por Rosemeire Zago
Muito citados na Bíblia, os sete pecados capitais já foram utilizados como tema das mais diversas formas de expressão.
Livros, filmes, entre outros já divulgaram estas faltas, que segundo a história, foram organizados durante a Idade Média pela igreja católica. Um filme que abordou o tema, apesar de policial, é Seven – Os Sete Crimes Capitais – com Morgan Freeman & Brad Pitt, onde um assassino está matando seguindo os sete pecados capitais: gula, cobiça, luxúria, avareza, preguiça, ira e inveja. Para investigar o caso, são chamados um detetive próximo da aposentadoria e um policial novato, de comportamento explosivo. Apesar da violência que acompanha todo o filme, ele enfoca o tema.
Alvo de muitas interpretações, ainda hoje estes sete pecados servem de referência e base para quem busca trilhar o caminho do autoconhecimento e a lista mais atualizada foi elaborada por São Tomás de Aquino. Para enfrentarmos cada um deles é preciso conhecê-los e assim transformá-los.
Perceber as faltas que cometemos é o caminho mais indicado para que elas não nos dominem, pois apesar de muitos ignorarem ou considerarem como pequenas faltas, às vezes podem se tornar as causas de grandes danos. Quem se acostuma a cometer faltas leves, sem delas nada aprender, e nada faz para se livrar delas, pode cometer faltas graves. Com o intuito de proporcionar uma reflexão, estarei abordando a partir desse artigo cada um dos sete pecados capitais.
Inveja, sua origem está no mecanismo da comparação. É um sentimento que mistura raiva e tristeza
A inveja é uma das emoções mais primitivas e geralmente negada por todos. Por que o que o outro tem se torna alvo do que queremos ter? Por que o referencial do que devemos ter está sempre no outro e raramente dentro de nós? Somente na reflexão sobre a inveja é que teremos consciência deste sentimento na nossa vida e poderemos aprender a lidar com ele em nosso comportamento. Qual será o mecanismo básico que nos move para a inveja?
Este mecanismo, responsável pelos nossos ressentimentos é o mecanismo da comparação. Nunca haverá inveja sem que antes tenha havido uma comparação. Entristecer-se sinceramente com o sofrimento de alguém não é difícil, porém manifestações exageradas de dor pela dor de alguém, pode encobrir, ainda que seja inconfessável, uma certa satisfação.
É muito difícil, e podemos perceber isso nas conversas informais, o quanto incomoda algumas pessoas quando contamos algo de bom que nos aconteceu, mas é só começar a contar uma tragédia que muitos outros se interessam. Os altos índices de audiência dos programas de televisão sobre a desgraça alheia confirmam esse interesse.
Inveja: tristeza pelo bem alheio ou alegria pelo mal do outro?
A inveja não é só tristeza pelo bem alheio, mas alegria pelo mal do outro. É um sentimento de inferioridade, fruto da comparação que fazemos entre nós e o outro em algum aspecto específico: ou nas posses materiais, na casa, no carro, na roupa, no dinheiro ou nas suas qualidades psicológicas, morais, físicas, sociais ou espirituais. Ao nos sentirmos menores do que os outros, nos aumentamos, nos vangloriamos, nos enaltecemos para evitar o mal-estar do desequilíbrio. Falamos excessivamente bem das nossas próprias coisas e, ao mesmo tempo, procuramos diminuir o outro através de crítica.
Quando criticamos alguém, quando diminuímos, ofendemos, quando temos necessidade de falar mal de alguém, provavelmente estamos nos sentindo inferiores a ele. A inveja é a incapacidade de ver a luz das outras pessoas, a alegria, o brilho, a luminosidade de alguém, seja em que aspecto for, porque na verdade, não se percebe ter essa mesma luz.
O que há de negativo na inveja é a rejeição em algum momento do seu próprio tamanho, a sua incapacidade de acreditar ser capaz de também conseguir.
'Olho gordo' é outro nome para a inveja
Desde criança ouvimos falar que não devemos contar algo de bom que está para nos acontecer antes que esteja tudo muito certo, o famoso ´olho gordo". Essa crença antiga permanece até hoje e nasce de uma longa observação popular. O 'olho gordo' é outro nome para a inveja. Popularmente, 'o olho gordo', é um olho que atrapalha, faz mal, danifica.
O principal prejudicado na inveja não são os outros, mas nós mesmos, pois é destrutiva, não produz mudanças, diminui a auto-estima, destrói o crescimento pessoal, fazendo com que o invejoso se contamine de ódio. O invejoso se utiliza muito da projeção, tornando más as pessoas que são boas, onde as qualidades do indivíduo invejado ficam perdidas porque não são percebidas, colocando todos os sentimentos ruins naquele que é objeto de sua inveja.
Ou seja, por negar os próprios sentimentos negativos que há dentro de si, passa a projetar no outro. "O outro é mau, eu nunca". A pessoa dominada pela inveja tenta diminuir o outro a todo custo, numa mistura de raiva e tristeza por tudo que ele tem e conquista. Quando a inveja é inconsciente é muito mais fácil de ser projetada e também negada.
Aprendemos ainda, desde muito cedo, a comparar, pois somos constantemente comparados com o irmão que é mais bonzinho, com o primo que tira boas notas… Isso acontece na escola, na família, na sociedade e começam as humilhações e as críticas, fazendo nos sentir cada vez mais incapazes de ser e obter o que o outro tem. Isso acaba gerando sentimentos de impotência, inferioridade e insatisfação consigo mesmo.
Há uma tendência a supervalorizar o outro com tudo que ele tem e desvalorizar o que temos. A inveja geralmente surge do sentimento de sentir-se incapaz, percebendo o outro como tendo todos os atributos que acredita não ter. A competição, tão incentivada no campo profissional, também pode ser geradora da inveja.
O mal não é sentir inveja, mas cultivá-la
O mal não é sentir inveja, o mal é cultivá-la. A inveja é má, pois engendra o ódio que é destrutivo, pois destrói o próprio indivíduo e a sociedade. Não seria uma virtude espontânea e natural no homem, mas uma atitude derivada do ressentimento e do ciúme, do rancor e da indignação pela má sorte de alguns perante os outros.
A falta de confiança e de segurança em si mesmo, unida a um invencível sentimento de impotência colabora para acentuá-la.
Todos sabemos que a sociedade valoriza a beleza, a inteligência, o brilho social, a juventude e a saúde. Que fazer quando faltam essas condições elementares de felicidade?
Inveja pode ser positiva
Podemos analisar duas interpretações: a inveja como paixão detestável, que produz ódio e destruição, negando o valor do outro e em conseqüência o próprio valor, e a inveja como impulso para transformação. É preciso buscar o que realmente somos e não vivermos em função do que os outros esperam de nós, libertando-se da opinião dos outros e dos valores impostos do que é ser feliz.
Devemos valorizar todo nosso caminho até aqui. Quanto você não superou, não conquistou? È possível admirar o outro e não mais querer viver a vida do outro. É preciso ter consciência do que é ser feliz para você! Devemos termos sempre em mente que somos todos seres capazes de nos transformamos naquilo que gostaríamos de ser e ter, transformando cada sonho em realidade, ocupando nosso tempo em buscarmos cada um deles e não mais perdermos parte de nossas vidas focados no que o outro tem ou é, ou tentando destruir quem conseguiu o que não conseguimos. O diferencial acima de tudo é acreditar em si mesmo, gostar de quem somos e buscar os próprios sonhos!