por Roberto Shinyashiki
Muita gente confunde possessividade, insegurança e ciúme com o amor.
Na verdade esses sentimentos podem assemelhar-se ao amor, mas, em sua essência, negam a nossa profunda vocação na vida. São como flores de plástico comparadas com a flor verdadeira. Ambas têm em comum algumas características, mas possuem origens diferentes. As flores de plástico nascem do petróleo, ao passo que a flor verdadeira nasce do encontro entre a terra e a semente.
A possessividade nasce do medo, ao passo que o amor nasce da própria vida à procura de celebração. O ciúme nasce da mesquinharia, da vontade de controlar o crescimento do outro, e o amor nasce da generosidade que existe em nós.
Enquanto a insegurança nos transforma em mendigos, sempre pedindo, ou pior, cobrando algo do outro, o amor nos dá energia para doarmos o que somos à pessoa que nos estimula a amar.
Certamente cada um de nós, pelo menos uma vez na vida, já refletiu sobre o amor – fonte de luz, de energia vital que movimenta toda a humanidade. Comecemos, porém, nossa reflexão percebendo o que “não é amor”.
Amor não é cobrar por suas ações. Há uma confusão muito grande entre o amor verdadeiro e um produto similar chamado amor de troca – uma conduta usada como moeda para dar direito a cobrar determinados comportamentos do parceiro. Exemplo típico é a eterna cobrança “Eu sempre cuidei de você, e agora que preciso não o tenho comigo”.
Quando, numa relação, as pessoas se sentem amarguradas, convém refletir cuidadosamente, pois o amor é uma energia que impulsiona para a vida. Quando estamos amando alguém, sentimo-nos vivos e em sintonia com o Universo.
Amar não é ficar parado, como um príncipe mimado, à espera de que o outro, pelo fato de estar sendo amado, se sinta um devedor do nosso sentimento.
O amor nos proporciona uma sensação de gratidão pela vida, o sentimento de termos sido abençoados pela dádiva divina. E, em retribuição, somos levados a cuidar desse amor.
Amar é fazer uma viagem fantástica com alguém, e nessa viagem, ao mesmo tempo que desfrutamos essa entrega, desvendamos os mistérios que ela nos apresenta a cada momento.
O amor é a força que nos leva a enfrentar todos os nossos medos, criados desde as primeiras experiências dolorosas de aproximação. Tornamo-nos corajosos e ousados, prontos a desafiar o tédio e o comodismo, a enfrentar o desafio do cotidiano.
O amor nos salva da rotina massacrante. Proporciona-nos uma condição de aprendizes, concedendo-nos a suprema compreensão de que, quando somos conduzidos pelo amor, sempre realizamos algo significativo. No amor não estamos nos submetendo ao outro, e sim obedecendo às ordens da sabedoria que existe dentro de nosso coração.
O amor é mais que o encontro de dois corpos, muito mais que a união física entre duas pessoas. É a própria consciência da existência: a crença nas forças divinas, que cuidam de todo o Universo e nos levam um ao outro com a mesma fluidez com que aproximam uma nuvem de uma montanha, que nos proporcionam uma força sobre-humana, que dão energia ao vento, ao mar e à chuva e que nos tornam grandes como pinheiros gigantescos.
No amor seguimos um caminho, realizamos uma história, cujo final só vamos conhecer plenamente quando a completarmos. A única certeza que temos é a de que o amor é uma condição inerente ao ser humano. Assim como a flor emana o seu perfume, o homem naturalmente exala o amor. Isso é tão inevitável quanto é impossível proibir a terra molhada de desprender seu cheiro.