Por Arlete Gavranic e Eliezer Berenstein
Muitas mulheres ainda vivem conflitos e insatisfações com relação à vida sexual durante a gravidez e o pós-parto.
No primeiro trimestre da gravidez elas se queixam de enjôos e dor nas mamas, o que pode diminuir o desejo. Segundo o ginecologista Dr. Eliezer Berenstein, todas as modificações do organismo feminino visam o crescimento saudável do bebê. Como um ‘tsunami’, o hormônio progesterona, faz com que a mulher deixe a sexualidade um pouco de lado. A grávida é muito mais carente de toques delicados e dengos. Ou seja, mais ‘ralações’ do que relações sexuais. A ação deste hormônio, vai ate o fim da amamentação.
Nos casais que vivenciam sua primeira gestação, é freqüente a pergunta: ‘A penetração pode machucar o bebê?’
Fiquem tranquilos, pois o pênis não adentra o útero. A penetração é separada do útero pelo colo uterino, localizado no fundo da vagina.
Já no segundo trimestre da gestação, os enjôos diminuem e o desejo sexual pode retornar.
Algumas mulheres ainda possuem uma ‘santidade maternal’. Ou seja, podem carregar culpa por ter desejo ou por serem desejadas. Isso pode gerar rejeição ao parceiro. Muitas não conseguem sentir o cheiro deles e não gostam do sabor da saliva do parceiro ou sofrem com excessivos temores de ferir o feto e provocar aborto.
Muitos casais com desejo sexual normal, onde o parceiro seja mais forte ou obeso, reclamam que a posição sexual papai–mamãe os assusta, pois têm medo de ‘amassar’ o feto. Para alguns a simples indicação de mudar de posição, onde a mulher fique sentada por cima, ou o homem fique por trás, acariciando mamas e clitóris, costumam ser suficientes para reduzir esses conflitos.
No último trimestre o medo do casal pode se intensificar. No 8º ou 9º mês de gestação relações mais intensas ou que pressionem muito o abdome podem antecipar o parto. É importante lembrar que o sexo só deve ter restrições ou ser evitado na gravidez, se houver a chamada gravidez de risco, onde há, por exemplo, possibilidade de descolamento da placenta. Não ocorrendo essa restrição médica, não deve haver preocupações excessivas ou afastamento do casal.
Embora a valorização social da maternidade seja enorme, muitas mulheres, evitam o sexo por sentirem-se feias, deformadas e inchadas. Os homens também podem se afastar. Por isso é muito saudável que o casal alimente sua vida afetiva e sexual.
A sexualidade seja na gestação ou em qualquer outra fase da vida do casal, não se restringe à penetração. Não esqueçam das carícias, toques, beijos, mordiscadas, sexo oral, brincadeira com massageadores/vibradores e, acima de tudo, o desejo de estar juntos.
Pós-parto
Aí vem o nascimento, comemorações e afeto vem à tona, mas não é só festa. Atender ao choro de madrugada, amamentar, trocar fralda, ter rachaduras nas mamas, o incômodo da episiotomia (corte realizado na saída lateral da vagina em mulheres que tem parto vaginal), ou da cesárea. Na prática a episiotomia pode provocar dor, ardor e incomodo na relação. É uma região úmida que dificulta a cicatrização.
Segundo Masters e Johnson a vivência da sexualidade no pós-parto é muito variável, pois “o erotismo feminino registrado no pós-parto não tem nenhuma relação com a paridade ou a idade da mulher. A diminuição está associada – no grupo pesquisado – à fadiga excessiva, fraqueza, dor durante o coito e corrimento vaginal irritativo. A mais freqüente das queixas é o temor de dano físico permanente na vagina se o coito for realizado logo depois do parto”.
Segundo o ginecologista e terapeuta sexual Dr. Eliezer Berenstein, em seu livro Inteligência Hormonal, a prolactina, hormônio estimulado com a amamentação, causa:
– Inibição da sexualidade, afastando o macho e aproximando a prole
– Ausência de lubrificação vaginal quando excitada
– Leve depressão e fadiga
– Diminuição das sensações em geral
Essa fadiga e a mudança de ritmo de vida mais a responsabilidade por esse novo ser, costuma causar na maioria das mulheres uma diminuição do desejo sexual.
Algumas mulheres recuperam seu desejo em poucas semanas, outras podem demorar mais por questões hormonais ou por estarem emocionalmente imbuídas do papel de mãe, de ‘pureza’ e de negação da eroticidade.
Mulher pode inclusive ter orgasmo ao amamentar
Para a surpresa de muitas pessoas, segundo estudos de Masters e Johnson o mais alto nível de tensão sexual no pós-parto foi relatado pelas mulheres que amamentaram. Muitas relatam alta excitação sexual, inclusive a de atingir o orgasmo. É estranho, né? Muitos homens acham isso muito louco, mas a sucção do bebê pode gerar essa alta excitabilidade, como também interesse na volta à vida sexual.
Por que algumas mulheres podem até atingir o orgasmo?
A sucção da amamentação faz com que o útero volte ao tamanho mais rápido e pode estimular uma excitabilidade. Isso pode acontecer quando o casal possui bom entrosamento sexual, afetivo e não tem grandes conflitos em relação à maternidade. Uma grande sacada é não deixar de viver a sexualidade, a ‘ralação’, os carinhos e outras formas de tesão.
O mito da mãe pura é histórico. Porém, muitas mulheres santificam a maternidade e vivem esse afastamento do sexo. Outras reprimem sua sensualidade com medo de serem consideradas egoístas ou perversas. Mas muitos homens, sem nenhuma vivência ou alteração bioquímica passam a rejeitar suas companheiras, pois têm uma identificação da figura da mãe e não mais da amante.
Por tudo isso é importante que o casal não perca de vista sua eroticidade, pois isto poderá abrir lacunas na relação, que muitas vezes podem ser difíceis de se recuperar.