por Valéria Meirelles
Já foi exibida aqui no Brasil a série norte-americana Sex and the City – um sucesso de público dentro e fora dos Estados Unidos. O que mais chamou a atenção e conquistou tantos telespectadores, além das personagens belas, bem-sucedidas e ricas, foi a grande empatia surgida com cada uma delas, que representavam as milhares de personalidades femininas atuais.
Diferenças à parte, a alma dessas personagens acabou sendo o espelho para muitas mulheres na faixa dos trinta anos, que se reconheciam em cada episódio, nem sempre com finais felizes, assim como na vida real. E foi pensando nessas mulheres, solteiras, com suas carreiras e pactuadas com a vida, que escrevi esse artigo.
Daniel Levinson, pesquisador norte-americano que estudou o desenvolvimento adulto das mulheres, afirma que, para elas, mesmo as mais bem-sucedidas, a carreira não é parte central na estrutura de suas vidas e vem após amor, casamento e família.
As mulheres na faixa dos trinta anos já construíram uma determinada estrutura para suas vidas e se sentem comprometidas com essa conquista. Elas são mais seguras de si e felizes. As solteiras, como no seriado Sex and the City, continuam acreditando na importância e na necessidade de um relacionamento afetivo. Porém, elas o desejam de maneira diferente do tradicional, não há mais a necessidade do compromisso legal.
Essas mulheres já passaram por vivências dolorosas e frustrações afetivas que as ensinaram a almejar um relacionamento mais igualitário, pautado no respeito pela diferença e companheirismo. Elas também querem o romance, sentir "borboletas no estômago", mas suas histórias de vida as levam numa busca com outras referências.
Também por esses motivos, a Internet acabou se tornando um meio muito utilizado na busca por um novo relacionamento. Como muitas mulheres já tiveram experiências que não as supriram, elas muitas vezes se sentem abandonadas, desistem de conhecer pessoas na noite e tornam-se mais seletivas. E então, os sites de encontro favorecem uma procura mais acurada, facilitando, em parte, a vida amorosa.
No campo profissional, as mulheres de trinta continuam a progredir, sempre em busca de novos desafios, garantindo a satisfação pessoal e também a qualidade de vida. Elas cuidam da carreira como um bem precioso que lhes garantirá a realização de seus desejos e condições de vida adequadas.
Mesmo assim, profissionalmente as mulheres também vivenciam frustrações (uma não promoção, demissão ou "puxada de tapete") e por isso constataram que o ambiente de trabalho – onde chegam a passar mais de dez horas diárias – pode ser um laboratório do mundo em que aprendem a ter jogo de cintura, menos ilusões e mais sabedoria.
A visão de mundo dessas mulheres também se amplia e, mais humanizadas, elas constatam a importância da espiritualidade, do envolvimento em causas sociais e políticas, no intuito de deixar algum legado à sociedade.
Em paralelo, na vida pessoal, elas investem em viagens, cultura, hobbies, esportes e aventuras, apostando na multiplicidade de interesse e na aprendizagem constante. Nessa época, surgem muitos questionamentos, sempre pela busca do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Viver tudo isso não é fácil, e as mulheres se desgastam demais, pelo nível de cobrança que lhes é atribuído. E nessa história, entre equilibrar profissão com vida afetiva, encarar decepções e viver as novidades, as mulheres entram em conflito consigo mesmas.
O relógio biológico aponta que seu "prazo de validade" para gestação começa a se esgotar, seu corpo já não emagrece e se molda como aos vinte anos, e então elas se angustiam sobre o que é de fato melhor para elas: o modelo antigo e mais seguro, ou o modelo novo e mais emocionante, mais livre, porém instável, como as personagens do famoso seriado.
E então, com algumas defesas começando a enfraquecer, as mulheres de trinta fazem um balanço da vida profissional e afetiva, dos múltiplos papéis que desempenharam até o momento, e percebem que mudanças devem acontecer. Elas precisam criar um jeito próprio de viver a vida, um jeito para ser feliz.
A partir daí, as mulheres vão construindo as histórias das suas vidas compatíveis com seus desejos, onde elas são as diretoras e as personagens principais. Vão construindo uma forma de serem felizes dentro do possível e não do ideal.