por Edson Toledo
Síndrome do impostor: tendência do indivíduo não se considerar responsável por resultados positivos que obteve
Como se diz: o ano só começa depois do Carnaval. Assim, essa época ainda é propicia para reflexões e avaliações sobre nossos feitos e fracassos.
Porém, caso você não acredite que seu sucesso possa ser atribuído à sua própria capacidade, ou está convencido de que uma boa avaliação de seu desempenho deve-se apenas ao seu charme ou aos seus relacionamentos, ou ainda está convencido de que foi beneficiado simplesmente por um feliz acaso, está frequentemente comparando-se aos outros e duvida de sua própria capacidade…
Se os questionamentos acima surgem com frequência em pessoas que tenham um bom currículo e até um histórico de ótimo desempenho ao longo de sua vida, pode ser que elas e você tenham a chamada síndrome do impostor (do inglês, imposter syndrome). Inicialmente trata-se da tendência a não se considerar responsável por resultados positivos, atribuindo-os às circunstâncias externas (ao outro ou ao ambiente). A pessoa com essa síndrome, porém, vai além: ela se sente realmente, como se tivesse obtido o sucesso por meio de fraude e que não o merece. E, por causa disso, vive com medo constante de que alguém descubra sua suposta farsa.
Embora a síndrome do impostor não seja um transtorno psicológico reconhecido oficialmente, ou seja, não é classificado nos manuais de psiquiatria, ele tem sido comentado em livros e ensaios de psicólogos.
Foi no final dos anos 70 que a psicóloga Pauline Clance, da Universidade do Estado da Geórgia, em Atlanta, usou a expressão “fenômeno do impostor”. Segundo Clance, os pacientes que apresentavam essa manifestação tinham uma dolorosa consciência de suas fraquezas. Ao mesmo tempo, tendiam a não valorizar suas capacidades e por outro lado a valorizar os pontos fortes dos outros; assim, sempre se considerado em desvantagem na comparação.
Alguns pesquisadores como o psicólogo Scott Ross, da Universidade DePauw, em Greencastle, Indiana, conclui em 2001 que as pessoas afetadas pelo sentimento de que são uma fraude, de maneira geral, apresentam baixa autoestima, muitas vezes disfarçada por atitudes aparentemente arrogantes ou simpatia exagerada. Segundo descobriram as psicólogas Shamala Kumar e Carolyn Jagacinski, da Universidade Purdue, em West Lafayette, Indiana os achados citados por Ross estão associados à sensação frequentes de medo, sem causa específica.
Segundo Clance, o sentimento subjetivo de ser um farsante, em geral, surge pela primeira vez no início dos estudos universitários ou, ainda com mais frequência, no começo da vida profissional – uma fase em que mesmo pessoas acostumadas ao sucesso precisam lidar com exigências mais intensas. Muitas vezes, quem atravessou o período escolar sem grande esforço, não aprendeu a se preparar adequadamente para situações que dependam de seu desempenho e a atribuir seu sucesso à própria capacidade.
Acreditava-se que essa síndrome era mais comum entre as mulheres, especialmente mulheres bem-sucedidas em profissões tipicamente ocupadas por homens, mas foi recentemente demonstrado que não tem diferença entre gêneros.
A suposição da prevalência em mulheres levava a crer que o fenômeno também contribuiu para o fato de as mulheres ainda estarem raramente representadas em posições de ponta em sua vida profissional. Apesar de as mulheres terem, em média, melhores notas escolares e completarem os estudos com percentuais acima dos homens, aparentemente o sucesso parece imerecido para muitas delas. O tema, entretanto, ainda é controverso, carecendo de mais investigação.
A essa altura você já deve estar se perguntando…
Como é possível que pessoas que sempre conseguem ter bons desempenhos, muitas vezes até acima da média, não acreditem em suas capacidades?
Pois bem, os sentimentos associados à síndrome do impostor são provavelmente tão perseverantes por se estabilizarem em um circulo vicioso psíquico. A ideia é que para que “a fraude não seja revelada” em uma situação que dependa do desempenho, como, por exemplo, uma prova, as pessoas adotam uma entre duas estratégias:
Fazer demais (overdoing), onde se preparam de forma exageradamente longa e intensiva para uma situação onde seu desempenho será avaliado, elevando assim a probabilidade de obterem um bom resultado. E, se isso ocorre – e geralmente ocorre – atribuem o sucesso não a sua capacidade, mas ao grande esforço. Ao mesmo tempo, têm consciência de que não poderão sempre empenhar-se, o que reforça o medo de não conseguir resultado semelhante no futuro.
Fazer de menos (underdoing), neste caso ao contrário do anterior, as pessoas se preparam pouco ou tarde demais para uma situação de avaliação e, ao invés disso, se ocupam de outras coisas. Esse comportamento foi denominado de “self-handicapping” pelo psicólogo social Edward Jones, uma referência àqueles que colocam pedras no próprio caminho na medida em que pouco se esforçam ou rejeitam ajuda ofertada, protegendo-se, no caso de insucesso, de ter de atribuir o fracasso a si mesmo, cultivando assim a crença de que teriam conseguido se realmente quisessem. Dessa forma, porém, sabotam o próprio desempenho.
Síndrome é reversível, saiba como lidar com ela:
1º) O que é sabido é que um dos caminhos possíveis para reverter essa forma de lidar consigo mesmo e com os desafios, é fortalecer a autoestima, o que ao mesmo tempo poderá diminuir o medo e a tendência à invalidação de si.
2º) Outra forma são exercícios práticos para aprender a reconhecer e valorizar suas realizações pessoais, como por exemplo, fazer listas dos próprios pontos fortes e rever situações em que a pessoa teve sucesso, destacando as qualidades que a favoreceram em cada ocasião. Isso pode ser muito útil.
3º) Por fim um acompanhamento psicoterápico que favoreça a elaboração de conflitos antigos que alicerçam as crenças equivocadas sobre si mesmo. Isso pode ser fundamental para poder rever posturas e formas prejudiciais de lidar consigo mesmo.
Para finalizar, se na síndrome do impostor as pessoas competentes não conseguem acreditar nas suas próprias competências, o seu oposto, é o Efeito Dunning-Kruger, onde pessoas incompetentes não conseguem ver as suas próprias incompetências. Essas pessoas sofrem de superioridade ilusória. Mas como eu costumo dizer, essa é outra história, assim ficará para uma próxima vez.