Sexo saudável na adolescência

Por Arlete Gavranic

Muito se ouve: “As coisas mudaram e é normal os jovens terem a vida sexual deles”. No entanto, essa normalidade e muito mais aceita na casa do vizinho. Ainda é difícil para a maioria das famílias lidar com a sexualidade do filho adolescente.

Continua após publicidade

A puberdade se inicia por volta dos 9 anos, a adolescência a partir de 12,5 anos, e terminará aos 19, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), ou por volta dos 25, segundo a Associação de Pediatria e Hebiatria Californiana.

Apesar de estarmos em pleno 2007, as dúvidas mais freqüentes e conflituosas ainda são dos pais das garotas. Afinal, existe uma idade mínima para se começar a ter relações sexuais de forma saudável? Como lidar com essa questão? Onde meus filhos irão transar? Quanto é aceitável que eles transem? Todo dia? Uma vez por semana?

A iniciação sexual dos jovens vem ocorrendo em média por volta dos 14 anos. Mas alguns se iniciam com 11, 12 e (infelizmente muitas vezes antes disso), e também vamos encontrar os que se iniciarão com 15, 16, 18 ou mais.

Não dá para dizer que exista uma idade correta, mas como psicóloga e educadora sexual posso afirmar que uma iniciação sexual muito precoce em geral ocorre sem maturidade necessária para viver o sexo com responsabilidade. Daí o grande número de grávidas na adolescência, sem contar o enorme risco de doenças sexualmente transmissíveis e a imaturidade para encarar relacionamentos.

Continua após publicidade

Na maioria das vezes existem motivos específicos para a iniciação sexual, principalmente nas mulheres, entre eles:

1º) O mito do ‘príncipe encantado’, o grande amor eterno. Entregar-se sexualmente ainda costuma ser traduzido pelo mito da prova de amor.

2º) O medo de que se não ceder sexualmente poderá ser considerada ‘regulada'(o); para os garotos muitas vezes há o medo de ser considerado gay e acabar perdendo alguém de quem gosta ou de alguém legal pra ficar.

Continua após publicidade

3º) Querer perder a virgindade para se sentir mais ‘respeitada'(o), mais adulta (o).

4º) Se iniciar para poder fazer parte do grupo dos ‘que sabem’, mesmo que essa iniciação seja algo sem desejo e afeto.

Tenho uma preocupação especial com jovens que se mobilizem para a vida sexual pelos motivos 2, 3 e 4, pois são jovens que não vivem o respeito pessoal, em geral têm auto-estima rebaixada e vivem em busca de aprovação externa.

Esses jovens conversam pouco sobre sua vida pessoal com os pais, ou às vezes têm como referência de vida, da própria família, a necessidade de ser aprovado pelos outros.

Essa vulnerabilidade pode ser preocupante, pois sexo sem proteção; drogas; comportamentos marginais; tudo isso pode fazer parte das ‘provas’ para se fazer parte da turma ou ser aceito por ela.

Muitos podem me perguntar, “Então o ideal ainda é acreditar em princípes e cinderelas?” Minha resposta é não. Em geral as garotas que possuem o motivo 1, correm um risco maior de viver decepções, pois poucas são as relações que irão durar mais que algumas semanas ou poucos meses. Fora o risco de não se prevenir de DST ou gravidez, que muitas vezes passa a ser desejada – seria lindo ter um filho dele!

Essa é uma realidade preocupante, pois jovens de 12 , 13, 14 anos não têm estrutura para assumir relacionamentos prolongados e muito menos maturidade para a maternidade e paternidade.

Mas quando encontramos jovens que se gostam ou apaixonados, e a iniciação sexual acontece, em geral essa costuma deixar lembranças mais saudáveis do que para jovens que se sentiram forçados a fazer sexo, só para ter a ‘carteirinha de clubinho’.

Mas independente de estarem apaixonados, é necessário que as famílias conversem com seus filhos (as) de que relacionamentos podem, sim, ter começo, meio e fim. Para filhos de casais separados embora esse desejo de ‘felizes para sempre exista’, é mais fácil elaborar que relacionamentos podem acabar.

Prevenção

É fundamental a prevenção de doenças e de gravidez. É possível viver o afeto, o tesão, descobrir-se homem e mulher sem correr riscos. Afinal, uma gravidez pode mudar a vida do jovem que está começando a planejar estudo, carreira, etc.

Onde transar e a freqüência?

Esse é outro conflito a ser administrado pelas famílias, pois adolescente é dependente sim. Se esses pais se sentem à vontade para deixá-los namorar em casa, ou se a regra é de final de semana enquanto os pais saem ou viajam; o que não vale mais é eles fingirem que não vêem e não sabem ou então montarem guarda, controlando tudo o que os filhos fazem.

O mais saudável é que pais e filhos conversem franca e abertamente sobre sexualidade. Muitas adolescentes não vão ao ginecologista com medo de que seus pais recebam do convênio a lista de médicos consultados e aí venha a bronca.

De vez em quando encontramos uma mãe consciente que conversa e educa e dá condições de sua filha viver sua sexualidade sem culpa. Mas tem sido muito mais freqüente que a mãe do garoto, mais assertiva, pague a consulta do ginecologista para a namoradinha do filho.

Se você sofreu ou viveu sua iniciação sexual com culpa, medo, tudo no escondido e no proibido, procure rever esses fatos e tente ser uma mãe mais educativa. Não adianta ficar remexendo bolsa de filha, que é um hábito feio de invasão, ou controlando tudo que ela fala na Internet.

A sexualidade faz e fará parte da vida de todo mundo e não dá para fingir que esses filhos serão eternos bebês.

Uma boa orientação com ginecologista poderá auxiliar para que o sexo seja vivido adequadamente, com higiene e prevenção.

Vida sexual não tem regras

Não há uma regra para essa sexualidade ser vivida. Quando se começa um namoro eles querem se beijar o tempo todo. Não adianta você chegar com uma cartilha, muitos jovens transam quase diariamente. Quando pais trabalham fora o dia todo e ninguém mais fica em casa, é mais fácil isso acontecer. Mas a maioria consegue uma ou duas vezes na semana, apesar dos amassos e namoros intermináveis.

Mas é fato que desde sempre os jovens deram um ‘jeitinho’, e continuam fazendo isso. Se pais são proibitivos demais, muitas vezes eles acabam se expondo, nas escadarias de prédios, nas churrasqueiras e salas de jogos, saunas dos condomínios, ou ainda falsificando documentos para tentar ir a hotéis e motéis.

Não estou pregando que os pais devam aceitar tudo o que os filhos querem, mas que conversem e negociem.

Podem haver desentendimentos? Sim, muitas vezes os adolescentes são exigentes, briguentos e querem tudo do jeito deles.

Os pais devem saber até onde devem ser flexíveis e saber quando impor limites. Mas essa é uma regra que deveria ter sido aprendida pelos filhos (e pelos pais) desde a infância: negociar. E se em algum momento se perder o controle e infelizmente houver agressão física: sinal vermelho. É hora de parar, repensar e depois conversar. O afeto e o respeito na relação entre pais e filhos não pode ser perdido.

Agressões distanciam demais e muitas vezes causam danos afetivos muito grandes. Então, mesmo que você (pai e mãe) tenha certeza que a sua razão seja correta, converse, exponha suas idéias com clareza, não machuque e nem distancie ainda mais essa relação.