por Rosemeire Zago
Falarei sobre a gula neste terceiro artigo da série os 'Sete Pecados Capitais': gula, cobiça, luxúria, avareza, preguiça, ira e inveja.
A gula é considerada um pecado venial (perdoável), caso a pessoa deixe de cumprir suas obrigações devido à gula. Ela pode ser entendida como uma forma de fuga, talvez para proteger-se do excesso de sexualidade. Ainda hoje isso acontece, pois muitas pessoas trazem consigo a crença religiosa de que ter prazer sexual é pecado. Muitas pessoas, principalmente mulheres, depois da primeira relação sexual, ou depois do casamento, começam a engordar, como forma inconsciente, é claro, de se tornarem menos sensuais ou atrativas para seus parceiros. Pode também, significar a fuga de muitas outras dificuldades, ou ainda, de sentimentos.
Ansiedade e comida
A ansiedade também pode gerar a busca compulsiva pela comida. Apesar de ser uma resposta normal ao perigo físico – e pode ser uma ferramenta útil para concentrar a mente, quando há o fim de um prazo que se aproxima – a ansiedade se torna um problema quando ela persiste muito além da ameaça imediata e passa a ser um traço da personalidade, onde tudo gera ansiedade. Quando os sintomas como: preocupação descontrolada, inquietação, irritabilidade, apreensão, tensão muscular e problemas de concentração se tornam persistentes, afetando os hábitos e padrão de vida comum é chamado de Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG.
No sentido literal, gula é o excesso de comer e beber, na sua simbologia maior significa voracidade: que devora e destrói. Entendendo essa simbologia, podemos relacionar que ao devorar o alimento compulsivamente, tenta-se, ainda que inconsciente, destruir o que está dentro. Agindo assim, sente culpa e se pune por ter perdido o controle, formando assim um círculo vicioso: come em excesso para fugir do que sente, culpa-se por isso, se pune comendo mais.
Há quem coma até não agüentar mais, podendo desenvolver a bulimia, que é um dos transtornos alimentares que se caracteriza por episódios repetidos de compulsões alimentares seguidas de comportamentos compensatórios inadequados, como vômitos auto-induzidos, mau uso de laxantes ou diuréticos. Pessoas com esse transtorno alimentar geralmente se envergonham de sua compulsão e procuram ocultar seus sintomas, podendo dificultar o diagnóstico. Duas características básicas são a perda de controle e a culpa. E na tentativa de não aumentar o peso, recorre ao vômito ou uso de laxantes, como se isso fosse capaz de diminuir os sentimentos que não consegue lidar. Depois de ter concentrado toda sua energia em colocar a comida para dentro, procura agora colocá-la para fora. A pergunta é: "O que na verdade queria colocar para dentro?" Com certeza não era comida o que precisava, pois se fosse não teria a necessidade de se livrar dela.
Gula intelectual
A característica da gula é engolir e não digerir. Quantas vezes não digerimos o que nos acontece e simplesmente engolimos? Geralmente está associada à comida e à bebida, mas também pode ser entendida como gula intelectual inclusive. O sentido que está por trás da gula é o de estar funcionando abaixo das potencialidades, buscando sempre uma compensação pelo que acredita não se ter. A sensação é de não estar fazendo tudo que o potencial permite, vivendo sem atender expectativas. A atitude mental básica é: necessito aprender tudo. Essa característica pode levar à necessidade de monopolizar, desejando o poder cada vez mais para si.
Gula nas organizações
Um exemplo da gula nas organizações é quando se compram equipamentos de última geração desnecessariamente ou quando os gestores centralizam o processo decisório e as informações. Ou ainda, a gula pelo poder, evidenciando um líder centralizador, que não confia ou que não quer confiar em sua equipe, porque na verdade, não confia em si mesmo e em seu potencial. Todas as decisões têm que partir dele, que precisa estar a par de todas as informações que saem do setor. Até os documentos mais banais têm de ter sua assinatura ou visto. A equipe passa a não decidir e fazer questão de não decidir nada. Todos os trabalhos são incompletos, pois o líder ainda dará a opinião final. Então, é inútil concluí-los. A gula pode influenciar tanto nos relacionamentos quanto na produtividade das pessoas.
O mais indicado para evitar os excessos que a gula pode gerar é descobrir que situações o levam a cometê-los, identificando as situações e lidando com cada uma delas. Não negue, nem faça que não está sentindo nada. Para obter o controle sob suas emoções é preciso aceitar o que está sentindo, assim ficará mais fácil identificá-la. É importante também reconhecer cada conquista e manter sua mente no presente que assim o resultado virá naturalmente.
Examine o que aconteceu naquele dia ou nos anteriores. O que o magoou ou o perturbou? Por exemplo, uma discussão com alguém, pressão no trabalho, recordação de antigos sofrimentos, estar fazendo o que não quer, etc. Os motivos podem ser muitos, mas você só conseguirá a recuperação quando perceber que sua necessidade está muito além de comer, beber, ter poder, afinal, nada disso é amor! E quando sentir esse amor por si mesmo, não terá mais a necessidade de cometer nenhum dos sete pecados capitais.