por Noely Moraes
As estastísticas atuais trazem um dado paradoxal: por um lado, o número de casamentos continua alto, mas o número de separações não para de aumentar. Nos grandes centros urbanos, chega a 50%. A cada dois casamentos, um termina em divórcio.
Realmente, nenhuma instituição parece refletir melhor as transformações da intimidade do que o casamento. Outro dia, ouvi de uma aluna a seguinte frase: "Gostaria de passar um tempo de minha vida casada". Esta frase parece encerrar e resumir as perspectivas das jovens de hoje. Não se acredita mais que o casamento possa ser um estado definitivo.
Essa mudança em relação à ideia de casamento aconteceu de maneira bastante rápida. Em apenas uma geração. Essas jovens, fazendo um paralelo com suas mães, veem-se bem distantes do ideal de comportamento feminino que norteou as escolhas de seus pais. Consideram o horizonte de suas mães muito limitado, restrito ao casamento e à maternidade. Afirmam que essa não era sequer um escolha, pois não havia outra. Em algumas famílias, a mãe já começava a preparar o enxoval assim que a filha nascia. A escolaridade das mulheres que tinham acesso ao estudo não ia além do curso Normal, aliás chamado de "espera-marido".
Mesmo que esses casamentos fossem baseados num ideal romântico, o que contava na escolha do parceiro não era tanto a paixão, mas o fato de ele ser um bom partido, aquele que mostrasse promissoras chances de ascender materialmente e assegurar o futuro da esposa e dos filhos.
Havia ainda, a fantasia de que o marido seria uma espécie de salvador, que traria a segurança afetiva e financeira.
Nas pesquisas que fiz com mulheres jovens, constatei em seus depoimentos, que elas não acreditam mais nessa promessa e estão priorizando a formação profissional. Uma funcionária de uma grande empresa, com boas chances de sucesso abriu mão de um namorado bonito, inteligente, bem-sucedido e enamorado, quando ele foi trabalhar em outro pais e convidou-a para ir com ele. Ela optou pela carreira. Isso seria impensável para uma mulher há pouco tempo atrás.
Outra grande mudança foi em relação à sexualidade feminina. Sem o tabu da virgindade, a mulher passou a ter parceiros sexuais fora do casamento sem ser apontada como "galinha".
Teria sobrado algum motivo para as mulheres ainda desejarem se casar? Sabemos que a vida conjugal exige, ainda nos dias atuais, um grau maior de responsabilidades para a mulher. A divisão financeira foi assimilada, mas a dos afazeres domésticos não.
Creio que esses dados que obtive podem ser úteis para uma reflexão sobre a escolha de se casar ou não. Em nome do quê seria o casamento uma boa opção?
Casar implica em boa dose de renúncias, numa alta capacidade de tolerância, em negociações constantes. Saber quando abrir mão, e quando insistir. Enfim, as pessoas ao escolherem o casamento deveriam fazê-lo, se realmente sentissem vocação. O alto número de divórcios parece revelar que essa decisão não é tomada com seriedade.
A grande vantagem de se viver nos dias de hoje é justamente poder traçar seu projeto amoroso de maneira mais pessoal, respeitando suas características, seus desejos e seus limites. Nem todo mundo nasceu para viver casado, outras formas de relacionamento amoroso podem ser experimentadas.