por Angelo Medina
Nesta entrevista ao Vya Estelar, o escritor Roberto Goldkorn mostra o que é necessário fazer para você não se tornar uma vítima da tirania na sua relação amorosa. Seu último livro 'Dormindo com o inimigo' (Bertrand Brasil) trata do assunto.
Vya Estelar – Por que as mulheres são mais vítimas do que os homens, na tirania dos relacionamentos? Segundo suas pesquisas e dados de ocorrências policiais, a mulher é vítima em sete de cada dez casos.
Roberto Goldkorn – Primeiro por uma questão cultural e biológica. Na maioria das culturas a mulher é o elo mais fraco socialmente. Nas sociedades primitivas era ela quem comia por último depois dos homens e das crianças (se sobrasse alguma coisa), ela era a encarregada de levar a casa nas costas quando das mudanças, era dela a maior de todas as obrigações: manter a família, enquanto o homem cuidava da guerra e da caça. A ela coube a responsabilidade de cuidar da cria e ser a cápsula de sobrevivência da espécie. Assim sua mobilidade social e psicológica é menor que a do homem. Por ser a máquina geradora de vida, passou a ser vista como propriedade do homem. Com “aquilo” que é seu, você faz o que quer ou quase.
Vya Estelar – Quais são os principais sinais que o inimigo (a) oculto (a) costuma fornecer, para não entrarmos num relacionamento tirânico?
Roberto Goldkorn – Em geral são mensagens sobre a vida dele ou dela, sinais de grandes infelicidade e desequilíbrio, todos crônicos. É o desempregado crônico que apesar das chances sabota o trabalho, é o ciumento crônico que já aprontou com a ex-mulher ou ex-marido, é o violento crônico que já foi até preso por agressão, é o viciado que está sempre saindo e entrando de tratamentos. Mas parece ser exatamente isso, essas deficiências que atraem a vítima, que se arroga com a megalomania dos superpoderosos e chama a si e a grandeza do seu “amor” a responsabilidade de “curar” aquele doente incurável.
Vya Estelar – Existem inimigos que não podem ser descobertos ou que não emitem nenhum tipo de sinal?
Roberto Goldkorn – Há casos em que os sinais só seriam percebidos por alguém com profundo treinamento psicológico, e outros nem assim. Mas pela minha experiência esses são a minoria. Mesmo assim no momento em que eles se manifestam as cartas ficam na mesa, o problema que aí pode ser tarde, a vítima já pode estar tão debilitada que fica sem forças para reagir.
Vya Estelar – Estando num relacionamento tirânico, o que fazer para sair?
Roberto Goldkorn – Isso só é possível se você mudar o seu conceito de amor ou de relacionamento, ou se o “cachorro” resolver largar o osso por livre e espontânea vontade. Precisa cair a ficha. A vítima precisa entender que aquilo não é “normal”, não é coisa que todo casal passa, que essa infelicidade crônica, essa sensação de estar prisioneira num esquema asfixiante sai ano entra ano, não “faz parte.” A pessoa precisa sentir necessidade de ser feliz tanto quanto de respirar, aí ela vai virar a mesa.
Vya Estelar – É possível transformar o inimigo em amigo?
Roberto Goldkorn – É sempre possível, eu acredito nisto pois sou espiritualista e vejo sempre a intervenção do mundo espiritual na nossa vida. Há situações em que um aparente inimigo é atingido por uma “Luz” e entende profundamente que o seu papel como algoz estava encerrado e que era preciso uma outra postura. Isso pode acontecer depois de uma separação, de um acidente, uma doença, ou de uma intervenção espiritual. Mas há casos onde a vítima consegue com forças que nem sabia que existiam, re-educar seu inimigo e fazê-lo entender a estupidez de sua conduta. Mas admito são casos raros.
Vya Estelar – O que o inimigo deve fazer para se tornar amigo dele mesmo?
Roberto Goldkorn – O inimigo em geral está doente também, ele quer exportar para o outro a sua infelicidade, numa espécie de vingança contra a vida que o fez tão infeliz. É como a história de pacientes infectados com HIV que saem por aí querendo infectar outros (seus parceiros) numa vingança doentia pela sua situação. Como não há racionalidade alguma nessa atitude (às vezes nem mesmo consciente ela é), o que o “vingador” obtem é mais infelicidade, mais amargura. Mas em alguns tipos de patologia isso pode até ser recompensador, como no caso de sádicos e masoquistas, que, aliás, é um capítulo do livro.
Vya Estelar – ‘Faça tudo para ser feliz’. Existiria um ponto de partida para a trilha deste caminho?
Roberto Goldkorn – Não sou muito fã de fórmulas, mas como sou poeta posso me dar a alguns luxos, a que chamam de licença poética. Um bom ponto de partida é olhar para baixo e depois olhar para o alto. Para baixo: observe por 10 minutos um bebe dormindo. Para o alto. Deite na grama e observe um céu azul diurno ou se puder estar longe das luzes da cidade observe demoradamente o céu estrelado em uma noite sem nuvens. Pode não resolver os seus problemas mas vai colocá-lo em perspectiva.