a colocamos em cavernas escuras, mas sim nos nossos cartões de visita e luminosos. Esses desenhos sinais da nossa pessoalidade, do nosso território demarcado acabam exprimindo muito mais, exprimem programas que refletem o nosso Inconsciente. Por isso me especializei em análises de assinaturas e das assinaturas comerciais chamadas de logotipos. A cada dia descubro com mais surpresa como os logotipos exprimem tendências pré-existentes naquele 'ser' virtual que é a empresa.
Minha primeira e dolorosa lição nesta área vivenciei na própria pele. Há cerca de 25 anos montei uma editora, e criei para ela um logotipo crente de estar fazendo algo forte e inteligente. O logo era um leitor estilizado lendo um livro, visto de um foco superior (como se o observador estivesse no alto). Assim tanto o livro quanto os braços do 'leitor' formavam triângulos com a ponta para baixo. Além disso, (só fui perceber isso muitos anos depois) os 'braços' do meu 'leitor' que no fundo era eu mesmo, formavam uma espécie de tenazes (um alicate) apertando a cabeça redonda do leitor. Mesmo tendo sido 'avisado' por um gerente de que 'não era bom fazer uma seta para baixo', na época achei que ele (quem ele pensava que era?) estava dizendo bobagens. Quebrei de forma estrepitosa ao me meter a besta de editar o livro do ex-mordomo do 'rei' Roberto Carlos, que nos processou e nos arrasou.
Quem foi o culpado, o logo da empresa? Claro que não. O logo foi apenas a manifestação explícita, simbólica da nossa inclinação inconsciente para o desastre e a reforçou. O que precisamos entender que pelo seu caráter antigo, primitivo os desenhos, e principalmente os desenhos que expressam aquilo que pretendemos ser, nossa 'marca', são poderosos instrumentos de reforço de nossas qualidades e defeitos. Uma criança de três anos pode não saber escrever uma redação sobre os seus sentimentos em relação a sua família, mas se pedirmos para desenhar a sua casa e seus pais, ela colocará ali tudo que precisamos saber sobre esses sentimentos e expectativas.
Quando uma companhia aérea coloca em seu logotipo um vetor negativo (uma seta descendente), está mandando para o mundo uma mensagem duplamente negativa. Qualquer vetor que aponta para baixo assinala uma tendência de derrota, de queda, de enterramento, mas com uma empresa de aviação a coisa é ainda mais grave, pois seu grande arquétipo deveria ser o da decolagem, ou seja vetores apontando para frente e para o alto. Lembrem-se quando alguém vence vai para o lugar mais alto do pódio. Da mesma forma que o polegar para cima quer dizer viva ou positivo, o mesmo dedinho para baixo quer dizer morra ou negação. Esses sinais estão profundamente arraigados no nosso Inconsciente Coletivo para usar um termo Junguiano.
Quando uma empresa ou uma pessoa passa um risco sobre o seu próprio nome por mais fashion que possa parecer está riscando o seu nome do mapa, assim como faço com os nomes da minha agendinha que não me interessam mais. Há cerca de três anos, fui chamado para analisar e propor uma nova identidade visual para uma empresa do ramo de softwares. O logo deles era uma espécie de raio estilizado que dividia ao meio os dois nomes da empresa. Expliquei a diretora que aqui poderia significar a divisão da empresa em dois grupos 'rivais'. Ela sorriu e disse que era exatamente o que estava acontecendo entre os sete sócios. Precisamos entender os sinais gráficos como arquétipos, simbologia que pode estar fortemente vinculada a aspectos do nosso inconsciente ou cultura que nem sempre são positivos. Se isso acontece aquele desenho fica emitindo 'vibrações' – mensagens de forma intermitente que podem criar uma percepção muito sutil, mas significativa nas pessoas de dentro e de fora da organização.
Embora aqui não seja o espaço para uma abordagem minuciosa do tema vão algumas dicas para quem quer evitar tropeços mais graves. O que devemos evitar:
Imagens que remetam a conceitos de pobreza, solidão, isolamento, conflito, dor, perda, discordância ou confusão.
Imagens que expressem de uma forma mesmo sutil ou longínqua: vetores (setas) negativos (para baixo) ou retrógrados (para trás).
Desenhos que apresentem angulações agudas (45º) ou muitas arestas ou pontas de lança (principalmente se as pontas estiverem viradas para uma representação 'humana'). Recentemente pude observar o logo de uma empresa de engenharia que produzia estacas (fundações) seu logo, era o óbvio, a figura de uma estaca entrando no solo. Só que a estaca entrando na terra era antes de qualquer coisa uma seta (vetor) para baixo afundando. Apesar do talento do presidente e do grande know how deles a empresa estava como o seu logo 'anunciava' afundando.
Uma grande empresa de transportes tem seu logo uma superposição das letras do seu nome o que resulta num verdadeiro labirinto, o que para uma transportadora rodoviária não é muito bom (lembram da regrinha do 4º ano? O menor caminho entre dois pontos é uma reta.
É fundamental observar a que simbologia nos remete o logo da empresa, e a sua relação com o produto ou serviço que ela presta. Você não precisa obrigatoriamente ter um logo que represente direta ou indiretamente o seu negócio, mas não deve ter um que vá na direção contrária. O mesmo se aplica aos desenhos das letras da assinatura pessoal. Para quem está procurando sugestões, os cinco maiores e mais poderosos símbolos que podem agregar valor positivo à sua imagem empresarial são: o sol, a árvore, o galo, a lua crescente e o coração. Num próximo artigo poderemos falar mais detidamente de cada um deles e de sua vibração quando relacionados a uma marca comercial.