por Roberto Goldkorn
Recentemente fiz uma palestra em um evento para noivos. O auditório estava quase lotado, mas eu sabia que a maior pate do público estava ali apenas guardando o lugar para o grande desfile que se realizaria logo depois da minha intervenção.
Do alto da passarela tinha uma visão privilegiada dos rostos abaixo de mim.
Alguns, talvez a maioria estavam de fato interessados no que eu tinha para comunicar. Mas outros, uma minoria ruidosa e boçal, riam, atendiam e falavam ao celular e davam demonstrações explícitas de que eu estava de alguma forma incomodando. Ao perceber isso, mudei sem grandes pirotiecnias o tema da palestra e comecei a falar sobre generosidade. Fiz uma relação entre a avareza, os comportamentos mesquinhos e a solidão. Expliquei que depois de muitos anos, percebi uma relação poderosa entre a solidão de meus clientes, tanto homens quanto mulheres (principalmente essa últimas) e a avareza que demonstravam diante da vida.
Mostrei tentando olhar para o grupinho dissidente, que não se tratava apenas da avareza material, aquela que se manifesta com o apego exagerado ao dinheiro e os bens que se possui. A maior avareza era de um tipo mais sutil, e se manifestava principalmente numa situação muito simples quando as pessoas se recusavam a ouvir, a emprestar alguns minutos de sua preciosa atenção a ouvir o outro. Relações começam mal quando o homem não se dispõe a ouvir com atenção “criativa” sua parceira, ou ela ao falar demais também bloquia os acessos à audição de seu parceiro.
Há diversas formas de avareza, e falar compulsivamente é uma delas. O egocentismo infantil que nos leva a qualquer uma dessas situações demonstra a nossa falta de generosidade. Isso corresponde a uma das doenças mais complicadas do magnetismo: a indiferença ao outro por ausência de ser, ou por transbordamento de ser. Uma pessoa conhecida me ouviu falar e depois veio me contestar: não tinha muita “paciência” para ouvir ninguém que não fosse suficientemente inteligente e ao mesmo tempo reconhecia que falava compulsivamente, mas não se considerava mesquinha e ávara, afinal, acolhia em sua casa dezenas de cachorros abandonados.
Outro conhecido me disse que não se achava mesquinho apesar de se encaixar nas características descritas, pois estava sempre ajudando financeiramente parentes e amigos em dificuldades. Existem muitas formas de manifestar a mesquinhez, inclusive essas falsas demonstrações de generosidade, que a meu ver não passam de ações compensatórias que visam o autoengrandecimento. Ajudar cães abandonados ou parentes encalacrados pode nos dar uma sensação de superioridade, de paladinos, mas não é passaporte para uma atitude mais generosa diante da vida. A “coincidência” é que ambos os citados amargam uma solidão/desamor crônica.
Os meus alvos na plateia continuaram a dar risinhos e a brincar alheios ao meu discurso. Num determinado momento percebi o quão inútil era a minha vã tentativa de chamar-lhes a atenção e sorri depois de respirar fundo. A capacidade de cada um de ter discernimento, de escolher seus caminhos deve ser respeitada mesmo quando percebemos para onde vai levar. Observando aqueles jovens ali, egocêntricos e de ouvidos ávaros, pensei nos meus e minhas clientes em idade madura, amargando no limbo da solidão. Sorri desta vez com um travo de tristeza. As Leis do magnetismo são implacáveis. O que colhemos agora começou a ser plantando há muito tempo atrás, talvez quando pensávamos que a juventude nunca nos abandonaria. Você ouviu o que eu disse?