Será que você tem foco na falta?

Muitas pessoas se voltam para o foco na falta no seu dia a dia. Elas fazem isso sem se dar conta, se desconectando de si mesmas. Focar na falta, na prática, significa sentir somente a objeção; entenda  

Por que enxergo apenas as objeções?

Começo explicando o que são esquemas nas nossas vidas. Os esquemas são padrões emocionais e cognitivos responsáveis pelo nosso processo de funcionamento da nossa personalidade.

Os esquemas disfuncionais são verdades que a gente acredita sobre nós mesmos. São verdades enraizadas e antigas, muitas vezes até invisíveis à nossa consciência, e que impedem que a gente viva de forma mais plena, mais conectada e mais satisfatória. Assim, precisamos aprender a detectar quando eles são acionados e ativados pelo nosso cérebro.

Quando somos psicoeducados sobre eles – os esquemas -, conseguimos conviver de forma muito mais funcional e saudável. Um dos esquemas disfuncionais que percebo e detecto na prática clínica, com frequência, é o esquema de privação emocional. Ele nos faz acreditar que as nossas necessidades não importam, que nunca vamos ter carinho, não vamos ter apoio, empatia, compaixão ou até mesmo não teremos pessoas que nos darão vínculos seguros e figuras de apego saudáveis. 

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Foco na falta sem se dar conta: como isso ocorre?

Muitas pessoas, assim, focam na falta. Ou seja, no dia a dia, não percebem que este esquema está ativado e tudo que fazem é focar na objeção, por exemplo. Sabe aquela velha cena que muitos conhecem de que “o outro fez 95% de algo que demandamos e focamos nos 5% que faltaram?”. É sobre isso. 

Quando a privação emocional está ativada, a pessoa vai ignorar os aspectos positivos recebidos e vai focar naqueles que estão faltando, onde não está bom e onde está insuficiente para ela. Isso tudo acontece para “alimentar” e reforçar no cérebro de que não somos amados, não somos importantes o suficiente ou que o outro não nos priorizou. Ou seja, a privação emocional é retroalimentada neste momento. 

Precisamos desenvolver a nossa maturidade emocional para sabermos lidar com as imperfeições das relações reais vividas. E também compreender que é uma ilusão pensar que o outro só se tornará um vínculo seguro para nós, se for perfeito e atender a todas as nossas demandas e expectativas. Ledo engano. Nossos vínculos seguros vão errar, serão imperfeitos, vão nos frustrar e vai ficar tudo bem. Porque saberemos lidar com isso quando temos maturidade emocional e praticamos o autoconhecimento.

Então preste mais atenção ao que você já tem, ao que você recebe, à conexão que já existe… porque talvez você esteja tão focada na falta que só esteja com lentes para enxergar e sentir a objeção. E com isso, perdendo de viver o que verdadeiramente já lhe entregam de afeto real.

Escutei uma frase no filme “Antes do pôr do sol” que diz assim: “se você encontrar a paz dentro de si mesmo, vai encontrar a verdadeira conexão com os outros.” Busque.

Psicóloga Clínica Cognitivo-Comportamental; Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde - UFP - Universidade Fernando Pessoa em Portugal. Defendeu a sua dissertação com excelência e nota máxima sobre: “A interferência das redes sociais nos relacionamentos”. Especialista em Psicologia da Saúde, Desenvolvimento e Hospitalização – UFRN; Especialista pela Faculdade de Medicina do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP – SP. Foi professora da Pós-graduação em Psicologia – Terapia Cognitivo-Comportamental (Unipê). Há 20 anos atendendo na clínica a adolescentes, adultos, casais e famílias. Membro da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas - FBTC. Mantém o Blog próprio desde 2008. Mais informações: www.karinasimoes.com.br. Atendimentos com consultas presenciais ou online