Como é gostosa uma relação bilateral, de interesses conjuntos, planos e ações executados em mútua colaboração. Conscientemente, todos desejamos isso, mas sabemos que nem sempre as coisas se desenvolvem assim. Vemos muitos casos em que a relação é constituída de um dominante e um dominado e isso nada tem a ver com sexo, no sexo a condição é predeterminada, digo na vida em casal, na convivência a dois.
Em consultório é comum queixas de não se ter voz ativa na relação, de se sentir constantemente usado. Noto uma enorme frustração, um sentimento constante de sufocamento, diminuição da autoestima e do desejo de realização pessoal, deixando assim de viver para si.
Por que quem domina é o mais fraco
As diferenças entre o casal devem ser discutidas em pé de igualdade. Devemos sempre ponderar na balança sobre o que eu quero e do que penso sobre o melhor para o outro. Assim criam-se condições para uma relação equilibrada. Se anular por alguém nunca é sadio. Ao contrário do imaginário popular, o dominante é o elo mais fraco da relação, este sempre precisará de alguém para impor suas vontades, exercer seu poder, e quando contrariado, a reação é colocar o outro para baixo, muitas vezes com ofensas, manhas e manipulação ou seja fazer o outro se sentir mal por não lhe servir, por não ouvir e agir de acordo com o que lhe é dito. Mas imagine, sem o dominado o dominante não tem nada, ele sempre vai precisar de alguém para impor sua influência.
O dominado por sua vez normalmente repete padrões, agindo com base em informações que foram absorvidas desde o início da convivência familiar. É muito comum que esse comportamento nasça no berço, do exemplo familiar que modula em muito a personalidade.
Recebo casos que no início da terapia a pessoa se queixa por não conseguir encontrar ´´uma boa pessoa´´, um companheiro que não lhe exerça domínio, sendo que no decorrer das sessões o analisando começa a entender essa repetição por um padrão que encanta sem notar essa busca por relações pareadas em exemplos familiares; há sempre uma esperança pela mudança no comportamento do parceiro, como um vício em se vitimizar por toda essa dedicação, esses vestígios de relações mal resolvidas trazem um alto grau de sofrimento.
Na psicanálise o exercício da regressão acaba sendo extremamente útil nessas situações. Na regressão trazemos atenção às origens do comportamento e quando a informação começa a se tornar clara, começamos a evidenciar um distanciamento, por vezes, até repulsa pelo antigo padrão de comportamento ao sinal que a pessoa finalmente começa a se sentir livre.
Exercício de autoconhecimento
Sugiro ao leitor que se sente em condição similar, um tempo, um local tranquilo, procure manter-se o mais calmo possível, deite-se, feche os olhos e exercite a mente trazendo lembranças de todas as relações vividas, desde as familiares… Pegue cada relação, indo do passado ao presente, e escreva sobre o que sentiu em cada fase, reflita e busque por mudanças em você. Se precisar de ajuda busque um profissional.