por Ricardo Arida
Estudos têm mostrado que o exercício físico pode ser um método efetivo de tratamento não farmacológico para reduzir o desejo de fumar assim como durante a abstinência temporária do cigarro. Algumas revisões interessantes a esse respeito abrangem melhor o assunto (Taylor et al. 2007*; Ussher et al. 2008**).
Curtas sessões de exercícios de intensidade moderada reduzem o impulso de fumar. Entretanto, pouco é conhecido sobre os mecanismos neurobiológicos envolvidos nesse processo. O conhecimento desses mecanismos poderia levar a outros estudos para estabelecer a adequada quantidade de exercício (intensidade e duração) no tratamento da diminuição da vontade de fumar, assim como para novas perspectivas no tratamento de outros vícios.
Estudo da Universidade de Exeter (UK)
Uma pesquisa da Universidade de Exeter (UK) revela pela primeira vez que alterações na atividade cerebral provocada pelo exercício físico podem ajudar a reduzir o desejo de fumar. Esse estudo confirma os achados de estudos anteriores que demonstram que poucas sessões de exercício físico moderado pode significantemente reduzir a vontade de fumar. Publicada na revista Psychopharmacology***, o estudo mostra como o exercício altera o modo que o cérebro processa a informação entre fumantes, reduzindo a necessidade da nicotina. Os pesquisadores usaram a técnica de ressonância magnética funcional para investigar como o cérebro processa as imagens de cigarros após o exercício físico.
Dez fumantes realizaram exercício em bicicleta estacionária por dez minutos depois de 15 horas de abstinência ao cigarro. Durante a aquisição das imagens cerebrais por ressonância magnética funcional, os indivíduos foram submetidos à visualização de 30 imagens relacionadas ao fumo (imagens de mãos segurando o cigarro, figuras de cigarro, pessoas fumando, etc.) e 30 imagens neutras (imagens de mãos segurando uma caneta, pessoas sem cigarro, etc.). Antes do exercício foi observado um aumento da atividade cerebral em áreas associadas ao processo de recompensa. Depois do exercício, as mesmas áreas do cérebro estavam menos ativadas. Os fumantes também relataram uma diminuição da vontade de fumar depois do exercício em relação ao período que estavam inativos.
Possível hipótese
Não se sabe exatamente o que causa essa diferença na atividade cerebral depois do exercício físico. Uma hipótese levantada seria que o exercício físico aumenta o estado de humor (possivelmente pelo aumento de alguns neurotransmissores como a dopamina), os quais reduzem a necessidade de fumar.
Apesar de não ser o primeiro estudo que mostra que fumantes perdem a vontade de fumar depois do exercício, é o primeiro que avalia as áreas cerebrais ativadas em fumantes após o exercício físico. Esses achados fortalecem a hipótese de que o exercício físico moderado pode ser uma alternativa viável de muitos produtos farmacológicos como o path de nicotina.
Levando em consideração os vários efeitos fisiológicos e psicológicos conhecidos do exercício físico como: perda de peso, aumento da autoestima, melhora do humor e ansiedade, etc.; o exercício físico regular pode influenciar significantemente nas mudanças comportamentais, como por exemplo, os vícios procurados pelos indivíduos.
*Taylor AH et al. The acute effects of exercise on smoking behaviour, cravings, withdrawal symptoms and affect: a systematic review. Addiction (2007) 4:534–543.
**Ussher M et al. Exercise interventions for smoking cessation. Cochrane Rev (2008) (4):CD002295.
***Van Rensburg KJ, et al. Acute exercise modulates cigarette cravings and brain activation in response to smoking-related images: an fMRI study. Psychopharmacology (2009) 203:589–598.