por Roberto Goldkorn
Recentemente atendi duas pessoas que me causaram um forte impacto. Uma era pobre e sua casa simples, cheia de problemas que o Feng Shui (e qualquer pessoa de bom senso) chama de “doenças”. A outra casa imensamente rica suntuosa, luxuosíssima e cheia de problemas que o Feng Shui chama de “doenças”.
Mas até aí, nada de novidades essa é uma rotina a qual estou afeito há pelo menos quinze anos. O que chamou a atenção foi que ambas as pessoas foram extremamente resistentes as sugestões de mudanças ou “curas”. Tentaram explicar as suas resistências através de racionalizações do tipo: “Você sabe quem pintou esse quadro que você acha horroroso? Ou: “Não posso colocar isso que você sugere aqui, pois não combina com o resto da decoração da casa.”
Do outro lado o semblante fechado, irritado, com a minha intromissão sem cerimônia, dizia: “Não vou mudar de quarto. Posso até fazer algumas modificações mas não vou mudar.” O pobre e o rico ambos sofrendo, ambos sendo vítimas de seus programas mentais/culturais escravizantes, relutam em mudar, não se arriscam a se curar. É claro que a causa do problema não está em suas casas doentes, elas apenas os reforçam e os mantêm presos.
O mau Feng Shui está em suas cabeças mais do que em suas casas. São escravos do padrão. Acham que se uma obra de arte é cara, assinada por um artista famoso, ou pintada pela sogra, deve ser digna de estar ali emitindo seus significados nocivos e às vezes nefastos.
O pobre se acostuma com sua casa onde a comida está guardada junto com material de limpeza, e não consegue ver ali nenhum sinal de sua decadência ou estagnação. O rico não consegue ver a relação entre seus inúmeros remédios psiquiátricos (e sua imensa solidão) e o seu ambiente chique mas funéreo, depressivo, sem aconchego.
Ambos são escravos do modismo cultural, ou do comodismo pauperizante. Sempre tenho muitas dificuldades para lidar com essas resistências, sou paciente, mas começo a me impacientar quando percebo que a pessoa quem me disponho ajudar está disposta a lutar comigo para não melhorar. Às vezes me pego pensando: “Mas o quê que eu estou fazendo aqui?” Já sei de longa data que algumas pessoas defendem as suas doenças com unhas e dentes, mas essa é sempre uma relação penosa para mim, pois deflagra a minha célebre sensação de impotência. Mas existem também as pessoas que ao ouvirem as minhas observações sobre seus espaços físicos, sentem uma sensação de alívio, como se eu estivesse dizendo algo que elas já sabiam mas não conseguiam expressar e colocar em prática. Essas que se apressam em colocar as mãos na massa logo que há uma indicação de “mude!” são recompensadoras, são o solo fértil onde sinto prazer em semear e depois observar os bons resultados surgirem.
Ser escravo de padrões mentais e espaciais é colocar-se no pântano onde as piores ervas daninhas germinam. Em geral essas pessoas não conseguem estabelecer uma relação de causalidade entre os seus padrões doentios, e as coisas ruins que lhes acontecem ou de seus estados mentais e físicos de sofrimento.
Mudar os padrões é condição essencial para sair da doença. Mas para isso é preciso amar muito a vida e mais que isso ter prazer em viver. Saber que a vida pode oferecer o amor, a riqueza e a saúde que você merece.