por Edson Toledo
Alcoolismo: desejo intenso, tolerância e persistência no uso da substância… estão entre os sinais
Na primeira parte deste artigo, aboradarei o diagnóstico da dependência de álcool e na segunda as formas de tratamento.
Não é de hoje que o álcool ocupa um local privilegiado nas várias culturas, seja como elemento fundamental nos rituais religiosos, presente nos momentos de comemoração e de confraternização.
O álcool sempre esteve envolto em simbolismo, tendo-se o vinho na Eucaristia – o símbolo da energia vital, produto da união de elementos contrários – a água e o fogo – a aqua vitae na alquimia ou na bela metáfora de Bachelard em seu livro “A psicanálise do fogo” (1999) diz que “A aguardente é a água de fogo, a água que queima (…) e se inflama. É a comunhão da vida com o fogo. O álcool é um alimento que produz calor no centro do peito.”
Observamos através da história, que o álcool tem tido múltiplas funções, atuando como veículo de remédios, perfumes e poções mágicas e, principalmente, sendo o componente essencial de bebidas que acompanham os ritos de alimentação dos povos. Faz parte do hábito diário de famílias em todo o mundo, servindo de alimento e de laço de comunhão entre as pessoas.
Revolução industrial muda a relação do homem com o álcool
No entanto, à medida que as sociedades foram passando por transformações econômicas e sociais, principalmente com a revolução industrial – que provocou as grandes concentrações urbanas, multiplicou enormemente a produção e a disponibilidade das bebidas e reduziu de modo drástico os seus preços – houve uma mudança profunda na maneira da sociedade e dos homens relacionarem-se com o álcool.
Ressaltamos que foi em 1849 que *Magnus Huss introduziu o conceito de “alcoolismo crônico”, estado de intoxicação pelo álcool que se apresentava com sintomas físicos, psiquiátricos ou mistos observadas nos sujeitos que consumiam bebidas alcoólicas de forma contínua e excessiva, durante longo tempo.
Alcoolismo: conceito da Organização Mundial de Saúde (OMS)
Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) define o alcoolista como um bebedor excessivo, cuja dependência em relação ao álcool é acompanhada de perturbações mentais e perturbações da: saúde física, da relação com os outros e do comportamento social e econômico.
A própria OMS estabelece que para evitar problemas com o álcool, o consumo aceitável é de até 15 doses/semana para homens e 10 para mulheres, sendo que uma dose equivale a aproximadamente 350 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 40 ml de uma bebida destilada, considerando que cada uma contém entre 10 e 15 g de etanol.
Padrão do uso abusivo de álcool
Entretanto, o uso abusivo de álcool é aquele padrão de uso que causa problemas diretamente relacionados ao álcool, como depressão, pancreatite e acidentes, por exemplo: de trânsito. O uso de álcool por longos períodos pode levar o usuário a desenvolver hipertensão arterial, cirrose, doença cardíaca e alguns tipos de câncer, como de cólon e reto por exemplo.
Dependência de álcool: característica
A dependência de álcool é caracterizada por desejo intenso, tolerância e persistência no uso da substância apesar de consequências danosas. A dependência é associada com aumento de criminalidade e violência doméstica e maior incidência de transtornos psiquiátricos e danos físicos. A dependência de álcool ocorre em um contexto de aumento de severidade, podendo o doente inclusive necessitar de apoio de equipe de saúde para parar de beber.
Entre os transtornos psiquiátricos associados temos: depressão, transtornos de ansiedade e intoxicação por excesso – uso inadequado de medicação. Pacientes também podem desenvolver doenças gastrointestinais, neurológicas e cardiovasculares. Algumas dessas doenças podem desaparecer com o fim ou redução do consumo de álcool e outras podem necessitar de tratamento médico apropriado.
A ideia principal deste artigo é a de informar uma das possibilidades de como fazer a avaliação inicial e um diagnóstico para a dependência de álcool.
Os pacientes que procuram o serviço de **Atenção Primária da Saúde (APS) devem ser questionados sobre uso de álcool e caso seja estabelecido o diagnóstico de dependência, suporte deve ser oferecido para que esses indivíduos parem de beber. Na atenção primária deve-se identificar padrões de uso abusivo e dependência e avaliar a necessidade de intervenções ou encaminhamento para um profissional ou serviço de referência.
Abaixo seguem seis pontos importantes na avaliação inicial e diagnóstico de dependência de álcool:
1. Na avaliação inicial considerar:
– Doenças associadas, como pancreatite, cirrose, desnutrição e doença cardíaca;
– Situação social, avaliar as vulnerabilidades do paciente;
– Necessidade de ajuda para parar de beber.
2. Avaliar padrões de consumo, como a frequência com que se bebe e a quantidade ingerida;
3. Avaliar se há dependência, podendo utilizar questionários;
4. Avaliar problemas relacionados ao uso, como compromisso perdidos, faltas no trabalho, brigas frequentes e acidentes de trânsito;
5. Questionar sobre sua vontade de parar de beber e motivação;
6. Oferecer suporte à família e encorajar sua participação no tratamento;
7. Manutenção de uma atitude positiva quanto às mudanças realizadas pelo paciente.
*Magnus Huss (22/10/1807 – 22/04/1890) Médico sueco que inventou a palavra alcoolismo e foi o primeiro a defini-lo como uma doença crónica recidivante. (Alguns riscos relacionados ao consumo de álcool havia sido mencionado anteriormente em palestras de Carl Von Linné no século 18).
**Estabelece todas as ações de promoção, prevenção e proteção à saúde em um território definido e é de responsabilidade do município. Fazem parte da APS o Programa de Saúde da Família, a Vigilância Epidemiológica e a Vigilância Ambiental da Saúde.